Aula 15 – Os Amantes (Arcano VI)

Por: Frater Goya (Anderson Rosa)

Uma das cartas mais mal compreendidas do Tarot, Os Amantes (VI). Ela é atribuída a Zain, a Espada.E é sob um arco de espadas que o casamento Real acontece. Ora, que casamento é esse?

Esta carta, fala do casamento alquímico, entre anima e animus. São “as Bodas Alquímicas de Cristian Rosenkreutz” que acontecem nesta carta. Para mais detalhes, seria interessante buscar esse famoso manifesto rosacruz do século XVII. Vejamos: essa carta é atribuída à espada que corta, divide. E ao mesmo tempo, a um casamento? Sim, eis um dos segredos da mesma, pois a espada separa, Solve, e o casamento une, Coagula. Logo, o SOLVE ET COAGULA alquímicos.

Junto com o Arcano XIV (A Arte), as duas cartas descrevem o processo envolvido no Grau IX da OTO. Falam da separação do ser para sua reconstrução. É o processo indicado no Z3 da Golden Dawn, onde o pequeno Eu é separado do Eu Superior pelo processo da iniciação, para que depois se juntem novamente.

Na carta podemos ver a figura de Adão e Eva, sendo unidos em matrimônio pela figura do hierofante que estende sobre eles o Líber Mundi, e com as mãos faz o Sinal do que Entra, despertando as energias da Criação. Essa é a primeira carta do Tarot onde mais de uma figura humana aparece. Trata-se da Criação do Mundo.

A forma original da carta é descrita pelo Líber 418: “Há uma lenda assíria de uma mulher com um peixe e há também uma lenda de Eva e a Serpente, pois Caim era o filho de Eva e a Serpente, e não de Eva e Adão; e, portanto, quando ele assassinara seu irmão, que foi o primeiro assassino por ter sacrificado coisas vivas ao seu demônio, Caim recebeu a marca em sua fronte, que é a marca da Besta referida no Apocalipse e o sinal da iniciação.

 

O derramamento de sangue é necessário pois Deus não ouviu os filhos de Eva até que o sangue fosse derramado. E isto é religião externa; mas Caim não falou a Deus nem recebeu a marca de iniciação sobre sua fronte, de sorte que fosse evitado por todos os homens, até que tivesse derramado sangue. E este sangue foi o sangue de seu irmão. Este é um mistério da sexta chave do Tarot, que não deve ser chamada de Os Amantes, mas sim Os Irmãos.

No meio da carta posta-se Caim; em sua mão direita está o martelo de Thor com o qual ele assassinara seu irmão, e está todo tinto de seu sangue. Sua mão esquerda ele mantém aberta como um sinal de inocência. Sobre sua mão direita está sua mãe Eva, ao redor da qual a serpente se enrosca com seu capelo desdobrado atrás da cabeça dela, e sobre sua mão esquerda encontra-se uma figura um tanto semelhante a Kali indiana, mas muito mais sedutora. Todavia, eu sei que é Lilith. E acima dele está o Grande Sigillum da Seta, voltado para baixo, atingindo o coração da criança. Esta criança é também Abel. E o significado desta parte da carta é obscuro, mas este é o desenho correto da carta do Tarot; e esta é a fábula mágicka correta da qual os escribas hebreus, que não eram iniciados completos, furtaram sua lenda da Queda e os eventos subseqüentes.”

Embora a espada seja símbolo por excelência da mente racional, neste caso ela trata de um simbolismo que só será plenamente esclarecido no Arcano XIV (A Arte). Todas as energias aqui estão latentes, representadas pelo ovo envolvido pela serpente, símbolo do conhecimento superior. É a mente analítica aliada ao poder de síntese do ser humano.

Essa carta está relacionada com a Vontade, pois ela parte do princípio da ação de um indivíduo sobre seu destino. Mesmo na figura do Cupido, que está acima da carta, na sua aljava possui gravada a palavra Thelema. Crowley nos indica que o cupido será a influência de Binah sobre Tiphareth, sendo símbolo da inspiração.

A busca pelo complemento e pela unidade é a tônica desta carta regida pelo signo de gêmeos. Embora existam vários caminhos, apenas o caminho que conduz ao coração é o mais acertado. Quando a necessidade de separar diminui, a união das partes acontece por conseqüência naturalmente, como num processo de aglutinação. Ambos são um só, embora na prática tenham a ilusão de serem separados.

Esta carta possui muitos símbolos que nos remetem ao feminino/masculino. No entanto, aqui, ambos são apenas duas partes de uma única e mesma coisa. Como calor e frio, são apenas extremos de um ser único.

As relações entre esta carta e o Arcano XIV (A Arte) são tantas, que se torna quase impossível estuda-las separadamente. Tanto o é, que devemos explica-la totalmente ao explicar sua contraparte.

Continua na próxima aula…

Em L.L.L.L.,
Fr. Goya

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