Por:Frater Goya (Anderson Rosa)
Finalmente começaremos o estudo das cartas do Tarot, usando a carta sem número, o Louco, como o nosso ponto de partida. Devemos sempre nos lembrar que a carta do Louco na verdade, não possui número, podendo assumir qualquer posição numa jogada, tal qual o Coringa do baralho.
Sua posição na Árvore da Vida tem a correspondência da letra hebraica Aleph. Ou seja, na qabalah hebraica está entre Geburah e Chesed e na qabalah hermética está entre Kether e Chokmah. Isso acontece principalmente devido à interpretação do Sepher Yetzirá (Livro da Formação). Sugerimos aos estudantes que busquem esse texto para poderem se inteirar da questão com maiores detalhes. Em português existe uma edição comentada por Arieh Kaplan, bastante profunda e detalhada.
A letra Aleph representa, entre outras coisas, a primeira aspiração dada pela criança ao nascer. Simboliza a entrada do espírito no corpo. Esse espírito é que anima e dá vida ao Louco do Tarot. Outro simbolismo desta letra é o Arado, e junto com a figura do Louco (o pequeno Eu), forma a imagem daquele que busca a sua Verdadeira Vontade, buscando arar os campos eternos. Sendo o arado um instrumento da Vontade.
O Louco representa justamente aquele que não tem medo de experimentar, de se atirar de costas (como o Louco do Tarot de Thoth faz), sem se importar com onde vai cair. Esta carta representa a liberdade suprema, pois da mesma forma que o Ar não pode ser aprisionado, esta carta também escapa de todos os limites impostos.
No entanto, devemos sempre observar a distância que há entre a liberdade suprema e a desestrutura suprema. Uma pode levar facilmente à outra. Entre as várias capacidades atribuídas ao elemento Ar, temos a rapidez de raciocínio que permite altos vôos da mente, e por outro lado, vôos altos demais como o vôo de Ícaro, que acabou por matá-lo. Logo, a carta do Louco muitas vezes depende de como agimos ao utilizar ou melhor, como gerenciamos essa liberdade.
Os principais símbolos dessa carta são: o abutre, o saco de moedas, o tigre, a borboleta, o caduceu, os chifres, a roupa verde, Apolo e Diana, e as flores abaixo da figura. Deixaremos que os estudantes busquem os significados desses símbolos por si, para que possamos discuti-los oportunamente.
Muitos estudantes de Tarot assumem essa carta para si como sendo uma das mais importantes do Tarot, mas devemos recorda-los que uma vez que a personalidade não deve ser fragmentada, mas una, supervalorizar um único aspecto é sinal de desequilíbrio. E os Arcanos Maiores, uma vez que representam meios pelos quais a mente humana age e se organiza, devem possuir parcelas equilibradas (note-se aqui que não disse iguais, mas equilibradas) de cada uma de suas partes.
Valendo como Coringa, o Louco pode situar-se em qualquer lugar, a qualquer momento, como um dançarino entre a terra e o céu. Como 0, pela tradição situa-se no início de todos os números. No Tarot da Golden Dawn, de onde se origina a distribuição usada por Crowley, assim como a descrição geral da carta, aparece como a figura do louco, sendo a criança a figura do pequeno eu, o Ego.
No processo iniciático da Aurora Dourada, o pequeno Eu é separado do que Regardie chama de Eu Superior, para que o candidato viva uma situação de esquizofrenia induzida durante o ritual. O objetivo dessa prática é isolar ambos, para que no final do ritual, apenas o Eu Superior seja mantido e o Ego seja colocado no devido lugar.
Devemos nos lembrar sempre o Ego não pode ser destruído. Ele pode ser no máximo orientado, mas nunca eliminado. Tentar matar o Ego é matar a si mesmo. E dito de outro modo, passar o dia banindo ou matando o Ego, é dar ao mesmo uma importância que ele não tem. Quer coisa melhor para o Ego (raiz do egoísmo) do que se passar o dia inteiro pensando nele e agindo por ele? Isso é o reinado do Ego. Quando isso acontece, ele assume o controle.
No cinturão do Louco, vemos o Sol, símbolo de Tiphareth, representando a visão do SAG* nesta sefira. Tarefa normalmente atribuída ao Grau de Neófito. A conversação só ocorrerá quando o neófito atingir a sefira de Tiphareth. Até lá, só lhe é permitido a visão do Anjo. Sobre isso, publicaremos em breve um artigo na seção Líber Mundi.
Portanto, a análise da carta do Louco passa pelo aprendizado da convivência com o Ego.
* SAG – Sagrado Anjo Guardião.
Continua na próxima aula…
Em L.L.L.L.,
Fr. Goya