* Discurso feito perante os membros do Templo de Ísis-Urânia da Golden Dawn . preservado entre os documentos do Ver. W. A. Ayton.

Há muitas poucas passagens, caros irmãos, nos Rituais da Golden Dawn que não estão cheias de significados e muito poucas que não tenham alguma utilidade para um ou outro fim. Lembro nessa ocasião, a solene advertência feita a cada um de vós pelo honrado Hierus quando se postou junto a vós com a espada estirada e recitou estas palavras memoráveis:

 “Filho da Terra – lembra-te –

que medo é fracasso –

por isso não tenhas medo –

pois no coração do covarde –

a virtude não tem morada.”

O grande valor da coragem e a grande vantagem daquele que a possuem são temas comuns aos instrutores de todo jovem, e não há posição na vida em que a coragem não represente um ganho. Mas não vistes aqui para ser ensinado acerca das virtudes da educação comum. Não obstante a inegável verdade que:

“Com mão suave toca a urtiga,

e ela te ferirá de forma dolorida,

Segura-a como homem de valor,

E ela te será branda como a seda”.

Ainda assim, as poucas e rápidas horas durante as quais nos encontramos no Templo de Estudos de Ísis-Urânia não devem ser gastas com ensinamentos que poderíamos igualmente obter fora dos Portais.

Não – meus irmãos, a solene advertência é feita a vós, porque entrastes num caminho perigoso; sois voluntários na busca da Ciência Oculta – assinastes vossos nomes em sinal de que desejais e pretendeis praticar o Ocultismo – e por isso vos expusestes a perigos que só raramente e em menor grau ameaçam as pessoas comuns, exceto em casos de doença, pois aquele que põe a mão no arado do campo do desconhecido pode provocar uma legião dos poderes do mal, dos habitantes do Limiar, dos Elementos, dos Elementares, que são os invólucros dos Espectros Astrais liberados pela morte corporal, e os invólucros dos maus tem maus propósitos que ainda não foram realizados.

Todos esses poderes podem, às vezes, colocar em perigo e ameaçar a Mente, o Olho, o Ouvido – que começam a rasgar o véu da ilusão a que chamamos universo material.

Nós já tivemos discípulos que, num momento de cansaço, indagavam – para que todo esse aprendizado que insistis que tenhamos, antes de iniciarmos a Pratica do Ocultismo? Ora, para que seria, senão para garantir uma pratica segura? Os tolos se apressam por caminhos que os estudantes temem trilhar. Não provoqueis os poderes desconhecidos e invisíveis, aprendei conosco sobre sua existência, moradias, qualidades, poderes, origens e fim – de outra forma, como podereis combatê-los?

A coragem que eu tanto elogio vos protegera nos momentos nos momentos de descanso e de solidão. Mas o conhecimento que ensinamos, e que aprendeis, vós o necessitareis, não somente para Ter sucesso na prática da magia, mas para simples segurança, para controlar os poderes do invisível mundo dos espíritos. Mas, novamente, não importa quão eruditos sejais, ainda assim vosso conhecimento seria inútil sem a coragem que vos habilitasse a usá-lo na realização ou na tentativa de realização de qualquer trabalho oculto, pois nesses momentos os poderes do mal atacam de fato e os horrores realmente assustam.

Com relação aos espíritos do mal, ouvi os hinos cristãos: “ Cristãos, vós podeis vê-la – no solo sagrado. Como as hostes das trevas vos circundam?” Elas o fazem, de fato – no entanto, a maioria dos cristãos mais ortodoxos se voltará para vós e negará a existência delas, embora cante a seu respeito.

Os espíritos dos elementos são bons e maus. As formas astrais dos homens bons não nos causarão dano, mas os Elementares, ou Invólucros Astrais dos Maus, e especialmente dos suicidas, são solos férteis para más sensações, más sugestões e loucura. Tende cuidado, então, com o modo por que adentrais a região incomensurável.

A obsessão é o pesadelo do ataque; toda uma série de misérias e terror pode afligir o ocultista que esteja fraco, viciado, sem força de vontade -–cujos objetivos sejam egoístas, cujos desejos sejam sensuais, cujos pensamentos sejam poluídos pelas posses materiais ou pela concupiscência do mundo, da carne e do demônio. O Neófito que entrou pelo Portal, e não avança, o membro puramente superficial, que não adquire nada, pode permanecer sem nada saber disso tudo; pode desistir, ou permanecer como um Ornamento destas salas até o fim de seus dias.

O estudante que avança nos Graus, e adquire Conhecimento sólido – o que ele pode fazer, ou o que seu Ser mais elevado pode fazer, harmonizando-se com a Sabedoria – está de fato exposto a ataques. E, junto com o ataque, vem a providencial defesa; o Hierus ressaltou perante a vós o imenso valor da coragem mental, moral e física; assim estais triplamente armado, e portanto completamente seguros.

Três vezes está armado o que entra numa disputa justa, e três vezes está armado aquele cuja coragem é inabalável e cujas aspirações são firmes, aquele que não permite que seu corpo físico arme laços para sua Alma e a corrompa; cujo intelecto compreendeu nossas doutrinas. Não se deve condenar o corpo, mas deve-se usá-lo com discrição. A Alma não deve ser contaminada com pensamentos maus e com desejos egoístas, mas deve ser elevada pela Vontade de ascensão.

O Espírito, este Facho do Supremo que nos encobre, cuja centelha é o “Eu”, está pronto para tomar e absorver aquele reflexo mais elevado do ser da Alma, que em função de sua pureza e desenvolvimento, tenha atingido o modelo da Perfeição.

Somos apenas estudantes da Vida Superior, e nenhum Adepto entre nós poderia adivinhar quando e onde qualquer de vós será atacado, ou por quais meios, mas advertimos sobre os riscos, e estamos sempre prontos a fornecer a panacéia – o Remédio Universal.

Não é em vão que o Novo Testamento dos cristãos ensina o poder da Vontade, a eficácia da Fé: pois tal poder não é limitado – a não ser pela integridade da Fé, a intensidade da Vontade. Não temamos os poderes do mal – é-vos dado lutar e vencer, com pureza e coragem, e com o poder da Alta Magia do Pentagrama, em que a ordem vos instrui; – onde esta o verdadeiro estudante que sucumbiu? Não entre nós!

Tende, pois, coragem, ó Neófitos! Não desanimeis com as dificuldades e perigos do estudo do Ocultismo – avançai sempre rumo aos pináculos da Sabedoria – ensinado pelos superiores da Ordem, que sempre estão mais prontos a ensinar do que o estais a aprender; e armados por uma coragem ativa e uma Vontade indômita, segui adiante e prosperai, pois existe um Summum Bonum – uma Quintessência da Sabedoria e uma benevolência universal grandemente poderosa, a par da inferior e todavia elevada aspiração de alcançar a Felicidade Perfeita.