A Estrutura Incorpórea – Introdução ao pensamento kabalístico 2

Autor/Fonte: Rav Jaim D. Zukerwar (http://www.halel.org)

Tradução: Frater Goya (Anderson Rosa)

2:1 O egoísta parece mais “natural”, “espontâneo”, sendo que faz aquilo que sente, enquanto o altruísta deve pensar na conseqüência de seus atos.

2:2 Nesse contexto o judaísmo não é “natural”, pois cada ato que o homem realiza deve ser o resultado de um processo de avaliação da realidade para prever a conseqüência que nossos atos vão gerar. Esse processo espiritual se denomina na linguagem espiritual judaica, mitzvá.

2:3 Não cobiçar, não enganar, não assassinar, assim como cada uma das 613 mitzvót são os desafios da vida espiritual judaica para que superemos a natureza instintiva e alcancemos finalmente nossa verdadeira natureza: o altruísmo.

2:4 Egoísmo e altruísmo são duas formas de pensar, de sentir e em última instância de viver, que podem ser revestidas num sistema político, religioso, filosófico, etc.

2:5 O egoísmo tem em seu interior o germe do mal, da obscuridade. O altruísmo, ao contrário, é a fonte do bem, da luz. A luz dissipa a obscuridade e é precisamente por isso que no lugar de insistir em lutar contra a obscuridade devemos revelar a luz.

2:6 Como fazê-lo? Implementando sistemas educativos baseados em modelos altruístas. Apenas assim poderá surgir uma nova geração que lute de forma autêntica pela justiça e a paz.

2:7 O “melhor” sistema sócio-político-econômico está destinado a fracassar enquanto o homem continue atuando de forma egoísta. A mudança o “pior” dos sistemas será efetiva em alcançar a justiça e a paz quando adotarmos uma atitude altruísta.

2:8 O caminho egoísta conduz finalmente ao ódio e a sociedades insatisfeitas que procuram permanentemente “novas experiências” esquecendo o desenvolvimento espiritual que lhes brinde com o componente para poder harmonizar suas vidas.

2:9 A única mudança duradoura que podemos objetivar em nossa vida é a atitude interior, o que desejamos em nosso coração.

2:10 Em suas tentativas de comprender a estrutura da realidade, seus princípios e a relação causa-efeito que a regem, o homem concebeu variados sistemas para analisa-la.

2:11 Aqueles que consideram que “a natureza” controla os processos da vida, postulando que “uma força mecânica” denominada natureza impulsiona a todos os extratos e seres, tanto minerais, vegetais e animais como humanos, a “desenvolver-se” através de “processos de seleção natural”; criando assim novas formas sem outro objetivo além da sobrevivência física.

2:12 Alguns sistemas determinarão que a casualidade e a seleção natural não podem criar nada inteligente, e que por detrás de tudo deve haver uma consciência e uma vontade. Chegaram então à conclusão de que há duas forças: uma que gera o bem e outra o mal.

2:13 A partir destes sistemas surgiram ainda outros, segundo os quais cada ação e qualidade é gerada por outra força. Assim, a beleza, a música, o tempo, etc. eram cada um, produto de uma deidade determinada.

2:14 Outros, finalmente, reconheceram que toda a realidade está inter-relacionada aceitando que há “uma força única” que rege todos os processos. A partir desta última idéia se consolidaram muitas religiões e filosofias que se relacionam com dita concepção de diferentes formas:

2:15 Os que crêem que os atos humanos tem uma influência insignificante na realidade e que a existência segue quase indiferentemente seu curso. Esta percepção da realidade conduz finalmente a atuar de acordo com o que cada um sente e pensa, “liberando” aos seres humanos de todo compromisso e responsabilidade no que diz respeito ao próximo, a sociedade, e a todas as formas em que a vida se manifesta.

2:16 Toda concepção educativa que se baseie nesse modo de pensar está destinada inevitavelmente a degenerar em todas as formas mais baixas de egoísmo. Estes sistemas em última instância se relacionam com os da natureza (2:11), antes expostos, já que apesar de “reconhecer” uma única energia criadora, a percebem como uma força automática completamente desligada da consciência e da atitude humana.

2:17 Os que pensam que as ações dos homens sim influem ainda que somente a nível geral. Aqui encontramos a consciência um pouco mais desenvolvida, sendo que a partir desta forma de entender a realidade começa um “certo compromisso” com respeito aos outros seres.

2:18  Os que compreendem que os atos humanos influenciam em todos os aspectos da realidade. Neste grau a consciência e o compromisso com o próximo, a sociedade e a justiça são maiores, posto que surge a certeza de que cada ação tem sua conseqüência. Mas ainda não é o suficiente para corrigir o egoísmo e transforma-lo em altruísmo, dado que possuem muitas sabedorias e modos de avaliar a realidade mas ainda carecem de critérios objetivos para apreender os princípios que regem e geram as ações humanas.

2:19 A Torá codifica e define a conduta humana através da tradição escrita e oral, educando o ser humano a prever os efeitos de seus atos. A percepção judaica da realidade revela ao homem, se este a aplica corretamente, as conseqüências de cada pensamento, emoção e ato. Por isso a lei judaica, a Halajá, especifica meticulosamente a relação do homem com o próximo e com todos os seres e âmbitos da realidade, tal como está codificado no Talmud.

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