Autor/Fonte: Rav Jaim D. Zukerwar (http://www.halel.org)
Tradução: Frater Goya (Anderson Rosa)
O Rav Áshlag nos explica no livro Prí Jajám (O fruto do Sábio), Introdução ao Segundo Tomo, que apesar de os textos kabalísticos distinguirem diferentes formas na realidade espiritual, como sendo mundos, sefirót, graus, etc. esta nomenclatura se refere unicamente a nossa percepção. Na plenitude da Luz não há sefirót, graus nem níveis de nenhuma índole. Ditas classificações surgem em nosso pensamento, produto de como nós intelectualizamos a realidade que se expande do Kadósh Barúj Hú (veja-se Nimshál – Mashál).
Nossa percepção não tem menor possibilidade de apreende-lo em Si Mesmo. Em Sua Essência nossa consciência seletiva se dilui, dado que “Ali” o conhecimento, o conhecedor, e o conhecido são Um. Por outro lado, nos domínios do tempo e do espaço, na multiplicidade da Criação, para que nós percebamos Sua Vontade de dar plenitude, criou e nos deu os sentidos através dos quais somos ativados e tomamos consciência de Sua Luz.
O livro do Zóhar e também o Arizal, no Shaar haHakdamót (Pórtico das Introduções), entre outros, nos esclarecem que as expressões e relatos utilizados tanto na Tora escrita como em toda a tradição oral não devem ser tomadas literalmente. As expressões que ali aparecem manifestando situações e aspectos da realidade conhecidos por nós, foram assim expostos como referências para nos aproximar da realidade espiritual despojada do tempo e do espaço.
Encontramos no Zohar (III parte, pág. 152), por exemplo: Disse Rabi Shimon Bar Iojái: Há quem diga que a Tora vem contar-nos relatos triviais! Sendo assim, ainda hoje podemos fazer “Tora” de relatos cotidianos e até mais belos que eles. E assim a Tora vem explicar-nos assuntos deste mundo, os governantes do mundo tem entre eles assuntos mais interessantes. Todas as palavras da Tora se referem a causas superiores, espirituais.
Os relatos da Tora são somente sua vestimenta, e quem pensa que a vestimenta é a Tora mesma e que não há nada mais, é tão ignorante como o que julga as pessoas por sua aparência exterior pensando que a pessoa é sua roupa (ver itens O Pardes e Nimshál-Mashál). A Tora, semelhante às pessoas, tem vestimentas, corpo, neshamá (alma) e neshamá de neshamá. Os relatos, como vimos, são sua roupagem, as mitzvót são seu corpo, a neshamá é Israel que ativa as mitzvót e sobretudo se encontra a Neshamá da neshamá: o Kadosh Baruj Hu. O Kadosh Baruj Hu é a “Quem” devemos chegar através da Tora (ver “Se o conhecesse seria Ele”).
Também encontramos no Shaar haHakdamót (Pórtico das Introduções), Introdução Primeira:
É sabido que no “alto” não há corpo nem tampouco força corporal alguma. Todas essas imagens e ilustrações (que nos descrevem os livros), não estão senão para refinar o ouvido de modo que o homem possa compreender os estados superiores-espirituais, que são impossíveis de apreender e registrar na mente humana. Por isso “se concedeu a permissão” de falar no contexto de ilustrações e imagens. Assim, tento no livro do Zohar como na própria Torah, nos encontramos com expressões como: os olhos de HaShem rondam em toda a Terra, os olhos de HaShem se dirigem aos tzadikim, e HaShem escuta, observa, fala, etc. Quanto mais grandioso é ainda escrito: e criou HaShem o homem à sua imagem e semelhança, à imagem e semelhança o criou, masculino e feminino. E assim a Tora mesma o diz, também nós poderemos expressar-nos em tal linguagem com a simplicidade correspondente, já que não há “Ali no alto” senão luzes finas e sutis, absolutamente espirituais e impossíveis de apreender, “desde aqui”, em forma alguma. Como está escrito em Devarim 4:15 – Por que o dia que lhes falou HaShem no meio do fogo, em Horev, não viram nenhuma imagem.