O homem está eternamente questionando sua existência, mas, são inúmeras as coisas que estão fora da compreensão humana. Este é um dos motivos que nos leva a utilizar termos simbólicos que representam conceitos que não podemos definir ou, ainda, compreender integralmente.
Somos limitados pelos nossos sentidos. Equipamentos científicos podem nos auxiliar mas há um limite, que nosso conhecimento consciente não consegue ultrapassar. Há outros aspectos que devem ser considerados. Mesmo quando nossos sentidos reagem a fenômenos reais, todas as informações são passadas da realidade objetiva para a realidade da mente. Na mente, esses fenômenos são transformados em acontecimentos psíquicos, com “N” fatores desconhecidos, cuja natureza nos é desconhecida pois, segundo o Dr. Jung, a psique não pode conhecer sua própria substância.
Mesmo estando num nível aparente adiantado de civilização, a mente humana ainda não está razoavelmente integrada. Ainda é vulnerável e fragmentária. A unidade de consciência ainda é precária e esta pode ser facilmente fragmentada.
Há alguns símbolos que provêm daquilo que o Dr. Jung chamou de “o inconsciente coletivo” (parte da psique que retém e transmite a herança psicológica da humanidade). São símbolos tão antigos que os homens de hoje não são capazes de compreendê-los diretamente. A partir desses elementos, vamos analisar um mito que representa toda a angústia do homem de todas as épocas. O mito do Graal.
Artur e sua corte nada mais representam que a sociedade. São homens comuns, que vestimos com roupagens mágicas (ou ainda, simbólicas), nos quais a partir de um determinado momento, surge a necessidade de uma restauração. Mas que tipo de restauração é essa? Trata-se da restauração da personalidade fragmentada do homem. Onde o misticismo contribui substancialmente.
Quando é que um homem volta-se para o misticismo? Quando sua vida social e econômica já não está tão equilibrada. A partir do momento em que seu mundo objetivo deixa de oferecer respostas satisfatórias à sua existência. Dentro do mito, há um certo estado de involução no reino de Artur e na decadência dos seus representantes, tornando-se necessária uma restauração. É a partir deste ponto que os Cavaleiros da Távola Redonda se põe a procura do Santo Graal.
Mas o que é o Santo Graal, e o que ele representa ? O Graal é o cálice no qual Cristo bebeu na Santa Ceia e no qual José de Arimatéia colheu seu sangue na cruz. Após a morte de Jesus Cristo, José de Arimatéia teria levado o Santo Graal para Grã-Bretanha. Entre as virtudes mais comuns do Santo Graal, poderíamos citar:
1) Inicialmente a virtude da Luz. Do Graal emana uma Luz Sobrenatural, capaz de iluminar todos os caminhos e afastar a escuridão;
2) O Graal proporciona a vida, dá alimento, e os alimentos do Graal são inesgotáveis e proporcionam a prorrogação da vida, ou restauração em sentido transcendental;
3) O Graal também pode cegar, pode fulminar aqueles que dele fazem mau uso, os que não estão preparados.
4) O Graal deve ser “conquistado”. Ele não é “dado” gratuitamente.
Na Távola Redonda, há o décimo terceiro lugar, que é o lugar da função de “Chefe Supremo da Cavalaria da Távola Redonda” ou o “Lugar Polar”. É reservado a um cavaleiro especial e predestinado, superior aos outros. Nesse local se abre um abismo, que fulmina o indigno e o não eleito. Nas lendas cristianizadas, pode ser comparado ao lugar do Cristo, mas convém lembrar que este simbolismo é anterior ao Cristianismo. E nesse lugar perigoso, sentar-se-á o herói restaurador.
O herói restaurador deverá possuir a espada perdida de Artur, que de tempos em tempos volta a emergir, reluzindo das águas, à espera daquele que enfim voltará a empunhá-la. Aparece também em algumas lendas uma segunda espada que é dividida em duas: a espada partida.
A espada partida representa: o reino em decadência e o herói restaurador. Aquele que unir as duas partes chegará à síntese da restauração. Representa o rei primitivo que ressurge através do herói, ou ainda, o vigor restaurado do homem moderno, que consegue unir seus próprios fragmentos de consciência para chegar ao “SELF”.
O prêmio definitivo, ou o Graal, é o Self, ou seja, “a Totalidade do Ser”. Após enfrentar todos os perigos desta conquista, que estão presentes também na vida daquele que se lançou à busca do seu lado mais profundo, o herói restaurador é admitido dentro do castelo do Graal e por este é alimentado e mantido vivo por tempo indeterminado.
Resta aos homens buscarem dentro de si elementos para compreender essa busca. Temos de aprender a interpretar o que está oculto nos mitos e nas lendas e, quem sabe, conseguir atingir um nível de consciência integrada. Para aqueles que desejam iniciar a busca do Santo Graal, fica um sábio conselho: “Conhece-te a ti mesmo”.