Aula 12 – A Imperatriz (Arcano III)

Por:Frater Goya (Anderson Rosa)

Nossa aula de hoje irá versar sobre a Imperatriz (Arc. III), atribuído ao planeta Vênus e a letra Daleth. A letra Daleth representa uma porta. Portanto uma passagem que permite ir de um lugar a outro, uma sephira a outra… A unidade na pluralidade.

Talvez a atribuição de Vênus nessa carta seja sua relação mais importante e mais esclarecedora. Vênus é o planeta do amor, dos sentidos, da posse. A parte de seu simbolismo que nos interessa é justamente a capacidade de ar forma às coisas.

Na carta anterior, a Sacerdotisa (Arc. II), comentamos que a Sacerdotisa era o ideal de Mãe. No caso atual, é a Mãe de Fato, aquela que gesta por nove meses a criança e que depois dá à Luz. Em Vênus temos dois tipos de mãe. Aquela que apenas põe no mundo, e aquela capaz de se sacrificar por um filho.

Esse sacrifício é exemplificado nesta carta justamente pela imagem do Pelicano que morde o próprio peito e dá o sangue pelos filhotes. Ele é o elo de sangue entre as gerações. O preço a ser pago pela continuidade.

O cetro que ela carrega na mão é o poder diretor da magia. É graças ao cetro que a magia não se mostra como força impotente.

O Escudo a seu lado no chão é a meta da magia, com a Águia de duas cabeças clamando pela “Libertação”.

A Coroa que usa, representa a legitimidade de seu poder.

Se o Escudo é “o que”, o cetro é “como”, e a coroa “com que direito”. Ora, sendo a magia por definição “A Arte ou Ciência de causar mudanças de acordo com a Vontade”, o direito real é aquele: Tens somente um direito – Fazer tua própria Vontade. E lembramos que essa Vontade (Thelema) encontra-se verdadeiramente em Kether, a Coroa, imediatamente acima do caminho desta carta, entre Chokmah e Binah. Ao resultado dessa união de vontades, denomina-se: Milagre.

O cetro que ela carrega (encimado por uma flor de Lótus), nos traz ainda uma advertência clara ao se lidar com os mistérios da Kundalini: “Aquele que se aventurar a isso sem ser guiado por um mestre autêntico – o que quase certamente é impossível no Ocidente – encontrar-se-á em situação muito parecida com a de uma criança à qual se permitisse brincar com todas as drogas de uma farmácia ou andar com uma tocha dentro de um depósito de fogos de artifício. Distúrbios cardíacos incuráveis, destruição da medula espinhal, desordens sexuais e loucura esperam aqueles que se arriscarem a ela”. – Jean Herbert, no prefácio de  La Puissance du Serpent, de Arthur Avalon, Lyon, 1959.

No cinturão, ela carrega todo o zodíaco, o que revela a posição dela na Árvore da Vida, entre Chokmah e Binah. Chokmah contém em si todo o zodíaco. Outro aspecto que nos chama atenção nessa carta, é que a figura está voltada para a esquerda, enquanto que a carta seguinte, o Imperador (IV) está voltado para a direita. Dessa forma, colocando as cartas lado a lado, o casal olha um para o outro.

No Tarot Waite, o aspecto da forma dada por Vênus pode ser percebida pela figura da Imperatriz em gestação, na forma clássica representada pelo Tarot. Além disso, o símbolo do planeta aparece desenhado também no escudo ao lado do trono da figura.

O sentido de formar é bastante importante nessa carta não apenas como dar forma, mas também de formalizar, legislar, que acaba sendo uma função da Imperatriz, muito mais que do Imperador. Nos tempos idos, a Imperatriz estava reinando no castelo, mantendo o reino, enquanto que a função do Imperador era principalmente manter as fronteiras seguras. Logo, a manutenção interna do reino, para que este não se desestruture internamente, é função da Imperatriz.

Vênus, planeta também dedicado ao amor além da forma (estética), engloba toda a Árvore da Vida. Um círculo traçado passa começando em Kether, Chokmah, Chesed, Tiphareth, Geburah, Binah e volta a Kether. Depois, uma cruz tem o traço vertical indo de Tiphareth, Yesod e acabando em Malkuth, e por último, o traço horizontal unindo Netzach a Hod. O amor, a cola (união), dá a forma ao universo.

Há 3 forças planetárias objetivas que se manifestam como Sephira na parte inferior da Arvore da Vida: Netzach – Vênus; Hod – Mercúrio; Yesod – Lua. Mas suas expressões objetivas enquanto Caminho acontece na parte superior da Árvore da Vida, no extremo oposto: Mercúrio – Mago; Lua – Sacerdotisa; Vênus – Imperatriz. A compreensão desse mistério revelará grandes segredos.

A Imperatriz é a guardiã da porta entre o Macroposopus e o Microposopus. Um processo de harmonizar os opostos. Ela senta-se diante de um véu (como o Imperador) pois está diante de um novo nível de consciência. Ela está desenhada formando a figura do Sal Alquímico (círculo cortado por uma linha horizontal). Seu desenho sobre um fundo azul é o Sal que surge das águas após a evaporação.

Na verdadeira Magia, a Sagrada, o mago ou magista, possui o papel de ser o último elo na corrente mágica descendente do Altíssimo. É o ponto de contato (a porta) entre a Vontade Divina e a Vontade Humana, unidas pelo amor. Esse tipo de Magia Sagrada ocorre pelo processo de Revelação Mística, fruto de altos transes do espírito.

A Imperatriz, observando-se seu extenso simbolismo, representa a difícil tarefa de trazer o transcendente ao imanente, de dar forma à energia, transformar o pensamento em fato concreto, e no preço exigido para isso. Portanto é o compromisso com a obra, da mesma forma que uma mãe se sacrifica por seus filhos sem hesitar.

Continua na próxima aula…

Em L.L.L.L.,
Fr. Goya

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