Aula 11 – A Sacerdotisa (Arcano II)

Por:Frater Goya (Anderson Rosa)

Nosso objetivo nessa aula é trabalhar com a Sacerdotisa, umas das cartas mais interessantes do Tarot. Esta carta é atribuída à letra Gimel e à Lua.

Na máxima ocultista “querer, ousar, saber, calar”, O Diabo (Arc. XI) é o querer, a Luxúria (Arc.XI) o ousar, O Mago (Arc. I) o saber, e a Sacerdotisa (Arc. II) o calar. Alguns perguntarão porque coloco o Mago ao invés do Hierofante no Saber. Isso é fácil de explicar, pois o Mago representa muito mais a conquista do aprendizado, enquanto o Hierofante representa o tempo envolvido na busca.

 

A Sacerdotisa por sua vez, representa a deusa Ísis coberta por um véu representando os Mistérios superiores da Alma. Em especial no Tarot de Crowley, ele substitui a figura de Ísis por Ártemis/Diana, e ao invés do Líber Mundi que aparece na maioria dos Tarots, ela carrega um arco.

 

Existe um acalorado debate que se mantém vivo até os dias de hoje na maçonaria, que é a posição das colunas do templo. Ao lado da Sacerdotisa e mais ao fundo, podemos ver a presença de ambas.

 

No Tarot Rider Waite aparecem inclusive as letras J e B, Jaquim e Boaz (Beleza e Severidade respectivamente). Essas colunas representam os pilares da Árvore das Vidas, e a Sacerdotisa estaria bem no meio delas, correspondendo à sua posição pela distribuição das letras hebraicas na Árvore da Vida segundo o Hermetismo. Onde o caminho de Gimel está entre Kether e Tiphareth, unindo a trindade Superna com aquilo que está abaixo do Abismo. Logo, entre outras coisas, a Sacerdotisa representaria também a passagem pelo Abismo.

 

A citada discussão é justamente se J fica à esquerda ou direita de quem entra no templo. Explicaremos aqui o posicionamento correto. Se observarmos em especial a carta de Waite, veremos que Boaz está à direita da Sacerdotisa, e que Jaquim está à esquerda. Lembramos que a mesma está no fundo do templo e voltada para a entrada. Logo, Boaz corresponde à posição dos Aprendizes no Templo Maçon (Coluna da Severidade) e Jaquim à coluna dos Companheiros e Mestres (Coluna da Beleza). Chamamos atenção ainda que esses nomes (Severidade e Beleza) são os nomes dados aos pilares da Árvore da Vida.

 

Seu véu indica a incapacidade de ver adiante e de ocultar. Quando está mal aspectada (com cartas ruins a seu redor), ela representa alguém enganando, ocultando algo de outro alguém. Normalmente, são aquelas informações importantes que virariam o jogo e que são ocultadas para induzir ao erro. Não é portanto uma carta da mentira, mas da ocultação e da indução ao erro quando mal aspectada.

 

A Sacerdotisa, possuindo um atributo Lunar, tornar-se interessante objeto de estudo.

A Lua é na verdade símbolo da memória em todas as suas manifestações: escrita, falada, gravada. Essa qualidade é que dá a Câncer a característica da Tradição, conforme ensina a Qabalah, como sendo aquilo que se transmite, aquilo que se dá às gerações futuras.

 

Dessa forma, a Lua é o representante zodiacal do folclore, a memória do povo.

A Luz nada deduz, mas tudo aprende. A sua luz, embora brilhante no céu, não é sua, mas emprestada do Sol. Portanto, tudo aquilo que precisa ser aprendido, é de natureza Lunar.

 

O camelo que aparece nessa carta, próximo às imagens de cristais (estes são clara referência ao Brilho Cegante de Kether, daí a necessidade do Véu). O camelo, por sua capacidade de armazenar água mantê-la por grande tempo enquanto atravessa grandes distâncias, representa a capacidade de reter e armazenar, além da determinação necessária para se atravessar o deserto.

Ainda algumas palavras sobre o Véu da Sacerdotisa. Durante a semana final da operação de Magia Sagrada de Abramelin (veja-se os artigos na seção Líber Mundi da nossa página sobre isso), é necessário que o magista cubra seu rosto com um véu especialmente preparado, para que não olhe o Sagrado Anjo Guardião diretamente.

E um pouco mais sobre os cristais. Além de representarem fisicamente à Kether, os cristais fazem menção ao saber cristalizado, estabelecido. Por isso, o saber institucionalizado. Pois quem é sacerdotisa é a sacerdotisa de alguma crença estabelecida. Haja visto que não existem sacerdotes ateus…

 

 

Outro detalhe que nos chama a atenção, é o fato de o Mago (Arc. I) estar de pé na maioria das suas representações e a Sacerdotisa estar sentada. Ora, o ato do Mago exige uma ação física, enquanto que o ato da Sacerdotisa é uma postura. Um é o ato externo, o outro, o ato interno.

 

O arco que ela mantém sobre pernas masculinas (um hermafrodita talvez?), é símbolo da atividade da alma. Podemos também nos perguntar se esse arco não é aquele que atira a flecha que aparece na carta da Arte (Arc. XIV). Mas sobre o arco devemos considerar aquilo que é indicado nos Upanixades, onde o arco é atribuído ao OM. Essa palavra, OM é conhecida como o som primordial. Por outros, é definida como o nome do primeiro sacerdote do Altíssimo na Terra, Melkitsedeq, o Rei do Mundo. É aquilo que leva a flecha até o alvo. Talvez aqui caiba a troca do Líber Mundi que era carregado noutros Tarots pelo arco. Pois não basta “SABER”, é preciso que esse saber “LEVE A ALGUM LUGAR”.

 

A imagem que temos da Mãe, e em especial da Mãe do Mundo ou da Grande-Mãe, é uma imagem Lunar. Daí que sempre dizemos que a Lua é a imagem que temos do que é uma Mãe. E Vênus, veremos na carta seguinte (a Imperatriz – Arc. III), é enquanto isso, a Mãe de fato, aquela que traz à luz a criança.

 

O chá de artemísia (planta dedicada à Ártemis) abre as portas da percepção, ou dito de outro modo, leva nossa visão para trás do véu de ocultação da deusa. Esse chá não deve ser tomado se houver suspeita de gravidez, pois induz ao aborto, assim como a maioria das plantas medicinais começadas com “A”. 

 

Continua na próxima aula…

Em L.L.L.L.,
Fr. Goya

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