Autor/Fonte: Rav Jaim D. Zukerwar (http://www.halel.org)
Tradução: Frater Goya (Anderson Rosa)
«Os filhos entendem a seus pais quando eles mesmos se transformam em pais. O homem começa a entender o Criador quando ele mesmo se transforma em criador, quer dizer, quando dá. »
Observamos em nosso “mapa”, que a raiz da alma está no Infinito/Ein-Sof, como nos é transmitido pela sabedoria da Kabalá:
Antes da Criação, a plenitude da Luz Infinita preenche toda a realidade não havendo espaço para que o vazio nem a necessidade se manifeste (“Etz Jaím”).
A nível de nossa percepção diríamos que a plenitude satisfaz todos nossos pensamentos, emoções e desejos, de modo que não reste nenhum outro aspecto da realidade que possa surgir e atrair nossa atenção. Antes que surja qualquer desejo ou vontade, a plenitude da Luz Infinita oprime-a, tal como acontece com o feto no ventre materno que recebe alimento e calor antes de desejá-lo. Estaríamos plenos, sem consciência do desejo, já que antes de que surja qualquer desejo, a plenitude o preenche. É como a história do príncipe que vive no palácio de seu pai, o rei. Ao príncipe, nada falta. Tudo do rei é seu, mas ele não é o rei. Logo, e continuando com o texto do “Etz Jaím”, surge o tzimtzúm/contração do desejo de receber a plenitude da Luz Infinita.
O príncipe deseja igualar-se a seu pai, o rei, mas para isso deverá deixar o palácio e criar seu próprio reino. Como conseqüência da contração do desejo de receber/tzimtzúm, a plenitude da Luz Infinita se oculta deixando um vazio dela mesma.
Isso acontece dado que não há imposição no terreno espiritual, por tanto o tzimtzúm permite que surja o livre arbitrio e possamos optar pela Luz – o bem – por nossa vontade, não por imposição.
Nosso príncipe sai do palácio e surge o desejo e a consciência de tudo o que possuía dentro do reino. Agora o príncipe começa a compreender a seu pai, já que diante da carência toma consciência do valor de tudo o que possuía, e da grande responsabilidade que implica ser rei. Como resultado do ocultamento do pleno aparece o desejo. O desejo estava incluído no estado anterior, mas não tinha a possibilidade de manifestar-se, já que a plenitude infinita oprimia o desejo sem deixar-lhe espaço para que se manifestasse. O príncipe no palácio tinha desejos, mas o rei saciava todas as suas necessidades e o príncipe não tinha consciência do que possuía. Ao deixar o palácio surge no príncipe o desejo de voltar a possuir o que já era seu, somente que agora é por sua própria necessidade e não porque seu pai lhe deu.
O estado de Infinito/Ein-Sof inclui a Luz (plenitude) e o desejo de receber a Luz em equilíbrio, mas como a Luz preenche o desejo, por conseguinte não o percebemos. Isso é análogo ao verdadeiro amor que unifica sem deixar espaço para que outro sentimento o extinga.
Após o tzimtzúm/contração do desejo de receber, aparecem os dois estados em forma independente: a Luz – plenitude, e o desejo de receber a Luz. Depois de que o príncipe deixa o palácio, surge a nostalgia de sua vida anterior. Essa nostalgia é a que move ao príncipe a querer recuperar dita realidade. O espaço criado pelo desejo, a nostalgia da Neshamá de recuperar o estado de plenitude / Ein-Sof, é a Criação. A Criação é o processo gradual que aproxima o desejo até a plenitude da Luz até ficarmos novamente como no estado de Infinito/Ein-Sof, prévio ao tzimtzúm.
Qual é a finalidade de voltar a realizar o que já existia antes da Criação? Como vimos: “Anteriormente à Criação, a Luz do Infinito preenche a realidade”. Este processo é necessário para a vontade e desejo da Neshamá, sendo que a Luz, na plenitude, não possui absolutamente nenhuma mudança nem movimento. A luz é completa em si mesma. Por outro lado, ao perder a plenitude da Luz, o desejo da Neshamá deve conseguir reconstruir o estado de Infinito por sua própria necessidade, e não receber a Luz por imposição como acontece antes da Criação.
Um exemplo claro para entender ditos conceitos é a relação entre pais e filhos. Quando o filho forma uma família e deixa a casa dos pais, aprende a ser independente e auto-suficiente como sempre quiseram seus pais, passando a ser esta sua própria necessidade e não, como era anteriormente, apenas o desejo de seus pais.
“Por isso deixará o varão a seu pai e sua mãe e se unirá a sua mulher e serão uma só carne”. (Gênesis 2:24)
Os filhos entendem a seus pais quando os mesmos se transformam em pais. O homem começa a entender o Criador quando ele mesmo se transforma em criador, quer dizer, quando dá. O desejo da alma toma conciencia da Luz quando a necessita por sua própria vontade e consciência, e não por imposição. A independencia do desejo com respeito à Luz gera novos espaços espirituais indicados em nosso “mapa” pelos 3 mundos: Briá, Ietzirá y Asiá, que indicam os diferentes graus de recepção da Luz Infinita. Os extratos da alma, também denominados da Luz, assinalam os graus de aproximação do desejo para a Luz. Na linguagem da Kabalá, o desejo é denominado kli e a Luz, Or.
Os 5 graus da Luz/Or e os 5 mundos/olamót que recebem dita Luz estão situados em nosso “mapa” um de frente para o outro, indicando assim a relação direta de cada grau da Luz/Or com seu respectivo espaço e mundo.
O tempo e o espaço apenas se manifestam a partir dos 3 mundos inferiores Briá, Ietzirá y Asiá. Isso acontece já que os 2 extratos superiores da alma – a vontade (Jaiá) e o prazer (Iejidá) – se encontram acima da influência temporal e espacial. Isso se deve ao fato da vontade e do prazer da alma não dependerem de mudanças uma vez que são permanentes. A alma somente deseja unificar-se à plenitude da Luz como o amor que unifica ao homem e à mulher para criar e darem de si mesmos. Mas quando a vontade e o prazer se revestem de pensamentos, sentimentos e ações, começa o movimento após a plenitude da Luz nos 3 mundos inferiores, Asiá, Ietzirá y Briá. Isso produz movimento a nível humano, gerando assim tempo e espaço.
A Kabalá e o Judaísmo em geral, através do estudo da Tora e a aplicação das mitzvót, se baseiam no desenvolvimento de todos esses aspectos orientados para o objetivo fundamental: guiar o desejo, a vontade e o prazer do homem para o bem coletivo.
“AMARÁS A TEU PRÓXIMO COMO A TI MESMO”