Por: José Augusto Carvalho
Foi o meu sábio e grande mestre Isaac Nicolau Salum que, em sua tese de doutoramento A contribuição lingüística do Cristianismo na România antiga (São Paulo: USP, 1954), e na tese seguinte, A semana astrológica e a judeo-cristã: introdução à problemática da nomenclatura semanal românica (São Paulo: USP, 1967), me ensinou como se deram os nomes dos dias da semana nas línguas conhecidas. Baseio-me parcialmente aqui em seu estudo.
Os planetas conhecidos, por ordem decrescente da distância da Terra, eram os seguintes, na época do império romano: Saturno, Júpiter, Marte, Vênus e Mercúrio. Se iniciarmos a contagem pela Lua e pusermos o Sol no centro do sistema, teremos a seguinte ordem astrológica: Saturno, Júpiter, Marte, Sol, Vênus, Mercúrio e Lua.
O quatro representava o mundo com suas coisas terrenas. Quatro são as divisões da Terra, quatro são os ventos, quatro são os elementos, etc. O quadrado era o símbolo da perfeição, por ser sempre igual de qualquer lado por que é visto. Por isso, conta-se até quatro, a partir de Saturno, inclusive, até chegar ao Sol e temos o primeiro dia (Sunday); a partir do Sol, inclusive, conta-se até quatro e chega-se à Lua (Monday, lunes, lundi, lunedi); a partir da Lua, inclusive, conta-se quatro até Marte, portanto: mardi, martes, martedi. E assim por diante. Assim, o domingo é o dia do Sol; segunda-feira, o da Lua; terça-feira, o de Marte; quarta, o de Mercúrio; quinta, o de Júpiter (jeudi, jueves, giovedi); sexta, o de Vênus (vendredi, viernes, venerdi). Sábado é o dia de Saturno (Saturday).
Em inglês, Marte foi substituído por Tyw, o deus maneta da força e da guerra na mitologia nórdica (Tuesday). O dia de Mercúrio em inglês foi consagrado a Odin ou Wedin (na mitologia escandinava) ou Wotan, equivalente a Zeus, entre os germanos (Wednesday). O dia de Júpiter, quinta-feira, foi substituído por Thor, filho de Odin, na mitologia escandinava, ou o deus do trovão (que se traduz por Donner, donde Donnerstag, em alemão, para a quinta-feira). Assim Thursday significa “dia de Thor”, em inglês. A sexta-feira era destinada à deusa Freya, esposa de Odin, deusa da juventude, do amor e da morte, na mitologia nórdica (daí o Freitag alemão ou o Friday inglês). Tag, em alemão, é dia.
O nome sábado vem do hebraico Shabbath, que significa “repouso”. Para os hebreus, sábado é o sétimo dia da semana (que começa, portanto, no domingo). Para os cristãos, o último dia da semana é o domingo (de dies Dominica ou dia do Senhor). Senhor é traduzido por dominus (o senior latino, que deu senhor, significa “o mais velho”, donde “senado”, isto é, conselho de anciãos). De dominus temos dominar, dom, dona, donzela (de dominicella, senhorita, que deu origem ao “demoiselle” francês).
Os nomes em português têm outra origem. Vêm da feira que faziam os agricultores medievais que se reuniam no adro das igrejas a cada domingo (a primeira feira). É da expressão filius ecclesiae (filho da Igreja, da Assembléia) que se originou o nome “freguesia”, inicialmente de cunho apenas religioso (ainda em voga, quando se diz “freguesia de Santa Rita”, “baixar noutra freguesia”, etc.). O dia seguinte ao domingo era o da xepa, o da segunda-feira… E feira ficou sendo o nome dos outros dias.
Essa é a origem dos nomes dos dias da semana.