Tai Chi Chuan, I Ching e Espiritualidade

Por Frater Goya

No Ocidente, vemos o corpo, a mente e o espírito, como partes separadas do ser.

Mas no Oriente, essas partes são vistas de uma forma mais holística, de acordo com a concepção deste termo, e portanto, o Ser Humano é uma unidade pela soma dessas partes. Praticar o Tai Chi Chuan, consiste em você se colocar no mundo, estar presente a tudo que acontece ao seu redor. O próprio conceito do Tai Chi Chuan como “Box das Sombras”, conforme algumas pessoas o definem, lembra a ideia por trás da sua criação por Chen Wanting, que depois de derrotar todos os inimigos externos, voltou-se para o único inimigo que ainda não havia sido derrotado: ele mesmo. E a sombra com a qual lutamos, é nossa própria sombra: nossos medos, anseios, expectativas…

Quando praticamos Lao Jia Yi Lu (a primeira forma, ou forma longa), começamos e terminamos no mesmo local, indicando com isso, a sucessão dos dias, com o sol nascendo e se pondo ininterruptamente. O Chicote Simples é realizado 7 vezes durante a forma, fazendo um paralelo com os sete dias da semana, e as sete entradas do espírito no corpo: olhos, narinas, ouvidos e a boca.

As posturas possuem também paralelos com trigramas e hexagramas do I Ching (o Livro das Mutações) nos remetendo às mutações das manifestações do Qi no universo, e também lembra a nossa conexão com o mundo ao nosso redor: vales, montanhas, rios, lagos, trovões, etc. As posturas possuem em alguns casos, até nome similar aos hexagramas e sua descrição. Quando iniciamos a forma, nossa postura é de Wu Ji (o sem forma), associado ao diagrama do Céu Anterior, quando tudo ainda estava informe. Depois do início, com o movimento, nos associamos ao diagrama do Céu Posterior, que é o Universo manifesto em ação. E nosso enraizamento nos coloca em pé, entre o céu e a terra, remetendo aos ‘Gua’, ou trigramas. O Tai Chi Chuan torna-se o texto do I Ching em movimento, mostrando que as mutações do Qi (ou Chi) são forças atuantes, vivas e presentes a cada momento: A garça branca estende suas asas, o fazendeiro alisa a crina do cavalo, o Galo dourado se empoleira numa perna só, o Guardião de Buda soca o Pilão… e assim tudo ganha vida, tornando-nos partícipes da Criação e do universo….

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