CODEX HERMETICUM 07 – O que acontece após a morte?

Publicação Classe A
Por Frater Goya

Muitos membros do C:.I:.H:. e pessoas que não pertencem à nossa organização nos perguntam frequentemente se possuímos uma doutrina ou mesmo uma teoria para a reencarnação. Por vários anos nos abstivemos de fazer qualquer comentário sobre o assunto por acreditar que essa definição parte da crença individual, mas nunca de um grupo. Devemos admitir que o tempo demonstrou o contrário. Na verdade as pessoas acabam pedindo que justamente um grupo ou organização lhes ofereça uma resposta. Talvez porque acreditem que esse assunto não poderá ser abarcado por uma única mente pensante, a menos que seja através de uma “revelação”, ou talvez porque prefiram dar crédito a outros além de si mesmos. Isso, porém, é uma questão por demais extensa para que possa ser tratada aqui. Deixaremos essa pergunta para ser respondida no futuro e em outro lugar que não aqui.

Este ensaio não pretende de modo algum ser definitivo no estudo da matéria proposta. Na realidade ele surgiu da necessidade de se explicar um assunto extremamente polêmico que é a reencarnação.

Tratamos no decorrer de seu desenvolvimento, da metafísica – das doutrinas do absoluto e suas emanações, conforme diz o livro VI da Metafísica1, “a metafísica é uma teologia, tratando principalmente de Deus e do divino”; sendo este um documento especulativo com fins didáticos. É um texto para ser lido por aqueles que anseiam mais informações sobre sua origem e destino nesta vida.

No decorrer da sua existência, o Ser busca respostas para sua origem e para seu destino após a morte do corpo físico. Existem inúmeras teorias sobre o assunto, e o nosso objetivo é tentar trazer ao leitor destas páginas uma explicação lógica para sua existência. Não pretendemos em nenhum momento no desenvolvimento da obra atacar ou denegrir movimentos religiosos, seitas ou filosofias de outros. O que buscamos é apenas uma explicação que pode satisfazer os buscadores que não encontraram respostas em outros lugares, ou se encontraram não ficaram satisfeitos com o que viram e ouviram.

No decorrer da vida sempre somos colocados em situações inusitadas, que exigem a todo o momento uma explicação para o que não pode e não deve ser explicado. Muitas vezes já estivemos diante de situações onde a lógica não se encaixava, ou talvez a nossa visão do mundo e da vida não permitisse que percebêssemos a lógica daquele instante. O que será descrito a seguir é fruto da pesquisa pessoal do autor e sua interpretação desses instantes.

Se no transcorrer da leitura for encontrado algum erro, devemos advertir desde o momento que a obra é resultado da pesquisa pessoal do autor que é humano, e, portanto passível de errar. Pedimos desde já desculpas àqueles que encontrarem falhas em nosso trabalho e também àqueles que possam se sentir ofendidos pelas opiniões presentes neste breve ensaio.

De onde viemos?

O espírito se origina diretamente da fonte criadora, que é Deus. Devemos imaginar aqui essa fonte como emanando energia infinitamente a partir de si, e essa energia é distribuída a todos os lugares do universo, dando origem às coisas. Hoje sabemos que cada tipo de energia possui um determinado comprimento de onda e uma frequência, que determina sua natureza.

Da mesma forma que por similaridade ou simpatia, uma corda de violão dedilhada faz vibrar a caixa acústica do instrumento produzindo o som, o espírito vibrando numa determinada frequência fará ressoar o corpo material, produzindo o efeito que chamamos de vida.

O Tempo de Permanência do Espírito no Corpo

O tempo da permanência no corpo, ou, melhor dizendo, da duração da vida, é o tempo da duração da nota divina em nosso corpo. Enquanto o corpo ainda vibrar ao som do espírito viverá. Quando o som silenciar, o corpo morrerá. Existem meios de saber a duração máxima de uma vida? Isso não podemos dizer com nenhuma precisão, o que podemos dizer é que até o presente momento, nenhum ser humano ainda tocou uma obra inteira… Nossa existência dura apenas alguns acordes. Mas sabemos que com o passar do tempo e avanços da humanidade em todos os campos, já permitem que a expectativa de vida seja maior do que era na Idade Média, por exemplo.

A tríplice divisão que compõe o Ser Humano

O Ser Humano é composto de três partes, a saber:

1. Corpo: O Corpo é o Templo do espírito. Sua função é evoluir segundo as regras do espírito, que são dadas, conforme os ditames de Deus.

2. Alma: É o que une a carne ao espírito. Pelos Espíritas ela é designada por perispírito. Em algumas tradições também é designada por duplo. A sua duração após a morte é de sete anos. Até sete anos após a morte do corpo, o ser ainda pode ser trazido do mundo dos mortos, através da Magia Sagrada de Abra-Melin, o Mago2.

3. Espírito: É o que anima o ser. O Espírito é imortal e retorna a Deus após o desligamento do corpo.

A Qabalah também possui termos e definições para Corpo-Alma-Espírito, que são:

Corpo: “Nephech”, a parte animal;

Alma: “Nechamah”, as Aspirações Superiores;

Espírito: “Ruach”, a Mente ou o Espírito.

Há ainda outras partes segundo os cabalistas, mas não é o escopo aqui para a presente explicação.

Sobre a Vinda do Espírito

O Espírito penetra no corpo humano através das narinas, no instante do nascimento. Na qabalah esta a primeira respiração do homem é o Aleph, que marca a entrada do espírito no Corpo. Por isso, desse ponto de vista, o conceito legal de aborto não é válido, já que aquele corpo antes do nascimento não possui espírito. Já possui alma, mas o espírito entrará apenas no momento do nascimento. O espírito, portanto, entraria no ser com o primeiro alento ou respiração.

A função do Espírito no Homem

O Espírito têm como principal função na composição do Ser Humano, a de ensinar ao corpo, que é apenas matéria grosseira, a perfeição das coisas do espírito.

A contribuição do Espírito na Matéria

A matéria, por ser física e grosseira, é a que mais precisa de cuidados em sua evolução. No Plano Evolucionário Divino, a matéria como é conhecida pelo homem através de sua percepção física e intelectual, ocupa a parte mais inferior da cadeia de existências.

Sendo o Espírito o reflexo imediato de Deus e o aspecto mais Divino da Natureza conhecida pelo homem, é atribuída a ele (o Espírito) a tarefa de auxiliar a evolução da matéria em sua jornada rumo à perfeição. Cabe ao Espírito a tarefa de Tutor da Matéria enquanto esta ainda não consiga perceber sua própria evolução.

A evolução da matéria ocorre através de sucessivas gerações sem sucesso até que, num determinado momento ocorre a mudança. O Espírito contribuirá com a matéria pelo ensinamento de sua perfeição e pela Palavra Divina, a propagação do Verbo. Como um professor adverte seu aluno na medida em que este se desvia dos seus ensinamentos, da mesma forma o Espírito advertirá a matéria de suas faltas. Enquanto houver um Espírito próximo à matéria e o Sopro Divino animando esta, nem tudo estará perdido. Mas, quando a matéria deixar de ouvir seu tutor e renegar sua origem, então esta deixará de ser o que é para se tornar o nada, desaparecerá.

O que acontece com o Corpo-Alma-Espírito após a morte

A Magia oferece uma breve noção dos caminhos percorridos pela trindade Corpo-Alma-Espírito.

Um homem que acaba de morrer divide-se em três partes, a saber: O Corpo regressa a Terra, a Alma3 a Deus ou ao Demônio, e o Espírito tem seu período determinado por seu Criador, quer dizer, o Número Sagrado de Sete Anos, durante os quais lhe é permitido vagar aqui e ali em qualquer direção.4

A definição acima é um tanto impressionante, embora apenas meio verdadeira, e vamos atualizá-la.

No momento da morte, o corpo, tal como um vidro de éter aberto, deixa sair de si o espírito, que retorna diretamente ao Grande Oceano Primordial. A alma ainda fica por algum tempo circulando pelo mundo, se permitindo muitas vezes ser vista como um fantasma, uma visagem, ou uma aparição apenas. Depois de algum tempo a alma, como o corpo se decompõe, deixando de existir para sempre.

O Retorno do espírito para Deus

Quando o corpo encerra suas atividades, o Espírito alça voo em direção a seu Criador. A limitação do Espírito é o corpo, da mesma forma que um líquido é limitado por seu recipiente. Uma vez que, quando da entrada do Espírito no corpo, que se dá na ocasião do nascimento, o Espírito é retirado do Grande Mar Universal, no final da existência física, este retorna para sua origem, que é Deus.

O que é Karma

Karma é um conceito hindu que segundo o Bhagavad-Gitã5, pode ser interpretado por:

1. Ação material executada com as regulações escriturais;

2. Ação referente ao desenvolvimento do corpo material;

3. Qualquer ação material que incorra numa reação subsequente;

4. A reação material em que se incorre devido às atividades fruitivas (reguladas pelo Karma Kãnda, divisão dos Vedas que trata das atividades fruitivas executadas com o propósito da purificação gradual do materialista grosseiramente envolvido).

Estas definições ilustram de forma evidente, o total desconhecimento de um assunto que está na boca de milhares de pessoas que erguem uma bandeira sem saber ao menos sua cor. A sombra do Karma que nos persegue tal qual uma maldição vida após vida é aterrador e nos tira o sono. Será que meu espírito jamais descansará? De acordo com as definições acima posso dormir tranquilo, pois o Karma refere-se ao corpo, e não ao espírito.

Logo, aproveitamos para declarar que terminantemente, não existe nenhuma conta passada a ser paga e sequer futura. Tudo o que fazemos deverá ser acertado aqui e agora. Se sofremos é por consequência de nossos atos, e atribuir isso a uma vida passada é uma admirável escapatória, mas nunca uma verdade.

O que é Dharma

Outro conceito hindú que segundo o Bhagavad-Gitã pode ser traduzido como a “capacidade de se prestar serviço, que é a qualidade essencial do ser vivo”.6

A volta ao Corpo ou Reencarnação

Uma das ideias que hoje estão disseminadas com maior força no mundo Ocidental é a reencarnação. Esta ideia baseia-se no fato de o Ser Humano ser obrigado a percorrer uma longa trajetória até Deus, em sucessivas encarnações, aonde ele irá se aperfeiçoando até chegar a perfeição e finalmente, a Deus. Há diversas formas de se explicar à necessidade da Reencarnação. As mais comuns baseiam-se na Lei do Karma (ver o tópico – O que é Karma). A pessoa possui débitos ou créditos de acordo com seu comportamento no decorrer de sua existência física. As penalidades ocorrerão em sua próxima vida, e os créditos lhe auxiliarão a subir mais um degrau em direção a Deus.

O Número de Encarnações é variável também. Alguns dizem que são 7, outros 9, outros 12 e até 144, ou ainda sem uma quantidade certa. As antigas religiões do mundo, em sua maioria citam a imortalidade da Alma ou do Espírito como sendo o fim da existência humana. Podemos tomar como exemplo os Egípcios, que em nenhum momento de seu Livro dos Mortos7 colocam a idéia de reencarnação e sim de Ressurreição.

Citamos ainda Marie-Louise Von Franz que diz em seu livro A Alquimia e a Imaginação Ativa: “Por um lado, os egípcios tinham um panteão com muitos deuses. Mas por outro, eles acreditavam que havia uma única Divindade cósmica, que era às vezes identificada com Atum, ou com Nun, ou com o deus Rá numa forma diferente, ou com o Osíris cósmico, por vezes também chamado a Alma Bá do Universo. Há diferentes nomes, de acordo com as diferentes províncias no Egito, mas a ideia básica é a de que há uma espécie de espírito cósmico que reina sobre todos os diversos deuses do panteão egípcio, um deus que é o espírito do universo que tudo penetra, que reina sobre todos os outros deuses e os pode absorver. O morto iria, gradativamente, transformando-se naquele deus. Ele tomava parte num grande processo mitológico que era, por assim dizer, um espelho da situação cósmica global em que o egípcio acreditava viver.

A morte é o fim da peregrinação terrestre do Homem, do tempo de graça e de misericórdia que Deus lhe oferece para realizar a sua vida terrestre segundo o projeto divino e para decidir o seu destino último. Quando tiver terminado “o único curso da nossa vida terrestre”8, não voltaremos mais a outras vidas terrestres. “Os Homens devem morrer uma só vez” (Hb 9, 27). Não existe “reencarnação” depois da morte9.

Conceito do Grande Oceano Primordial

Para explicar o conceito do Grande Oceano Primordial, diremos que quando uma pessoa nasce, é como se pegássemos um copo de água desse grande oceano. Ali dentro habita um espírito. Quando o corpo morre, ele voltará a esse Grande Oceano que a tudo permeia. Após retornar a esse oceano, aquele espírito perderá sua individualidade e irá se misturar com o Grande Oceano.

A perda da individualidade

Quando do advento da morte física, a personalidade-alma retorna ao Grande Oceano Primordial e aí permanece até ser lançada novamente sobre a terra. Porém, como a individualidade foi perdida, ela não terá memória de sua vida pregressa.

Das lembranças de “outras vidas”

Através de anos de estudos sobre a genética, já se sabe hoje, que a memória é passada geração após geração através do DNA e que podemos ter acesso a essa de memória. Como acessar estas lembranças ainda são especulações, mas nada impede, porém, que a suposta lembrança de “outras vidas” não seja apenas uma forma de recuperá-las. Quando somos submetidos a determinadas pressões, reagimos de maneiras adversas, conforme nossa estrutura mental e física. Logo, é possível que um indivíduo em determinado momento de sua vida seja colocado em uma situação diante da qual ele não consegue reagir prontamente, e, num momento posterior a resposta lhe venha na forma de sonhos e visões. Quando nos recordamos de eventos passados que aparentemente não fazem parte de nossa existência atual, somos levados a crer que:

1. Ou são apenas sonhos e até alguma forma de delírio;

2. Ou são visões de uma outra existência;

No caso da primeira hipótese, não é um grande problema, pois tende a desaparecer naturalmente ou num caso mais agudo, pode ser eliminado com a ajuda de um profissional qualificado (médicos, psiquiatras ou psicólogos). Já no segundo caso, o assunto é mais delicado, pois todo mundo já viveu uma experiência semelhante e no intuito de ajudar, apenas complica ainda mais a situação já grave.

Se não é uma lembrança de outra encarnação, o que é?

Bem, se nossas lembranças incluem as de nossos antepassados, nada impede que, por mais remota que seja a lembrança, ela venha à tona. Como essas lembranças fazem parte de nossa carga hereditária, nossa mente muitas vezes não consegue distinguir o que são nossas lembranças efetivas ou de nossos antepassados. Traumas mentais e físicos também podem ser explicados dessa maneira.

Mas quando a lembrança envolve outros locais onde a pessoa viveu em outra encarnação incluindo parentes e lugares que ela e nenhum antepassado supostamente esteve antes?

Essa questão é muito interessante e é usada atualmente por muitos profissionais da área da Regressão para justificar seu trabalho. Mas o que realmente acontece nesse caso é que por algum motivo por nós ignorado, e muitas vezes involuntariamente, acessamos memórias de nossos antepassados, mas isso não quer dizer que sejam memórias de “vidas passadas” nossas. Mas sim, daqueles que nos antecederam (pais, avós, bisavós, etc.), e também, embora em menor grau, podem ser memórias que estavam já dissolvidas no Grande Oceano Primordial, e foram inseridas no corpo da pessoa que está tendo a recordação.

E no caso dos Lamas Tibetanos, que após a morte de um Lama, um deles sonha ou tem uma “visão” de onde o espírito do monge reencarnou?

Neste caso, podemos observar o caso do espírito retornar ao Grande Oceano Primordial, onde, ao ser depositado, sua personalidade se dilui para fazer parte do todo. Ao se constituir um novo ser, uma parte deste oceano é retirada para preencher o corpo, e pode, desta forma, captar traços de uma ou mais personalidades, em maior ou menor grau.

Como a crença no Karma afeta aquele que pratica sua Verdadeira Vontade (Thelema)?

Talvez essa seja uma das perguntas mais importantes que possa ser feita por um estudante que esteja trilhando o caminho da descoberta da Verdadeira Vontade. Para um estudante de Thelema, a crença no Karma e a teoria da Reencarnação soam estranhas para não dizer esdrúxulas.

Por quê? O maior impedimento de um estudante de Thelema em relação a reencarnação vem do fato de você atrair karma “positivo ou negativo”… Como você poderá realizar sua Verdadeira Vontade e cumprir a Lei da Liberdade e do Amor se ainda está preso a débitos anteriores? Somente para aquele que existe a possibilidade de ser livre é que ele se libertará. Se a teoria da reencarnação estiver certa, o estudante jamais poderá fazer sua vontade, pois estará eternamente em débito consigo mesmo carregando os grilhões do passado.

Evoco aqui a Marcelo Ramos Motta que disse: “Todo ser humano que sofre, sofre por sua própria culpa, e no momento em que sofre. Os vossos erros passados determinam as vossas condições de manifestação; mas a essências do vosso íntimo, o fogo interno que queima no coração da estrela caída, está sempre presente em vós; está sempre presente em vós a possibilidade da Pedra Filosofal, que transmuta o pesado, penoso chumbo de Saturno no belo, luminoso Rubi e Ouro do Sol10. A partir desse pequeno trecho podemos perceber a verdadeira natureza do estudante. Transformar a si mesmo no Ouro Solar.

O sofrimento conduz à evolução? E fazer o bem?

Na verdade existe um profundo mistério na vida humana, que é saber se o bem conduz a Deus e à vida eterna ou não, e se o sofrimento purga os pecados. Em verdade vos digo que não é nem pelo bem ou pelo sofrimento e tampouco pelo mal que se chega ao Criador. Se assim fosse, os bons sempre teriam uma existência compensadora. Mas na prática sabemos que isso não ocorre. E pelo mal, também sabemos que no final, este sempre pagará pelos pecados cometidos.

Novamente, peço auxílio a Marcelo Motta: “Muito vos tem sido dito a respeito das razões para a encarnação do mundo. Muito vos tem falado da “divina redenção da Dor”. Tem-vos sido dito que este mundo é um vale de lágrimas, um antro de demônios que se encarnam para expiar os seus pecados. Somente o sofrimento, dizem-vos, traz a luz e a libertação. Eu vos digo que tudo isso está acabado. Faze o que tu queres há de ser o todo da lei”.

Então o que fazer? Para chegar a Deus a pessoa deverá viver plenamente sua vida de acordo com sua própria Vontade (isso é claro, após descobri-la). Somente vivendo plenamente sua existência, o ser humano poderá retornar até Deus. Num outro momento detalharemos o processo de viver plenamente. Aquele que faz o bem aguardando uma recompensa final barganhará com Deus. Mas advirto-os que Deus não negocia. O bem deverá ser feito de acordo com sua natureza mais pura, livre de julgamentos ou desejos.

Se o espírito volta imediatamente a Deus após a Morte, o que aparece aos chamados médiuns?

Segundo nossas pesquisas somos levados a acreditar que as forças captadas pelos médiuns nada mais são do que restos daquela alma que ainda possam permanecer por algum tempo após a morte. Nos casos em que se diz haver falado com um espírito cujo corpo morreu há 200 anos acreditamos que isso seja uma ilusão ou até mesmo uma alma que está se fazendo passar por uma alma de outra pessoa. Mas com certeza, não é a energia original.

Os seres humanos evoluem em grupos?

Sob certo aspecto sim. Aproveitando o conceito do Grande Oceano Primordial, podemos nitidamente ver ali ilhas, que seriam os agrupamentos humanos num determinado local. Quando o copo (nosso corpo físico) deixa cair a água, essa cairá obviamente próximo a ele ou à ilha onde este se encontrava. Logo, é natural que os espíritos, mesmo mergulhados no Grande Oceano Primordial ainda permaneçam próximos uns aos outros. Sua dissolução total dependerá das correntes marítimas que são responsáveis pelo movimento das águas. Quanto mais perto da ilha, menor a influência das correntes e, portanto mais demorada sua dissolução. Logo, ao se pego um novo copo (ou corpo) daquela água, as chances de pegar partes de um mesmo grupo são bastante altas. Para impedir, no entanto que essa água fique estagnada, existe uma outra energia que se encarrega de levar essa água aleatoriamente a outros pontos. Essa energia se chama Caos. Ele é o tempero do mundo que impede que a energia cesse de fluir e a água apodreça. Isso justifica o fato de muitas vezes uma pessoa se sentir “um estranho no ninho”, como se fosse de outro lugar que não aquele mesmo onde se encontra.

Outras perguntas sobre o pós-mortem

Algumas pessoas não interessam a classe social nas quais se encontram, tem um ar aristocrático sem ser superior ou pedante, por quê?

Isso pode estar demonstrando a própria natureza do espírito…

Mas, os espíritos têm diversidade? Não seriam todos iguais por serem divinos?

Na verdade são iguais, mas a matéria em que estão contidos não. Da mesma forma que se você põe um tecido cobrindo uma lâmpada. Quanto mais sofisticado, normalmente mais fino (como a seda, por exemplo) permitindo assim que vejamos a luz com mais clareza… Até que, quando o tecido ou a matéria for mais próximo ainda do divino, ela não oferecerá obstáculos para a luz, que será vista em toda sua majestade.

É um pouco confusa essa teoria, não? Eu diria que ela parece muito com a do espiritismo, só que mais refinada.

De fato, a diferença básica da nossa para o espiritismo é que não usamos o karma e quem evolui é a matéria e não a alma… Como foi dito no início do texto, estamos dando uma revisada geral no conceito de evolução pós-mortem e não criticando essa ou aquela doutrina. Apenas revendo conceitos.

A diversidade de pessoas e a familiaridade entre elas se deve ao Grande Mar?

Exato. O conceito em si é bastante simples e prático… A confusão se dá quando você tenta encaixar ele com sistemas anteriores que nem sempre são bem montados…

Retomando a pergunta do início, existem pessoas que tem maior contato com seu espírito, sua alma, e, portanto refinaram seu corpo, sua matéria, sendo vistas como mais “iluminadas” ou até superiores, com ares de princesa e de reis?

O tal Grande Mar não é homogêneo, e sendo assim, às vezes uma pessoa vem com um conjunto melhorado, e outra vem com um modelo mais antigo… Isso é certo?

Imagine ilhas com terrenos irregulares. Elas representam a matéria enquanto viva ou o mundo onde vivemos… Quando o copo quebra, é mais fácil você jogar o conteúdo no meio do oceano ou nas margens?

Nas margens.

Se você fizer uma maquete e usar tintas de várias cores para representar várias pessoas, verá que elas tendem a ficar próximo a ilha… Mas e quando se misturam? Misturam-se pela ação das marés. Assim, aquelas que estão em locais onde a maré tem difícil acesso, ficarão menos misturadas com o todo… Mas aí entra um outro agente interessante. O Caos. De tempos em tempos alguma anomalia aleatória, varre a costa levando aquela porção a um outro ponto, distante, sem nenhuma ligação com o original… (um ciclone ou tempestade pode fazer isso, ou mesmo uma ressaca do mar).

É por isso que se diz que os espíritos “evoluem” em grupos… Embora na verdade, seja a matéria quem evolui. E o caos justifica os casos onde num local de pessoas ditas “atrasadas” aparece um iluminado do nada… É totalmente aleatório.

Então seguindo a linha desse raciocínio, pode-se dizer que as encarnações acontecem dentro de um grupo.

Também poderiam ser por isso. Mas se você apenas observar a natureza, verá que é assim que ela se comporta… Não há necessidade de elementos externos como influências astrológicas. Mas um meteoro, por exemplo, se chocando com a terra, é um evento aleatório. Nunca esqueça do caos… E por que se necessita do caos? Por que ele impede que a água fique ali estagnada e só um grupo evolua, ou que ela simplesmente apodreça.

Então desse ponto de vista, nas pessoas de hoje que julgamos serem iluminadas é possível que um pouco do espírito de antigos iluminados esteja encarnado nela, mas não como um pedaço enorme colado, e sim como um novo ser?

Exatamente.

Faz sentido… E faz sentido crer no que dizem dos poderes dos iluminados… Afinal, eles por estarem em contato direto com seu espírito podem operar ações que os outros não conseguem e dessa maneira operam os “milagres”. E sobre as iniciações11? Elas realmente refletem essa vida após a morte?

A primeira iniciação é o julgamento da alma, quando o espírito pode ser destruído completamente ou ganhar a imortalidade. Quando você termina a primeira delas, você passou desse risco. A segunda fala do começo da jornada pelo Duat12, já no caminho de retorno à unidade divina. A terceira fala da fundição das 9 partes em uma, ou da aquisição das 2 qualidades superiores da alma (no caso de você trabalhar com 3 camadas13, ganha mais duas) e a quarta, fala da unidade com a divindade, ou do ponto de vista da magia sexual, por isso ela está no 4º grau, a criação da criança do abismo, onde os dois lados se fundem num só (veja a carta XIV – Arte dos Arcanos maiores do Tarot de Thoth de Aleister Crowley) e então se torna o Deus mesmo…

O que acontece em seguida?

Aí vem uma mão e pega um copo com aquela água, dando origem a uma nova vida… É o nascimento de uma nova criança no nosso mundo… Ou seja, o ciclo de iniciações fala do que acontece num período entre vidas. Por isso esse conceito se aplica apenas ao C:.I:.H:.. Existe um problema bastante grave, é que nenhuma ordem consegue terminar o processo, pois normalmente só sabem o que acontece logo depois da morte…

Essa nova vida corresponde a você e mais uma p

essoa terem pegado o copo e desaguado em um pré-invólucro dentro de uma mulher? (Por que isso já é feito, mas não pela mão humana…)

Se você trabalha com esse conceito que estamos tentando desenvolver, fica claro o que existe após a morte, e então você tem a jornada completa da iniciação… Logo, o iniciado assume completamente a sua jornada e sabe como agir… Ele facilita esse retorno…

Fale um pouco mais sobre essa nova criança.

No conceito que é dado pela Magia Sexual o objetivo final, é acabar com a dualidade homem/mulher e criar um ser andrógino (manifestação física da divindade plena)… Isso no mundo físico… Na morte, você volta a Deus ou a fonte, se mistura completamente, e quando isso acontece, aí surge um novo ser num outro corpo… Fazemos isso quando engravidamos uma mulher… O sexo da criança só é definido após o terceiro ou quarto mês. Até então ela pode ser qualquer um dos dois. É nesse ponto em que a matéria nos faz ficarmos separados do estado de unidade divino. Ela de certa forma “separa” o que antes era único.

Mas ter a consciência destruída não é concreto. E não é por causa do ego e sim por uma forma de recompensa.

O que seria concreto? Esse tipo de discussão é extremamente lúdica. No fundo, ela é apenas para servir de descanso para o cérebro depois de um dia conturbado. Como diria Don Juan, no final do caminho do feiticeiro, basta dizer: tudo isso realmente não importa. Só importará no momento final, e aí será tarde de mais. Ou ainda, usando as palavras do Merlin do filme Excalibur com relação ao futuro, mas que cabe nessa questão: “O futuro é como um bolo. Você pode vê-lo, percebê-lo, mas não sabe o gosto que tem até que experimente o bolo. E então, será tarde demais”.

Sobre a recompensa: Que recompensa? Como diria Einstein: “Deus não joga dados com o Universo”. Esperar uma recompensa sobre um comportamento que se tem é um mau hábito adquirido na infância. “Faça isso que lhe dou uma bala…” – Devemos viver como homens que somos, não como crianças mimadas. E o que um homem faz? Age como em que agir. Quem acha que sendo bom, terá recompensa no final, está jogando com Deus, e como disse acima, Deus não joga.

Só pra dar alguma coisa pra coçar seu cérebro, vou transcrever um trecho de um livro do Castañeda que trata sobre isso. Aproveito para dizer que se você comparar com os textos que joguei num e-mail anterior supostamente escrito por Hermes Trismegisto, em nenhum momento ele contradiz textos como os clássicos do hermetismo ou do budismo. E já que falamos nisso, devo dizer que essas duas fontes (hermetismo/budismo) talvez sejam as fontes de pesquisa menos alteradas a que temos acesso atualmente. É claro que o mesmo vale para o judaísmo e o islamismo.

Mas vamos ao trecho:

– Talvez eu deva expor a coisa de outro modo disse ele. – O que recomendo que você faça é notar que não temos nenhuma garantia de que nossas vidas continuem indefinidamente. Acabei de dizer que a mudança vem de repente e inesperadamente, bem como a morte. O que pensa que podemos fazer a respeito?

Pensei que Dom Juan estivesse fazendo uma pergunta retórica, mas ele fez um gesto com as sobrancelhas, pedindo que eu respondesse.

– Viver o mais felizes que pudermos falei.

– Certo! Mas você conhece alguém que viva feliz? Meu primeiro impulso foi dizer que sim; achei que podia citar uma porção de gente que eu conhecia como exemplos. Mas, pensando bem, eu sabia que meu esforço seria uma tentativa vã para me exonerar.

– Não respondi. – Não conheço de fato. Pois eu conheço disse Dom Juan. – Há pessoas que têm muito cuidado com a natureza de seus atos. Sua felicidade é agir com a plena consciência de que não tem tempo; portanto, seus atos têm um poder especial; têm um sentimento de…

Dom Juan parecia estar procurando os termos. Coçou as têmporas e sorriu. Então, de repente, levantou-se, como se tivesse terminado a conversa. Pedi-lhe que concluísse o que estava me dizendo. Sentou-se e franziu os lábios.

– Os atos têm poder disse ele. – Especialmente quando a pessoa que age sabe que aqueles atos são sua última batalha. Há uma estranha felicidade em se agir com o pleno conhecimento de que o que quer que se esteja fazendo pode bem ser o último ato sobre a terra. Recomendo que você reconsidere sua vida e veja seus atos sob essa luz.

Discordei dele. A felicidade, para mim, era supor que havia uma continuidade inerente em meus atos e que eu poderá continuar a fazer, à vontade, aquilo que estivesse fazendo no momento, especialmente se gostasse daquilo. Disse-lhe que meu desacordo não era banal, mas vinha da convicção de que o mundo e eu tínhamos uma continuidade determinável.

Dom Juan pareceu divertir-se com meus esforços para dar sentido às minhas palavras. Riu, sacudiu a cabeça, coçou os cabelos e por fim, quando falei de uma “continuidade determinável”, atirou o chapéu no chão, pisoteando-o. Acabei rindo da palhaçada dele. Você não tem tempo, meu amigo falou. – É essa a desgraça dos seres humanos. Nenhum de nós tem tempo suficiente, e sua continuidade não tem significado neste mundo assombroso e misterioso. “Sua continuidade só o torna tímido”, disse ele. “Seus atos não podem ter o discernimento, o poder, a força compulsiva que têm os atos de um homem que sabe que está travando sua última batalha na terra. Em outras palavras, sua continuidade não o torna feliz nem poderoso”.

Confessei que tinha medo de pensar que ia morrer e acusei-o de me causar muita apreensão com sua preocupação e conversas constantes sobre a morte. Mas nós todos vamos morrer disse ele. Apontou para uns morros ao longe.

– Há alguma coisa ali esperando por mim, por certo; e eu irei ter lá, também, por certo. Mas talvez você seja diferente e a morte não esteja esperando por você de todo. Ele riu diante de meu gesto de desespero. Não quero pensar nisso, Dom Juan. Por que não? Não tem significado. Se está lá for a esperando por mim, por que hei de me preocupar com isso? Não disse que você deve se preocupar. Então o que devo fazer? Utilizá-la. Concentre sua atenção no elo entre você e sua morte, sem remorsos, nem tristeza, nem preocupação. Focalize sua atenção sobre o fato de que você não tem tempo e deixe que seus atos sigam de acordo. Deixe que cada um de seus atos sigam de acordo. Deixe que cada um de seus atos seja sua última batalha na terra. Só nessas condições é que tais atos terão seu devido poder. Senão eles serão, enquanto você viver, os atos de um homem tímido. E é assim tão terrível ser um homem tímido? Não. Não é se você for imortal, mas, se você vai morrer, não há tempo para timidez, simplesmente porque esta o leva a agarrar-se a alguma coisa que só existe em sua imaginação. Acalma-o quando tudo está quieto, mas então o mundo assombroso e misterioso abre a boca para você, como abrirá para todos nós, e, nesse momento, compreenderá que seus métodos seguros não lhe deram nada disso. Ser tímido impede que examinemos e exploremos nossa situação de homens.

– Não é natural viver com a ideia constante da morte, Dom Juan.

– Nossa morte está esperando e este mesmo ato que praticamos agora pode bem ser nossa última batalha na terra replicou, numa voz solene. – Eu a chamo “batalha” porque é um conflito. A maioria das pessoas passa de um ato a outro sem qualquer conflito nem pensamento. Um caçador, ao contrário, avalia cada ato; e como tem um conhecimento íntimo de sua morte, procede sabiamente, como se cada ato fosse sua última batalha. Só um tolo deixaria de perceber a vantagem que um caçador leva sobre seus semelhantes. Um caçador dá à sua última batalha o devido respeito. É mais que natural que seu último ato na terra seja o que há de melhor nele. É agradável, assim. Amortece seu medo.

– Tem razão concordei. – Só que é difícil de aceitar.

– Você vai levar anos para convencer-se e depois levará anos para agir de acordo. Só espero que você tenha tempo para isso.

Mas é fútil e desesperançoso você não ter uma certeza. Prefiro acreditar que continuarei, diferente é claro, mas continuarei com, pelo menos, minha consciência.

Discordo de você. Na verdade ele fala que temos que conviver com nossas incertezas e fazer o melhor em toda e qualquer ocasião. Confortável é achar que se tem a eternidade a seu dispor e que tudo pode ser feito amanhã. Se você prefere acreditar na consciência, é uma parte sua. Como disse, para mim, realmente não importa. Quando chegar a hora as cartas serão viradas. E independente de quem estiver certo, seja qual for a opinião, será tarde demais. O que é realmente necessário é fazer o que tem que ser feito. E isso para mim é uma regra que levo a ferro e fogo. Já se perguntou alguma fez porque eu sento na frente do micro ou mesmo fazendo algo prático e não paro até considerar terminado pelo menos temporariamente?

Faço isso porque desde que nascemos o relógio entra em contagem regressiva. E pode ser que nem mesmo seu próximo e-mail seja respondido. Quem poderá antecipar o próximo segundo? Logo, prefiro passar isso antes que sequer seja passado adiante.

Eis aqui um trecho de um texto que foi lido no livro: “Meditações sobre os 22 Arcanos Maiores do Tarot”: “Eis um exemplo de argumento por analogia: André e formado por matéria, energia e consciência. Como a matéria não desaparece com sua morte, mas somente muda de forma, e como a energia não desaparece, mas somente se modifica, também a sua consciência não pode simplesmente desaparecer, mas deve apenas mudar a sua forma e o seu modo (ou plano) de atividade. Logo, André é imortal.

Esse argumento funda-se na fórmula de Hermes Trismegisto: o que está em baixo (matéria, energia) e como o que esta em cima (consciência). Ora, se existe a lei de conservação da matéria e da energia, deve existir também, necessariamente, a lei da conservação da consciência ou imortalidade”.

Usando o mesmo exemplo para explicar o erro do autor do citado livro, basta fazer a seguinte analogia: A matéria se modifica, muda de forma. Uma pessoa que morre e se decompõe, pode virar uma flor, certo? A matéria foi conservada, mas a pessoa ainda pode ser chamada assim? Ou agora a chamamos apenas flor? Em qual das flores que ela deu origem se encontra a pessoa? Numa? Em todas?

Existe sim a conservação da energia e do espírito, mas até quando persiste aquela consciência? Já que o corpo se decompôs e se tornou outra coisa, usando a mesma analogia, não poderia a consciência se tornar outra coisa, ou pelo menos outra consciência?

O raciocínio do autor foi deveras simplista para explicar assunto tão complexo, e demonstra até mesmo ignorância dos outros textos clássicos do hermetismo, como os trechos que coloquei abaixo.

Trechos de alguns textos clássicos do Hermetismo:

“O destino da alma imortal é unir-se a Deus e contemplá-lo na eternidade, Deus é a origem da alma, que, enclausurada no corpo e no mundo, deve passar pela morte mística, a fim de retornar a seu princípio. A criação das almas, de que se ocupa o Koré Kosmou, é semelhante a um processo alquímico que, em momentos sucessivos, as distribui em diversas categorias, pois, embora sejam eternas, as almas são todas diferentes umas das outras”. – Koré Kosmou

Explicação por Fr. Goya: O próprio texto nos fala em suas entrelinhas o raciocínio básico. “O destino da alma imortal é unir-se a Deus… – quando se fala em união, quer dizer, tornar uno. A unidade não admite divisão, pois se assim o fosse, seria uma díade, e não mais unidade. “Deve retornar a seu princípio” – Reforça o trecho anterior.”é semelhante a um processo alquímico que, em momentos sucessivos, as distribui em diversas categorias, pois, embora sejam eternas, as almas são todas diferentes umas das outras” – No processo alquímico acontecem diversas uniões e novas separações, isso cria o movimento eterno dos ciclos da vida. E o trecho final pode até sugerir essa perda da personalidade. “embora sejam eternas, as almas são todas diferentes umas das outras”.

“Ora, os elementos, graças aos quais a matéria inteira tomou forma, são em número de quatro: fogo, água, terra e ar; um mundo, uma alma, um Deus.

Os gêneros de seres que acabo de mencionar ocupam todo o espaço até os lugares próprios do gênero dos quais os indivíduos, todos sem exceção, são imortais. Pois o indivíduo é uma parte do gênero – o homem é parte da humanidade – e necessariamente segue a qualidade de seu gênero. E, se bem que todos os gêneros sejam imortais, os indivíduos não são todos imortais. No caso da divindade, o gênero e os indivíduos são imortais; nas outras raças de viventes, o gênero é imortal e os indivíduos são mortais, mas nem por isso cessa a eternidade do gênero que desenvolve sua duração pela fecundidade reprodutora. Destarte, os indivíduos são mortais, os gêneros não o são: o homem é mortal, a humanidade é imortal.” – Livro Sagrado Dedicado a Asclépio, Hermes Trismegisto.

Explicação por Fr. Goya: Pelo exposto acima, pode-se concluir que à exceção dos seres pertencentes ao gênero divindade, onde gênero e indivíduo são imortais, os restantes são imortais apenas no gênero, mas mortais enquanto indivíduo.

A necessidade de ter uma consciência eterna, só revela a necessidade relativa ao ego, que não consegue ver além do próprio umbigo. É a dificuldade de aceitar que o homem não é o fim último da criação. Essa pretensão de ser eterno como indivíduo faz com que o homem esqueça da sua função. Reger a obra D’Aquele a quem nada senão o silêncio pode expressar. De maestro quer se tornar compositor, mas falta-lhe a inspiração necessária para isso e o máximo que consegue é macaquear o criador, sendo motivo de riso e de pena, diante do tribunal dos deuses.

Cito ainda abaixo, mais um trecho do texto a Asclépio:

“A alma e todas as crenças que a ela se referem, segundo as quais a alma é imortal por natureza, ou que haverá de obter a imortalidade, conforme ensinei, serão apenas motivos de riso; mais ainda: serão vistas como pura vanidade. Inclusive, creia-me, será um crime capital, segundo os textos da lei, o estar dedicado à religião do espírito”.

Conclusão

Como dissemos no início, o objetivo desse texto é induzir a reflexão. Com ele não pretendemos converter ninguém ou destruir crenças preexistentes. Mas oferecer ao estudante sincero material suficiente para uma reflexão profunda. Está feito.

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1Aristóteles, Metaf. VI, c.1, 1026 a 21-23.

2Sobre isso veja mais abaixo o tópico intitulado “O que acontece com o Corpo-Alma-Espírito após a morte”.

3Aqui Abraão, o Judeu, estabelece uma variação de Corpo-Alma-Espírito, onde a Alma volta para Deus e o

Espírito é temporário. Para uma definição de Corpo-Alma-Espírito, ver o capítulo 13 do livro citado na próxima nota.

4A Sagrada Magia de Abra-Melin – O Mago, S.L.Mac Gregor Mathers.

5O Bhagavad-Gitã Como Ele É; A.C. Bhaktivedanta Swan Prabupãda, 1986, edição completa, Fundação Bhaktivedanta Book Trust, pág.738.

6O Bhagavad-Gitã Como Ele É; A.C. Bhaktivedanta Swan Prabupãda, 1986, edição completa, Fundação Bhaktivedanta Book Trust, pág.734.

7O Livro dos Mortos era uma coletânea de textos religiosos que em sua maioria tratavam de receitas através das quais a alma permaneceria íntegra no mundo inferior ou o mundo dos mortos. O nome original do Livro dos Mortos é o Per-en-Ru, ou o Livro do Sair à Luz.

8Lumen Gentium 48.

9Catecismo da Igreja Católica, 1993, Editora Vozes Edições Paulinas Ed. Loyola, Editora Ave-Maria, pág. 245.

10Ramos Motta, Marcelo. Chamando os Filhos do Sol, Rio de Janeiro, 1962.

11Nesse caso estamos nos referindo diretamente às quatro iniciações conforme praticadas pelo Círculo Iniciático de Hermes, e essa definição não se aplica diretamente a nenhum outro grupo ou organização ocultista conhecida por nós, na atualidade. (Nota do Autor).

12Duat ou mundo inferior dos egípcios.

13Corpo, Alma e Espírito.

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