Por: Frater Goya (Anderson Rosa)
O Hierofante é naturalmente atribuído à letra Vav, um prego ou gancho. O simbolismo da letra pode nos falar sobre união (prego) e aquisição (gancho). No início da criação, Deus contraiu a sua Luz para criar nesse espaço vazio o local onde seriam criados as dimensões finitas. Esse gancho é o que une Tiphareth às Supernas cruzando o abismo.
Curiosamente, o símbolo do poder espiritual (o Hierofante), vem imediatamente após o símbolo do poder temporal (o Imperador). Ele representa a posição atingida pelo merecimento, pela dedicação.
A posição de Hierofante era outorgada somente àqueles que realmente se tornavam profundos conhecedores dos mistérios sagrados. E conhecer está intimamente ligado ao tempo necessário para aprender. O Touro, signo regente desta carta implica a paciência e o trabalho necessários para arar o campo.
Do ponto de vista alquímico e qabalístico, essa carta é o que se chama nos 32 caminhos da sabedoria de “Paraíso preparado para os Justos”. O Hierofante é a Terra do Jardim, o Carro a Água, os Amantes Ar e Imperador o Fogo do jardim. A Terra, enquanto fundamento, sobre o qual se assentam o restante das coisas, é também a dispositora legal, ou seja, a legisladora do Jardim. Por isso o Hierofante constantemente é representado com um rolo do Líber Mundi nas mãos.
Ao redor da carta estão distribuídos os quatro kerubs que defendem o templo, conforme pode ser visto no documento Z1 da Golden Dawn. Logo, representados nessa carta, eles colocam-na como a posição física do Templo na Árvore da Vida. Imediatamente abaixo das Supernas.
Atrás do Hierofante pode ser visto um vitral. Esse vitral representa o acesso entre o mundo espiritual e material (Macroposopus e Microposopus). Isso nos remete ao fato de o Hierofante, como o Papa, ser um pontífice, ou seja, um construtor de pontes. Esta janela é ladeada por nove pregos (ou Vav). Logo, o Hierofante é quem faz o contato entre o mundo humano e divino, sendo portanto um psicopompo. Os pregos trazem ao Hierofante a lembrança da responsabilidade pelo conhecimento, e também o preço a ser pago, a eterna vigilância. Por isso essa carta às vezes, pode ser atribuído um valor de um sentimento pesaroso, uma angústia até.
Na mão direita, ele segura um cetro com forma de trevo, possuindo três círculos entrelaçados. Esses círculos são relativos aos 3 aeons: de Ísis, Osíris e de Hórus. Cada Aeon dura aproximadamente 2.165 anos terrestres. O próprio menino dentro do pentagrama sobre o peito do Hierofante é Hórus, que substitui o Aeon precedente do “deus agonizante”.
Adiante do Hierofante está a Mulher Escarlate, ou Babalon a Prostituta Sagrada. A importância de Babalon pode ser vista na interpretação d´Besta para o verso de AL, III-55: “Nós de Thelema dizemos que Todo homem e toda mulher é uma estrela. Não nos enganamos ou lisonjeamos as mulheres; não as desprezamos nem as abusamos. Para nós uma mulher é Ela mesma, absoluta, original, independente, livre, auto-justificada, exatamente como um homem é.
Não queremos a mulher como escrava; nós a queremos livre e régia, que o amor dela lute contra a morte em nossos braços à noite, que a sua liberdade cavalgue lado a lado conosco, de dia… na carga da batalha da vida.
Que a mulher seja cingida com espada diante de mim!
Nela é todo poder dado.
Assim diz este nosso Livro da Lei. Nós respeitamos a mulher tal qual ela é, com sua própria natureza; Não nos arrogamos o direito de criticá-la. Nós lhe damos boas vindas como nossa aliada, vindo a nosso Acampamento para fazer sua Vontade, livre e brilhante, revirando sua espada. Bem-vinda sejas mulher! Nós te saudamos. Estrela gritando a estrela! Bem-vinda à fuga e à festa! Bem-vinda à luta e à Orgia! Bem-vinda à vigília e a vitória! Bem-vinda à guerra e suas feridas! Bem-vinda à casa e à cama! Bem-vinda à trombeta e ao triunfo! Bem-vinda à marcha fúnebre e à morte!
Somos nós de Thelema que realmente amamos e respeitamos a Mulher, que a consideramos sem pecado e sem vergonha tais quais nós somos; e aqueles que dizem que as desprezamos são aqueles que se encolhem diante do fulgor de nossas lâminas, quando cortamos dos seus membros as imundas cadeias com que eles as ataram.” – Veja-se adiante o Arcano XI (A Luxúria) para mais detalhes sobre Babalon.
Mais do que um magista, o Hierofante é o mago que atingiu o contato com a divindade, o Samadhi. Ele é homem e deus ao mesmo tempo, contém em si toda a sabedoria e a perversidade divinas. O que une o amor pelo amor.
Continua na próxima aula…
Em L.L.L.L.,
Fr. Goya