A Mulher em Thelema segundo Liber Al Vel Legis III,55

Autor: Aleister Crowley (To Mega Therion)
Tradução:Marcelo Ramos Motta (Fr. Parzival XIº)

55. Que Maria inviolada seja despedaçada sobre rodas: por sua causa, que todas as mulheres castas sejam desprezadas ao máximo entre vós!

O Nome Maria está relacionado com Mars, Mors, etc., do Sânscrito MR, matar, e com Mare, cuja água opõe o Fogo de Hórus.
Liber 418 explica isto sucintamente: 3° Æthyr.

Além disto, há Maria, uma blasfêmia contra BABALON, pois ela se fechou; e portanto é ela a Rainha de todos esses demônios malvados que caminham sobre a terra, esses que tu vistes mesmo como manchinhas pretas que manchavam o céu de Urânia. E todos esses são o excremento de Choronzon.

Maria inviolada tem que ser despedaçada sobre rodas, porque despedaçá-la é o único tratamento que ela merece; e RV, uma Roda, é o nome do princípio feminino (veja Liber D.) Serão as mulheres mesmas que destruirão esse egrégora; desde que foi o próprio falso senso de culpa dos homens, o egoísmo deles, e a covardia deles, que originalmente forçaram a mulher a blasfemar si mesma, e assim degradaram a próprios olhos dela, e nos deles.

Porque os homens insistem em “inocência” nas mulheres?

1 – Para lisonjear sua vaidade doentia; uma mulher capaz de compará-los com outros amantes passados ou presente os amedronta.

2 – (a) Para escaparem de doenças venéreas . (b) Para se assegurarem, na medida do possível, que a cria da mulher vai propagar suas “nobres” pessoas.

3 – Para manter poder sobre suas escravas graças a ignorância delas.

4 – Para mantê-las dóceis no lar quanto mais tempo puderem, prolongando a corrupção da sua inocência. Uma mulher sexualmente satisfeita, porém, é o melhor auxiliar que um homem pode pedir; enquanto uma mulher desapontada ou insatisfeita é um eczema psíquico.

5 – Em comunidades primitivas, para se assegurarem contra surpresa ou traição por parte de inimigos.

6 – Para disfarçarem a sua própria vergonha no assunto do sexo; vergonha que é fruto do complexo de Édipo e da má educação religiosa.

Nós de Thelema dizemos que Todo homem e toda mulher é uma estrela. Não nos enganamos ou lisonjeamos as mulheres; não as desprezamos nem as abusamos. Para nós uma mulher é Ela mesma, absoluta, original, independente, livre, auto-justificada, exatamente como um homem é.

Não queremos a mulher como escrava; nós a queremos livre e régia, que o amor dela lute contra a morte em nossos braços à noite, que a sua liberdade cavalgue lado a lado conosco, de dia… na carga da batalha da vida.

Que a mulher seja cingida com espada diante de mim!

Nela é todo poder dado.

Assim diz este nosso Livro da Lei. Nós respeitamos a mulher tal qual ela é, com sua própria natureza; Não nos arrogamos o direito de criticá-la. Nós lhe damos boas vindas como nossa aliada, vindo a nosso Acampamento para fazer sua Vontade, livre e brilhante, revirando sua espada. Bem-vinda sejas mulher! Nós te saudamos. Estrela gritando a estrela! Bem-vinda à fuga e à festa! Bem-vinda à luta e à Orgia! Bem-vinda à vigília e a vitória! Bem-vinda à guerra  e suas feridas! Bem-vinda à casa e à cama! Bem-vinda à trombeta e ao triunfo! Bem-vinda à marcha fúnebre e à morte!

Somos nós de Thelema que realmente amamos e respeitamos a Mulher, que a consideramos sem pecado e sem vergonha tais quais nós somos; e aqueles que dizem que as desprezamos são aqueles que se encolhem diante do fulgor de nossas lâminas, quando cortamos dos seus membros as imundas cadeias com que eles as ataram.

Nós chamamos a mulher de Puta? Sim, em Verdade e amem, ela é isso: o ar treme e queima quando nós o gritamos, exultantes e árduos.

Ó vós hipócritas! Não foi este o vosso sorrisinho de esguelha, vosso vil cochicho, que a escarnecia e a ultrajava? Não era “Puta” a verdade “dela”, o título de terror que vós lhes destes em vosso medo dela, covardes consolando covardes com furtivas olhadelas e gestos?

Mas nós não a tememos; nós gritamos Puta, quando os exércitos dela se aproximam de nós. Nós batemos em nossos escudos com nossas espadas. A terra ecoa o clamor!

Há dúvida da Vitória? Vossas hordas de escravos encolhidos (com medo de si mesmos, com medo de seus próprios escravos, hostis, desprezados e desacreditados, vossos passos da avestruz,  ir a luta,  não fugireis de debanda à vossa primeira investida quando com lanças de ardor em riste nós cavalgamos à carga, como nossas aliadas, as Putas que nós amamos e aclamamos, livres amigas a nosso lado na Batalha da Vida?

O Livro da Lei é a Carta de Direitos da Mulher, a Palavra Thelema abriu a fechadura do cinturão da castidade “Dela”. Vossa Esfinge de pedra cobrou vida: para Saber, Querer, Ousar, E Calar.

Sim, Eu, A Besta, minha Puta Escarlate montada em mim, nua e coroada, ébria de Sua Taça dourada de Fornicação, gabando-se de ser minha companheira de cama, a levei até à Praça do Mercado, e rugi esta Palavra que toda mulher é uma Estrela. E com esta Palavra está pronunciada a Liberdade da Mulher; as tolas e fracas e coquetes ouvirão minha voz. A raposa na mulher ouviu o Leão no homem; medo, faniquitos, moleza, frivolidade, falsidade, nada disto está mais na moda.

Em vão homens brutos, apoquentadores e gabolas, padres, advogados, ou políticos franzirão as sobrancelhas e procurarão um novo truque para atemorizar mulheres; de uma vez para todas a tradição está quebrada: acabou a moda do cinturão de castidade, da roupa de saco, do apedrejamento até a morte, de talhos no nariz, de arrastamentos por cavalos nas vias públicas, de açoitamento, de exposição no pelourinho, de divórcio de eunuco, harém, ameaças de inferno, ostracismo social, e até a criação de encorajamento de prostituição para manter uma classe de mulheres no abismo debaixo do tacão da polícia, e outra na beira do abismo, à mercê da bota do marido ao primeiro sinal de insubordinação ou mesmo de fracasso em agradar.

A câmara de torturas dos homens cristãos tem ferramentas de grande variedade: em um extremo, o assassinato cru e direto, ou a mais sutil morte a míngua; do outro, agonias morais, desde arrancar-lhes o filho do seio até ameaçá-las com uma rival quando os serviços dela acabaram com a beleza.

A mulher fraca de corpo e esfomeada na mente; a Mulher, moralmente aprisionada pelo seu heróico juramento de salvar a raça, não importa a que custo, aturou estas coisas, aturou de idade a idade. O sacrifício dela não foi espetacular, não foi nenhuma cruz no cocuruto de um outeiro com o mundo boquiaberto, e monstruosos milagres para ecoar o aplauso do céu. Ela sofreu e triunfou no silêncio mais vergonhoso; ela não teve amigo, ou seguidor, ninguém para ajudar ou aprovar. Como gratidão ela blandícias sentimentais, e aprendeu o frio e cruel escárnio que os corações de pseudo-homens são capazes de abrigar.

Ele agonizou, ridículo e obsceno; deu toda a sua beleza e força de mocidade para sofrer doença, fraqueza, ameaça de morte, decidindo viver a vida de uma vaca – para que a humanidade pudesse navegar nos mares do tempo.

Mas agora a Palavra de min, A Besta, é esta: não só estás tu, mulher, jurada a um propósito que não sê teu; tu és tu mesma uma estrela, e em tu mesma um propósito para tu mesma. Não só mãe de homens tu és, ou  puta de homens; serva à necessidade deles de vida e Amor, sem partilhar da Luz e Liberdade deles; não, tu és mãe e puta para teu próprio prazer; a palavra que Eu digo aos Homens, Eu digo a ti nem mais nem menos: Faze o que tu queres há de ser tudo da Lei!

Sim padre, sim advogado, sim censor. Não vos renunciareis em segredo uma vez mais, para buscar em vossa bolsa de truques se há um que não tentastes?

Foi sempre tão fácil até agora! Qual é a Magick dessa Palavra, a primeira tese do Livro da Lei, que “toda mulher é uma estrela”?

Ai de vós! Sou eu a Besta que rugi aquela Palavra tão alto, que acordei a Beleza.

Vossos truques, vossas drogas de torpor, vossas mentiras, vossos passes hipnóticos, eles não serviram mais[1].

Resolvei a ser homens livres, destemidos como Eu, dignos parceiros para mulheres não menos livres e destemidas!

Pois eu, A Besta, chequei um fim para os males de antanho, para os abusos que contestastes, fazendo das mulheres o instrumento de vosso deboche e vosso medo.

A essência de minha palavra é declarar a Mulher como Ela mesma. Si para si mesma; e Eu lhe entrego uma Arma irresistível, a expressão de Si Mesma e da sua Vontade através do sexo; a ela, em precisamente, eis os mesmos termos que o homem.

Assassinato não mais é temível, a arma econômica é sem poder desde que a mão de obra feminina se aprovou de valor; e a arma social está inteiramente nas próprias mãos dela.

As mulheres sempre foram sexualmente livres, como os melhores homens; é apenas necessário remover as penalidades de “ser descoberta”. Que as organizações feministas de trabalho defendam qualquer mulher que é atormentada economicamente por motivos de atividade sexual. Que as organizações sociais feministas honrem em público aquilo que seus membros praticam em privado.

A maior parte da infelicidade doméstica desaparecerá automaticamente, pois sua causa principal é a insatisfação sexual de esposas, ou a ansiedade (ou outra tensão mental) engendrada caso elas tomem o remédio em suas próprias mãos.

O crime de aborto perderá a razão de ser exceto nos casos mais excepcionais.

Chantagem será confinada a ofensas políticas e comerciais, e assim diminuindo sua freqüência quanto menos por dois terços, talvez por muito mais.

Escândalos e ciúmes sociais tenderão a desaparecer.

Doença sexual será fácil de identificar e combater, desde que não será uma desgraça admiti-la.

A prostituição (com seus crimes derivados) tenderá a desaparecer, desde que parará de oferecer lucros exorbitantes a esses que a exploram. A preocupação da mente do público com questões sexuais não mais propagará doenças morais e insanidade, quando o apetite sexual for tratado com a mesma simplicidade que a fome. Franqueza em falar e escrever sobre questões sexuais acabará com a ignorância que prende tanta gente infortunada; precauções apropriadas contra atuais perigos imaginários ou artificiais; e os charlatões que traficam o medo perderão sua fonte de renda.

Tudo isto deve seguir como a luz segue a noite, tão cedo a Mulher, leal para consigo mesma, perceba que ela não mais pode ser falsa com qualquer homem. Ela deve se honrar à sua Vontade; e deve compelir o mundo a honrá-la igualmente.

A mulher moderna não será nunca mais, joguete, escrava, ou vítima, a mulher que se entrega livremente ao próprio gozo, sem pedir recompensa, merecerá o respeito de seus irmãos, e abertamente prezará suas irmãs “castas” ou “venais”, como homens hoje em dia desprezam efeminados e os filhinhos de papai. O amor será separado por completo e irrevogavelmente de concordatas sociais ou financeiras, especialmente o casamento. O amor é um esporte, uma arte, uma religião, como quiserdes, não é um empório nem um mercado.

Eu te vejo mulher, estás de pé só, Alta Sacerdotisa do Amor tu és o Altar da Vida. E o homem é a vítima no Altar.

Debaixo de ti, regozijante, ele está deitado; exulta ao morrer, queimando no alento de teus beijos. Sim, estrela se arremessa flamejando para estrela; o esbraseio explode, alaga os céus.

Há um Grito numa língua ignota, ressoa através do Templo do Universo; em sua única Palavra está a Morte e o Êxtase, e teu título de honra, ó tu, a ti mesma Alta Sacerdotisa de Nuit, Profetisa, Imperatriz, que é tu Mesma a Deusa cujo nome significa a Puta e Mãe! [2]

 

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[1] Nota de M. – O leitor deve se lembrar que estas linhas precederam a completa emancipação da mulher na maior parte dos países do mundo; o fato que elas ainda são atuais no Brasil, prova apenas o quanto nosso país sofreu durante séculos, sob o imundo tacão de Roma e seus pederastas!

[2] Nota de M. – Mapie (Mapie) em grego tem a mesma numeração de BABALON, note-se, na parábola dos “evangelhos”, que Maria, a Mãe Virgem, assiste a morte do “filho” com Maria, a Puta de Magdala. É a Puta de Magdala, não a “Mãe Virgem”, quem vê o cristo erguido. Aum Ha!

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