ANJOS, DEMÔNIOS E FORÇAS CEGAS
Por Frater Goya
Do Livro Enochiano, Magia Angelica
É comum à magia medieval, a utilização de termos como anjos, demônios, potestades*, etc.. Esse tipo de terminologia acaba por sempre definir as energias como boas e ruins ou bem x mal, o que na verdade é um grande engano. A melhor forma de separar e classificar esses seres, a nosso ver, começa de forma bem simples. Em primeiro lugar, acho importante apenas separar, como faria Castañeda, em seres inorgânicos e não como seres apenas espirituais. A leitura como seres inorgânicos facilita, porque acaba tirando o sentido religioso inerente ao tema. Logo, definimos como seres inorgânicos, todos os seres que não tenham uma proveniência orgânica, ou seja, não possuem vida conforme classificamos pela química e pela biologia. Para ser considerado “orgânico”, um ser deve possuir átomos de carbono, hidrogênio, oxigênio e nitrogênio. Como no caso dos seres “espirituais” isso não acontece, a classificação de seres inorgânicos nos parece bastante apropriada.
A partir daí existe ainda uma outra classificação a se fazer. Esses seres inorgânicos, de acordo com sua natureza, não possuem como tanto ouvimos falar, uma polaridade (bem/mal). Em verdade, seriam mais bem definidos apenas como forças cegas. O que seria uma força cega? É uma força isenta de polaridade que pode ser direcionada pelo magista. O melhor exemplo a indicar é o de um automóvel. O mesmo pode ser usado apenas para transporte, ou para matar uma pessoa atropelada. No primeiro caso, é uma ferramenta boa. No segundo, nem tanto. Logo, a ação do ser evocado depende da mão diretora do magista.
Mas se é assim, como durante tanto tempo se falou em bem e mal? Sem perder nossa proposta de vista, explicamos de maneira bastante simples. O bem ou mal de um ser inorgânico depende de sua capacidade de provocar danos. Exemplo: Qual a maior probabilidade de me acidentar ou machucar? Tomando água ou bebendo ácido? Ambos são de natureza líquida, mas o primeiro beneficia minha existência, o segundo interrompe. Ou seja, a capacidade de provocar danos do ácido é muito maior que da água, embora a água também possa me matar afogado. Mas potencialmente o ácido seria, digamos assim, mais maléfico que a água para o organismo humano. Logo, os seres evocados pela Magia Enochiana são seres`inorgânicos e d e natureza cega, ou seja, não possuem uma propensão natural para o bem ou para o mal, como desejam alguns.
Abaixo, eu gostaria inclusive de citar um trecho de um diário, das operações realizadas nas práticas do Livro dos Espíritos Enochianos em Janeiro de 2004:
Curitiba, 29 de Janeiro de 2004.
An IV xii Sol 9° Aquarius Luna 19° Taurus Dies Jovis Entardecer
– Como fazer? Existe um elo?
– Não Goya, não te preocupes à forma. Mais que a forma, é necessário vibrar corretamente.
– Vibrar os nomes?
– Não. Se fôssemos esperar uma vibração correta, jamais saberiam de nossa presença.
– Mas qual é a vibração?
– Tu bem o sabes. Não te enganes. Primeiro, deves ´sintonizar´, buscar o ritmo correto, pelo qual o universo inteiro vibra. Depois, deves ser tão fluido quando o próprio universo. Deves seguir essas vibrações.
– E o que são essas vibrações?
– Elas vem do centro infinito do universo.
– Vem de Deus?
– Não como pensas. Deus não é um ser ou uma energia. No teu estreito entender, pode-se dizer que Deus é mais uma causa, do que a coisa em si.
– Como assim? Somos o desejo de Deus?
– Não. Ele não deseja mais nada. Quando no início, antes de tudo, nem Deus existia. Era apenas esse nada, como dizem, potencial. Ou o nada germinal. Num dado momento, esse nada gerou sua primeira mutação: Deus.
– Então não havia Deus antes?
– Não. Ele mesmo foi gerado. A causa Deus é fruto do nada inicial. E como a própria causa ignora o que havia antes, não há como saber o que a causou.
– Mas e tudo o que sabemos, tudo que a própria qabalah atesta?
– Estão todos errados. Muitos chegaram bem perto, mas interferiram dando sua própria interpretação.
– Então saberei da verdade? Por que estarei mais certo?
– Não estará. Como sabes que é a verdade? Tudo que é dito, é dito de uma forma que compreendas, mas isso não é a verdade.
– Então de que adianta saber? Qual a utilidade disso?
– Tu perguntaste. Somente respondi a questão. O objetivo do ritual que fazes, é nos evocar para teres informação e auxílio, não para darmos sentido à tua vida. Se ainda não sabes o que fazer dela, não devias te arriscar aqui.
– Não pedi sentido, pedi utilidade.
– Tiveste a resposta. Agora, deves ir atrás do sentido por ti mesmo, ou isso de nada valerá.
– Certo. Farei como dizes, mas continua. E depois de Deus o que aconteceu?
– Essa causa também mudou. E sua mutação expandiu-se tanto que superou o próprio ser. E dessa expansão veio tudo o que existe. Essa causa se expandiu tanto, que não sabemos hoje se ela deixou de existir ou se ainda estamos dentro dela. Por isso, Deus ou a Causa, não é uma coisa unidade ou uma coisa energia. Está em todas as coisas, mas ignora a si mesmo.
– Quem sabe a verdade?
– Todos sabemos. Mas é tão grande que nem todas as mentes juntas conseguem conceber a realidade de Deus.
– E o que isso tem a ver com a vibração?
– Tudo é vibrado. Nisso quase todos estão certos. Tudo vive. Quando, de alguma forma, casual ou provocada, entras em contato com essa energia de fundo, abandonas temporariamente tuas
limitações e fazes parte desse todo vibracional. Nesse estado, tudo pode acontecer.
– Certo. Mas, se Deus é a causa, se nem ele existe mais, como tanta gente pode ser atendida em orações?
– De alguma forma, essas pessoas entram nesse estado vibracional e conseguem manipular a energia em si. Mas devido à sua limitação, acreditam em algo externo, um Pai.
– Então não há Deus?
– Não como pregam as religiões. Tampouco como alegam os místicos ou os cientistas. Se Deus é Pai, é como causa geradora, não como a concepção de um Criador que age sobre alguma coisa.
– Então quem são os nomes nas evocações que estou fazendo?
– São apenas meios para atingir a vibração. Ninguém responde por eles, a não ser o centro infinito. Por isso são nomes santos e puros. Porque vibram em consonância com o meio do universo.
– Se são apenas nomes, por que funcionam?
– Porque estabelecem contato com o centro.
– Podem ser mudados?
– Podem, mas não por ti.
– Quem pode?
– Alguém mais competente. Mas aviso que não há no momento, alguém que possa mudar.
– Por que me contaste isso tudo?
– Porque perguntaste.
– Qual teu nome?
– Alegere.
– E existe na tabela?
– Procura.
– Você está indo embora?
– Estou.
– Porque os outros não falaram os nomes e só você?
…
Noite 01:00 An IV xii Sol 9° Aquarius Luna 18° Taurus Dies Veneris
Como o ritual anterior foi extremamente desgastante, não fiz o 3º do dia.
Procurei o nome de ALEGERE pela tabela da união. Procurei a combinação das consoantes e encontrei na tabela de água,
A | A | R | ||||
S | L | G | A | I | O | L |
O | I |
Forma uma letra ´U´ com seu sigilo. Além disso, encontrei uma assinatura, do 3º Governador de Lil, que inclui essas letras.
Notas:
* É o Coro Angélico formado pelos Santos Anjos que transmitem aquilo que deve ser feito, cuidando de modo especial da “forma” ou “maneira” como devem ser feitas as coisas. Também são os Condutores da ordem sagrada. Pelo fato de transmitirem o poder que recebem de DEUS, são espíritos de alta concentração, alcançando um grau elevado de contemplação ao Criador. – N.A.