Por: Frater Amduscias (Marcel Luiz Pabst)
“O Adepto que trilha a Senda caminha sobre o fio de uma navalha.”
Não pode precipitar-se a passos largos, pois o menor descuido é fatal. Igualmente, não pode caminhar de volta, uma vez que retroceder é loucura, e olhar para trás, impossível.
Assim como o curso de um rio, segue em direção ao Mar. E é assim, como um rio, e não como uma enxurrada violenta, que ele esculpe a montanha, em seu curso.
Aqueles que começam a enveredar-se pelos mistérios maiores devem ser capazes de atentar tanto para dentro de si, quanto para o Universo que os cerca. O ponto de equilíbrio é tão sutil quanto dificultoso de ser obtido, e uma das chaves para este é a PERSEVERANÇA.
A perseverança é como uma planta: necessita de atenção e cuidados. Uma bela flor requer água e sol em quantidade exata; minerais e adubos de tempos em tempos; paciência e perseverança. Ora, todos estes processos só podem ser mantidos com dedicação e amor.
Da mesma forma, este processo pode ser observado em relação à Jornada. A cada ano que passa, vemos muitos que começam avidamente, cuidando de seus jardins e gritando aos quatro ventos quão belas serão suas flores. Mas aos poucos seu jardim é tomado pelo mato. As flores sequer estão em botões, e já não recebem mais água ou estão murchas pelo sol em demasia. Isso, quando não são sufocadas pelas ervas daninhas…
Querer ou planejar ter um jardim é simples. Montar jardins à esmo, sem nenhum planejamento é igualmente fácil. No primeiro caso, se não for executada, a idéia morre no projeto. No segundo, extingue-se pela falta de cuidado e dedicação.
Cada um de nós tem facilidades, habilidades, ou dons, que podem ser analisados através dos elementos. Alguns tem mais afinidade com o elemento água; outros, com a terra ou fogo. Em maior ou menor grau, portanto, todos nós enfrentamos dificuldades ao lidar com nossos elementos em carência. O Adepto sabe disso, e ali embasado, busca o equilíbrio.
Pessoas aéreas concebem o mais belo jardim em minutos, mas não saem do projeto; os ígneos, não perdem tempo em iniciar dezenas de jardins ao mesmo tempo, porém nenhum é terminado – e por aí seguem os exemplos.
Quando nos empenhamos em algo com paciência, perseverança e amor, somos capazes de transcender estas carências. Quando aceitamos os erros como parte do aprendizado, e as dificuldades como motivações, o resultado é certo: sucesso. Devemos sempre nos lembrar de que as melhores espadas são forjadas no calor do fogo, sob o peso de centenas de marteladas. Da mesma forma, a vida que não tem dificuldades é uma vida estagnada e sem valor.
Sempre que ouvimos a palavra DOR, lembramos de algo ruim. Mas isso só acontece por causa de uma visão simplista, característica do mundo ocidental. Nos esquecemos de olhar o outro lado da moeda… e assim, não percebemos que o crescimento é dor. Que o nosso professor não são os momentos de felicidade, mas sim os de dificuldade.
É somente através de práticas contínuas (e exaustivas) e da observação interior, que poderemos fazer nossa perseverança ter valor verdadeiro. E assim, através deste proceder, que aparentemente nos acorrenta, é que estaremos caminhando para uma verdadeira liberdade, e alçando vôos cada vez mais altos na direção do horizonte.