Por Frater Goya
Recentemente, foi publicado em uma página o Rubi Estrela com informações equivocadas a respeito do mesmo. Fiz alguns comentários a respeito no local devido, mas os comentários não foram ao ar. Então, me vejo na obrigação de explicar melhor o ritual e alguns equívocos históricos que ainda permanecem.
1º – Crowley teria dito que o Rubi Estrela era um substituto do Ritual Menor do Pentagrama (equívoco):
2º – Crowley nunca disse que o dele seria melhor que o RmP. O termo usado foi “versão aprimorada”.
Referências:
O que Crowley escreveu no Liber CCCXXXIII foi “25 is the square of 5, and the Pentagram has the red colour of Geburah. The chapter is a new and more elaborate version of the Banishing Ritual of the Pentagram. It would be improper to comment further upon an official ritual of the A∴A∴ “
Traduzindo: “25 é o quadrado de 5, e o Pentagrama tem a cor vermelha de Geburah. O capítulo é uma versão nova e mais elaborada do Ritual de Banimento do Pentagrama.
Seria impróprio comentar mais sobre um ritual oficial da A ∴ A ∴“
http://hermetic.com/crowley/libers/lib333.html
E o apêndice do Liber IV (ABA) – Magick in Theory and Practice possui apenas o roteiro de consecução, sem comentários adicionais aos citados acima.
http://www.sacred-texts.com/oto/aba/aba.htm e o apêndice VI – http://www.sacred-texts.com/oto/lib25.htm
Na página do CIH, colocamos uma versão comentada do Rubi Estrela bem detalhada, onde se explicita as diversas hipóteses do ritual.
https://cih.org.br/?p=386&wpfb_cat=5#wpfb-cat-5
Citação completa de Crowley sobre o RmP é: “Aqueles que consideram este ritual como um mero dispositivo para invocar ou banir espíritos são indignos de possuí-la. Corretamente entendida, é a medicina dos metais e a Pedra do Sábio “. (O Palácio do Mundo) “Não desprezes o desempenho do Ritual do Pentagrama.”
– Aleister Crowley, Liber Aleph
Sobre a Briga Crowley x Mathers
Crowley defendeu Mathers de Yeats na briga sobre a chefia do Ísis Urânia, Templo mais importante da Golden Dawn em Londres à época.
O criador da cisma entre Mathers e Crowley que acontece posteriormente foi o Westcott (um dos membros fundadores da Golden Dawn). Existem inúmeras versões sobre uma batalha mágica envolvendo demônios entre ambos que deixou Londres 3 dias em trevas, mas sempre infundadas.
Quando começou o processo da Madame Hórus, que foi o que selou o destino da GD em 1902, Crowley escreveu a Westcott dizendo algo assim:
“Eu tenho grana pra limpar a barra e acabar com o processo. Basta o Mathers aceitar a minha proposta que tudo fica bem. Em troca, quero os manuscritos originais da GD (que ele ja havia copiado, como todos os membros faziam naquele tempo), em caso de negativa, eu publico o que ja tenho aqui anotado (o que acontece depois no Equinox). Nessa ocasião, Crowley já sabia da falsidade dos Manuscritos Cifrados, e queria expor Westcott.
Citação de Crowley em carta a Westcott —> “Caro Senhor e Irmão, (…) Permita-me recapitular (…) O senhor está ou esteve de posse (ou, melhor dizendo, incumbido) dos manuscritos cifrados sobre os quais as ordens de R.R. et A.C. e A.D. foram fundadas (…) Preservando a confidencialidade e a inacessibilidade desses manuscritos, o senhor tornou possíveis tais crimes e, consequentemente, tornou-se cúmplice (…) Portanto exijo que o senhor faça uma declaração clara dos fatos de como os manuscritos chegaram às suas mãos, e que os mesmos, apresentados através de tal declaração, sejam entregues aos Curadores do Museu Britânico (…) Assim, creio que nós dois poderemos provar sua autenticidade (…) Por essa ocasião, assim como agora, darei ao senhor total oportunidade de apresentar sua própria versão dos fatos (…) quanto às falsificações das quais seu colega o acusou (…) Se tal procedimento o desagrada, saiba que o senhor é o único culpado (…)” (págs 96-97)
Westcott viu ai a chance de se livrar de 3 coisas ao mesmo tempo
* A GD, porque ele ja tinha deixado a GD pela maçonaria e teosofia que eram mais aceitáveis socialmente, ja que ele era Coroner (Legista) da Coroa.
* Mathers, que era um falido e mal falado por causa das coisas da Golden Dawn, que naquela época já tinha sido vítima de inúmeros escândalos.
* E Crowley que pra ele sempre foi um problema.
O que Westcott fez? Não respondeu a carta e não passou ao Mathers.
Daí, crowley assumiu que Mathers virou as costas pra ele, e dai vem o lance do Equinox, guerra mágica, etc.
E porque Westcott faria isso? Especulo que foi ele quem forjou os manuscritos cifrados (existe ampla documentação disso, apresentado por Ellic Howe em “The Magicians of the Golden Dawn“). Ele usou o Mathers como laranja para dar legitimidade aos mesmos, a partir da tradução dele (Mathers) dos tais manuscritos, mas ele nao contava que isso viria à tona. Só que Yeats e mais uma turma, viram que tinha algo errado e começaram a investigar, chegando a descobrir que o Westcott mandava os manuscritos de Londres pra um amigo na Alemanha que mandava de volta em outro envelope. Obviamente, todas as cartas da Frau Sprengel já iam também escritas e assinadas. Então, ele sabia que ia estourar no rabo dele isso cedo ou tarde. Dai ele se bandeou pra Teosofia e largou o Mathers com a bomba. Mathers defendeu até o final (até porque ele também foi lesado e não queria acreditar que foi trouxa).
Aqui, seguem-se algumas citações que clareiam o entendimento do assunto:
“Os manuscritos criptografados, que mascaravam um texto totalmente em inglês, estavam escritos com tinta marrom em folhas de papel antigo, com marca d’água; de 1809 (…) elimina qualquer possibilidade de que o texto seja anterior a 1870, aproximando-o de 1880 (…) Westcott não fora esperto o suficiente para engendrar uma boa história sobre o manuscrito.” (pág.34)
“As dúvidas sobre as cartas de Sprengel e os manuscritos criptografados surgiram entre os membros da Ordem, mas não foram expressadas até 1900 quando Mathers, em uma carta (…) informava a Florence Farr que Westcoot: NUNCA teve contato, em qualquer época, tanto em pessoa, quanto através de comunicação escrita, com os Chefes Secretos da Ordem, ele mesmo tendo forjado ou mandado forjar a declarada correspondência entre si e os outros, e minha língua esteve atada todos esses anos devido a um antigo Juramento de Sigilo feito a ele, exigindo por ele, antes de demonstrar-me o que fizera e causara. Deve compreender, pelo pouco que digo aqui, a extrema gravidade de tal assunto e, novamente, peço-lhe, tanto para a segurança de Westcott quanto da Ordem, que não me force a dizer mais nada a esse respeito.” (pág.34)
“Westcott poderia ter-se defendido com mais veemência — possuía uma série de depoimentos ao aparente recebimento de cartas de Anna Sprengel e sua primazia na Ordem —, mas escolheu não fazer uso disso. Limitou-se a dizer a W.B.Yeats, designado para aproximar-se dele, que “falando legalmente, creio que não posso provar os detalhes da origem e conhecimento da história da Aurora Dourada, portanto, não seria justo nem prudente que endossasse suas opiniões sobre o assunto.” (pág.57)
“Mas por razões que nunca deixou claras (…) Westcott não fez uso desses depoimentos e recusou-se a defender-se das acusações de Mathers. Se ele tivesse rebatido as acusações de falsificação, voltando a ter um papel efetivo na Ordem, todo o furor, sem dúvida, teria se dissipado. Forçosamente, Mathers ainda teria sido rejeitado mas a Aurora Dourada teria permanecido intacta.” (págs 87-88)
Definitivamente, Westcott queria apenas defender a si mesmo, e queria se livrar tanto de Crowley como de Mathers, e a situação de 1902 ofereceu a oportunidade perfeita para isso. Westcott temia perder seu posto de Oficial da Coroa. Conforme podemos ver a seguir:
“Citação de Westcott em carta a Cadbury-Jones—> “Caro Cadbury-Jones, (…) Sei que M, disse a uma certa pessoa que duvidava da autenticidade de minhas cartas da Alemanha, assinadas Sap. Dom. Ast., mas não sabia que ele, na realidade, escrevera e enviara tal acusação de falsificação, nem tampouco sonhava que C. ouvira falar da acusação.
A citação de Crowley, sobre a verdadeira carta de Mathers dizendo que eu forjara correspondências não pode vazar. A acusação poderia ser repetida em qualquer matutino e o Conselho da Comarca de Londres poderia me procurar por acionar tanto M. por escrever e C. por editar o libelo e eu estaria arruinado.” (pág.93)
Os Manuscritos CifradosRascunho do RItual Menor do Pentagrama Folio 22.
Rascunho da Rosacruz Hermética Folio 48
Rascunho do Hodos Chamaleonis (o pré 777, de onde Crowley tirou a ideia para o seu famoso livro)
Sobre o Manuscrito Cifrado, ainda vale saber algumas informações extras:
(…) Westcott assumiu seu posto e conseguiu, com sua viúva, todos os documentos relevantes para o ritual, junto com alguns “papéis perdidos”. Esses eram, nada mais nada menos, o Manuscrito Cifrado” (pág.8)
“Portanto, a fim de Westcott satisfazer seu desejo de criar uma órdem esotérica atuante que oferecesse rituais assim como instrução (…) precisava criar algo inteiramente novo (…) Em março de 1888, Westcott finalmente produziu tal criação: a Hermética Ordem da Aurora Dourada” (pág.9)
“(…) mas esses são os fatos significantes: os manuscritos criptografados nas mãos dos primeiros adeptos, o suposto Templo de Hermanúbis e a autoridade dos primeiros adeptos alemães — embora a pergunta de como Westcott conseguiu os manuscritos e o que o levou à “Soror Sapiens Dominabitur Astris” (….) — foram assuntos de muitas e infrutíferas especulações. Quando pressionado, Westcott apresentou uma cópia de uma carta supostamente escrita pelo Reverendo A.F.A. Woodford (…) sobre a Preleção Histórica (…)” (pág.29)
Portanto:
1 – Vemos no artigo um comentário: “(…)em 1929 Crowley estava em guerra de egos com a Golden Dawn e, obviamente, colocou seu ritual como a última bolacha do pacote”. Pra começar, não foi guerra com a GD, nem briga de egos, etc, Pois em 1929 não apenas a situação estava resolvida, como Mathers havia falecido em 20 de novembro de 1918, vítima da Gripe Espanhola. E a Golden Dawn já havia se dissolvido em inúmeras ordens, como The Hermetic Brotherhood of Luxor, Stella Matutina, Builders of the Adytum (BOTA), The Brotherhood of the Inner Light, etc., tornando qualquer briga de egos, sem sentido.
2 – No citado artigo, é dito: “Este é um dos rituais oficiais da Astrum Argentum, publicado pela primeira vez em 1913 e descrito por Crowley como sendo “Uma nova e mais elaborada versão do Ritual Menor do Pentagrama, que superava em muito todos os rituais apresentados antes dele” (Chapter XXV of Liber CCCXXXIII).”
No entanto, O Ritual Rubi Estrela foi publicado em 1913 e não em 1929. 29 foi revisão. E em 1913 o stress já havia passado. O RmP não era da GD pra ele criar outro e criticar a GD. Todos sabemos que o RmP vem do Sidur Hebraico. Em suma, ele não fez um em detrimento do outro. E conforme visto acima, Crowley nunca disse que o Rubi Estrela superaria o RmP na sua versão original. O Rubi Estrela é uma variante do RmP apenas banindo. Talvez até por isso não seria melhor ou um substituto do RmP usado na Golden Dawn.
3 – Sugerimos a leitura do Rubi Estrela comentado que está no site do CIH para download em: https://cih.org.br/?p=386&wpfb_cat=5#wpfb-cat-5
Bibliografia:
Livro: Revelações da Aurora Dourada (Golden Dawn) – O Esplendor de uma Ordem Mágica, de R.A.Gilbert, Editora Madras, ano (não informado), São Paulo.
http://hermetic.com/crowley/libers/lib333.html – Liber Aleph
http://www.sacred-texts.com/oto/aba/aba.htm – Magick In Theory and Practice, e o apêndice VI – http://www.sacred-texts.com/oto/lib25.htm
https://cih.org.br/?p=386&wpfb_cat=5#wpfb-cat-5 – versão comentada do Rubi Estrela bem detalhada.
http://www.ordoaa.com.br – Astrum Argentum (Site Oficial)