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As coisas levam o tempo que elas levam. Não dá para constranger uma planta a crescer mais rápido na base da coerção, nem a sacar o bebê de dentro do útero antes dos nove meses sem esperar algum problema no desenvolvimento do mesmo. O Arcano V, carta do Hierofante, nos lembra que o tempo do mundo não é o nosso tempo, e que a sabedoria muitas vezes consiste apenas em esperar o momento correto das coisas.
Algum texto cabalista que não consigo precisar nos adverte para não incorrermos no erro de retirar o fruto precocemente do pé, pois, assim fazendo, julgaremos injustamente o seu sabor desagradável ao paladar. Contudo, o problema nesse caso não está na qualidade do fruto, mas em nossa incapacidade de entender o tempo das coisas – como também nos ensina Salomão em Ecclesiastes.
No dia 17 de Novembro de 2017 iniciei o esboço de um texto que só logrei completar agora. Não porque me faltasse alguma das leituras que uso aqui, mas porque o tempo de maturação (ou Putrefactio) é necessário. VITRIOL.
Originalmente chamei esse texto de ‘Invocação de Harpócrates’, mas estou seguro de que qualquer thelemita aprova uma mudança quando essa envolve a utilização de alguma palavra envolvendo genitais.
De alguma forma, a re-emergência do tema que pretendo expor – a relação de Binah e Chokmah na comunicação e sua consequência para a vida espiritual – me sobreveio durante um curso que eu estava fazendo esta semana sobre ‘Debate e Argumentação’ pela Universidade de Rosário.
BUKKAKE
Evidencia-se nessa citação uma noção que eu não apreciava muito até pouco tempo – nomeadamente a de que deve-se buscar por um primor no que concerne a forma para transmitir uma idéia, de maneira a otimizar a comunicação da mesma. Pela mesmíssima razão, irritava-me o preciosismo obsessivo dos praticantes de tai-ji, por exemplo, com o lugar em que o tornozelo deveria estar, ou o movimento do quadril. Pensava nessa fixação com a forma como sendo, dentro da arte marcial, uma herança do Confucionismo em detrimento do Daoísmo. No meu entendimento do Dao, o formalismo seria como empobrecimento da ‘essência’, e, eu enxergava no apreço dispensado no dia-a-dia aos cuidados com a forma uma neurose obsessiva que privava a vida de naturalidade. Essa era minha posição até colocar sobre essa questão a lupa da Árvore da Vida.
No diagrama da Árvore da Vida, temos Kether como a coroa que representa o Uno (não o jogo, mas o Criador), e a primeira díade que se nos apresenta subsequentemente é a relação entre Chokmah (Sabedoria) e Binah (Entendimento). Entre as várias atribuições de cada sephirah, podemos elencar a de Força e Forma respectivamente.
Para ilustrar o meu ponto, pensemos em Chokmah como os espermatozóides e Binah como o óvulo. O primeiro contém o impulso inicial de energia, que se espalha por todos os lados na ejaculação, e pertence ao segundo a propriedade de selecionar qual aspecto dessa energia sem limites receberá as condições de seguir vivendo. Dessa maneira, ao selecionar uma parte e eliminar outras, Binah é a sephirah doadora da vida, mas também da morte, que sobrevirá não somente àqueles espermatozóides que não acolhidos, mas ao próprio gameta sortudão que o foi, pois ao ganharmos vida essa nos vem com prazo de validade; ao recebê-la, recebemos a morte, tipo um McLanche feliz.
QUOD EST INFERIUS EST SICUT QUOD EST SUPERIUS
De maneira semelhante, a forma de uma idéia é o veículo que a manifesta, e essa é a manifestação de Binah no pensamento. Curiosamente o hemisfério esquerdo do cérebro tem função análoga no controle das funções verbais. Ao escolhermos um determinado vocábulo em detrimento de outros, determinado tempo verbal, ou esta metáfora ao invés daquela digressão, estamos colocando uma forma, uma estrutura em nosso pensamento, que será o veículo para nossa idéia, que é Chokmah. Ao sentar para escrever esse texto, fui elencando as idéias conforme elas vinham, em um brainstorm sem qualquer tipo de filtro. Em um segundo momento, fui fazendo uma triagem e uma organização de quais idéias seriam utilizadas e em qual ordem, e quais deveriam ser eliminadas. Para existir a estátua, tudo que não é estátua no bloco de pedra precisa ser excluído.
Àqueles intrépidos curiosos sobre como esse princípio se aplica na comunicação escrita, por exemplo, podemos sugerir The Philosophy of Composition, em cuja obra Edgar Allan Poe destrincha magnificamente a maneira pela qual deu luz a sua obra prima The Raven, pensando a estrutura para depois encaixar sobre ela a idéia. Binah dando forma a Chokmah.
PRAZER, YHVW, MAS PODE ME CHAMAR DE ADONAI
Esta união entre Binah e Chokmah é presente no nome sagrado YA (יה), primeira metade do tetragramaton. Chokmah é o Yod (י), simboliza uma semente, como também representado no trigal da carta do Eremita (Arcano IX). É a vida, a luz e o sêmem, entre outros sentidos correlatos. E Hadit, claro. Binah, por sua vez, é o Hey (ה), letra hebraica que representa uma abertura da tenda para o exterior, a janela, e representa a passagem do canal vaginal tanto para a fecundação do útero, quanto para a saída para a nova vida. Esta idéia se encontra expressa na carta da Estrela (Arcano XVII) onde as águas da criação emanam de um dos jarros que Nuit segura, representando a manifestação da vida em leite e sangue, como podemos ler na descrição de Crowley no Livro de Thoth:
Falando ainda essa semana sobre essa carta com um Companheiro de Jornada, fui perguntado se essa carta seria sobre o clitóris, ao que respondi que a carta da Estrela, ATU XVII, ao menos para mim, corresponde ao útero, em sua função de acolher e dar forma e vida ao impulso criador, ao passo que o Arcano XI corresponderia ao sexo como prazer e poder, o Arcano III à percepção da mãe do que seria a gravidez e ao processo de concepção, e o Arcano XXI como a vulva enquanto porta efetiva de entrada e saída no mundo.
Vale ainda destacar que Crowley coloca o Arcano III, a Imperatriz, justamente no caminho que une Chokmah a Binah na Árvore da Vida, e novamente temos que a noção de geração de vida na Imperatriz que está grávida, e interpreto a questão do sacrifício, eliminação do excesso e a morte implícita na vida como representados no pelicano que rasga o próprio peito para alimentar sua cria.
ARISTÓTELES, KANT, HEGEL E MARX NA CASA DE SWING
Essa união proposta no caminho da Imperatriz se reflete mesmo na própria etimologia da palavra ‘diálogo’.
Assim, a etimologia de diálogo ‘nada tem a ver com o prefixo di-, proveniente do grego δίς (dís), que exprime a ideia de dualidade’, mas do processo de ‘um com o outro, um contra o outro’ representado pelo prefixo ‘διά (diá)’, que nos apresenta a idéia de dialética como forma de conhecimento. Assim, o objetivo do diálogo é transcender a dualidade, integrando idéia e forma em uma síntese para um falante, e construindo conhecimento em conjunto com o interlocutor. Penso que esta é a idéia original do Satan como ele aparece no Antigo Testamento. Satan, שָּׂטָן em hebraico, significa ‘opositor’ ou ‘adversário’ apenas. Faria, no meu entendimento, a função de nos apresentar uma antítese de nossa visão, para que no processo de síntese houvesse avanço. Curiosamente Lúcifer quer dizer ‘aquele que porta a luz’, em latim, e poderia ser entendido também como aquele que possibilita esse avanço.
Essa idéia também vai ao encontro da Psicologia Analítica, em que esse opositor, essa antítese, essa sombra não deve ser hostilizada ou recusada, mas assimilada.
Se pensarmos na quipha de Thaumiel, que é a casca correspondente à Kether, temos justamente a ideia de que há dualidade onde deveria haver a busca por unidade, como a Face de Janus, em que cada lado olha para uma direção oposta, ao invés de tentar olhar para a mesma questão. Note-se que isso representa a completa falta de contato entre duas faces, e penso que isso simboliza o insucesso que advirá de nossa preocupação com somente um dos aspectos em detrimento do outro.
Para que haja manifestação, seja de uma mensagem, seja de um feto, seja de qualquer outra coisa considerada a partir do diagrama da Árvore da Vida, há que se ter uma relação e uma tensão entre as forças opostas, e não uma separação.
Pensando até em uma alegoria com a Física, é a diferença de potencial que gera a corrente elétrica, se me lembro bem. Mas como sou de humanas, não apostaria muito nessa analogia…
VISHUDDHA
De qualquer maneira, a vida, a luz e a comunicação de idéias carecem de que se transmita o impulso criador desde Chokmah até Binah, para que então possam ganhar forma e se manifestar efetivamente abaixo do abismo, passando a existir objetivamente no mundo, já em Chesed.
Curioso observar também que, quando pensamos no corpo humano sobreposto à Árvore da Vida temos Da’at localizada na garganta. Assim, poderíamos pensar que Da’at é o portal de manifestação para essa união de Chokmah e Binah, da mesma forma que a fala é a manifestação da idéia e da forma.
Essa é provavelmente a idéia por trás de ABRACADABRA, palavra ‘mágica’ ubíqua na tradição popular. BARAH é o verbo ‘criar’ (ברא), embora em hebraico ele só possa ser utilizado tendo o Criador como sujeito, como no Gênesis 1,1. DAVAR ( דָּבָר ) significa ‘coisa ou palavra’, e da mesma raíz, DIBBER ( דִּבֵּר ) é ‘dizer’ algo. Assim, embora eu entenda que seja controverso, dou crédito à interpretação de que ABRACADABRA significa algo próximo de ‘crio enquanto falo’, ou ‘crio através do falar’. Também entendo que há uma interpretação interessante de ABRAHADABRA, a Palavra do Aeon para Crowley, relacionada à essa idéia de união entre Chokmah e Binah.
JUST SMILE AND WAVE, BOYS. SMILE AND WAVE…
Até aqui, segui com a díade Chokmah e Binah mormente enquanto força e forma no processo de formação do discurso dentro de nossa caixola. Mas essas duas forças podem ser vistas interagindo não somente no universo interno do sujeito, mas também quando analisamos o falar enquanto fenômeno intersubjetivo.
Quem comunica comunica algo a alguém. Assim, temos um falante que emite o discurso e um ouvinte que o acolhe. E aqui eu sinto que temos todos uma grande lição a aprender, que é uma das quatro virtudes fundamentais do ocultismo: o calar.
Acabo de mencionar acima a frase ‘crio enquanto falo’, mas penso que algo ainda mais divinal ocorre quando nos colocamos como receptores da fala. Penso que uma das grandes formas de criarmos a realidade é através de nossa capacidade de ouvirmos uma conversa.
Quando pensamos em ‘calar’, normalmente pensamos somente em não estarmos produzindo fala enquanto mais alguém está a falar. Mas o ‘calar’ da esfinge é mais do que meramente fechar a matraca. Lembremos que o calar é a virtude relacionada ao elemento terra – que é normalmente relacionada a Malkuth, e que essa é o receptáculo para aquilo que vem dos planos superiores. É através do elemento terra que damos forma ao mundo, e novamente temos aqui no silêncio a energia de Binah como o receptora que dará a forma – e podemos ver o relacionamento íntimo das sephiroth Binah e Malkuth nessa situação: o grande Hey (ה) e o pequeno Hey (ה) do tetragrammaton. A rainha e a princesa. Fernanda Montenegro e Fernanda Torres. Iguais, mas diferentes.
Quando alguém fala, em uma conversa, lamentavelmente o que se tem é pessoas que se restringem minimamente por educação até que possam interromper, e enquanto se esforçam para ficar em silêncio externo estão sempre pensando algo nas seguintes linhas ‘OK, você pode até ter uma história assim, mas deixe-me contar o que me aconteceu numa festa em…’. Ou seja: a pessoa não está prestando atenção. Ela só não está falando; não se coloca como receptiva de fato àquilo que o outro está oferecendo. Sua mente e seu ego estão preparando uma história que julgam mais interessante, ou querendo fazer algo que entendam como mais vantajoso do que simplesmente oferecer um momento de atenção genuína a outra pessoa, sem pré-julgamentos e sem pressa. Sua Binah não está ativa.
Isso é OUVIR? Na minha vila, não.
Em seu sensacional livro The Art of Conversation, Catherine Blyth relata que uma distinta dama da sociedade londrina capturou a essência da diferença entre dois primeiros ministros tidos como excepcionais:
O ato de ouvir (ouvir de verdade) a alguém pode ser de uma generosidade quase ímpar e pode fazer toda a diferença na vida do outro e na nossa.
Durante o Yom Kippur, o deus do povo de Israel em Levítico 16,8 – 21 pede que o Sumo Sacerdote confesse os pecados, iniquidades e transgressões do povo para o bode de Azazel, para depois esse bode ser levado para morrer sozinho do deserto. Foda para o bode, né? Para que houvesse a expiação completa do povo, os pecados precisavam ser confessados. O poder reparador de uma confissão também pode ser visto no Sacramento da Confissão ainda em vigor na Igreja Católica, no atendimento à Assistência que as entidades de Umbanda oferecem, e até mesmo na psicoterapia e no apoio emocional e prevenção ao suicídio oferecido pelo Centro de Valorização da Vida – CVV 188.
Ouvir é acolher, e oferecer aceitar o outro. Esse é o significado da imagem da Prostituta Sagrada, Babalon, antropomorfização de Binah: tudo recebe, tudo acolhe e a ninguém rejeita. Esse é o sagrado ouvir, que dá sabedoria ao ouvinte e conforto ao falante.
Isso não quer dizer que o ouvinte não poderá ter uma visão crítica sobre o que é dito, mas isso deverá ser posterior ao honesto ato de ouvir, oferecendo a generosidade de se calar para dar oportunidade que o outro fale.
NÃO SOU EU QUEM VIVO, MAS CRISTO QUEM VIVE EM MIM
O capítulo 11 do Dao De Jing nos traz a seguinte passagem:
Curiosamente, tanto o jarro, que é carregado por Nuit, quanto a janela, representada pela letra Hey, estão presentes no Arcano XVII.
Para que se possa encher um recipiente, ele precisa estar vazio. Parece óbvio, mas não se pratica o senso comum no dia a dia. Basta ver o desespero de alguém que tenta debater com o Donald Trump. Ele está tão cheio de sua verdade que não cogita nem por um segundo que pode estar errado, ou que alguém pode contribuir com algo.
ESCUTAI, ISRAEL. ADONAI É O SEU DEUS. ADONAI É UM.
Ouvir é exercitar a capacidade de se tornar um receptáculo, mas esse receptáculo não pode estar cheio a priori. Ele precisa ser preenchido pela fala do outro, que faz a função de Chokmah. Somente após estar realmente esvaziado de si mesmo e dar uma chance para que o outro nos preencha é que podemos realizar uma triagem do que foi dito pelo outro, dando então formato, sintetizando idéias ou eliminando aquilo que for inútil ou falácia.
O silêncio interno pode direcionar a conversa, a partir daí, dando formato a ela por meio de uma pergunta feita ao interlocutor.
No ocidente, nossa ideia de Binah, feminino e receptivo é errônea, e normalmente visualizamos essa força como simplesmente passiva e inerte. Semelhante entendimento é dado ao conceito de Yin, quando um ocidental pensa no misticismo chinês.
Contudo, precisamos observar, a partir dessa análise que fizemos, como o fluxo da conversa pode ser facilmente controlado por aquele que ouve. Em uma analogia questionável, o homem oferece seu interesse, mas cabe à mulher escolher se aceita ou não. Ou será só uma coincidência que a mulher está usando lingerie no primeiro encontro em que você consegue ir para a cama com ela, ó rei da conquista? Na mulher todo o poder é dado, como expresso no comentário de III:55.
Inclusive, essa pode ser uma analogia que Crowley aprovaria. Para podermos ser preenchidos pelo divino (basicamente comidos por Deus), temos que criar um estado de silêncio e receptividade internos tão grandes (recipiente, ou ‘vulva espiritual’ para os mais pervertidos), para que possamos nos unir a Deus como é descrito, inclusive, no Cântico dos Cânticos.
O DAO, O CÉU, A TERRA E O SER HUMANO
Em nossa sociedade, damos tanto valor ao papel de destaque daqueles que estão nos púlpitos e sob os holofotes, e nos sentimos ansiosos para falar e para ‘sermos ouvidos’, embora essa noção se ser ouvido seja bastante ridícula, porque o outro não nos estará ouvindo, mas apenas se contendo para não falar junto. Só existimos, só somos alguém quando estamos falando – quando somos Chokmah.
Em tempo, o termo usado no Daoísmo para o Homem Superior, ou Homem Perfeito, ou ainda o Sábio, a depender da tradução utilizada, é composto por dois ideogramas. Um deles, o segundo, é apenas um símbolo que identifica ‘pessoa’. O primeiro ideograma do conceito, é composto por 3 subcomponentes – 3 ideogramas mais simples, que formam uma ideia mais complexa. Os três ideogramas significam ‘ouvido’, ‘boca’ e ‘rei’. Nunca li nada a respeito disso especificamente, então peço perdão àqueles que souberem mais. Mas tentei bastante procurar a origem real, e não encontrei. Contudo, derivo desta composição dos ideogramas radicais um sentido que se está, penso eu, alinhado também com o conceito de não-ação, então não deve estar tão longe do sentido verdadeiro:
O Homem Superior é aquele que é domina (rei) o equilíbrio entre o momento de falar (boca) e o momento de ouvir (ouvido); é o senhor de sua boca e ouvido. Sua mente não se apressa em julgar e nem a chegar em conclusões sobre o que está escutando, e nem pretende interromper sem necessidade. Abre-se como um recipiente para acolher àquilo que é oferecido pelo universo (dao) e também não tem constrangimento em oferecer seu silêncio nos momentos em que não sabe.
Saber que não se sabe é o primeiro passo para a sabedoria, como se atribui a Sócrates.
E esse silêncio por não ter nada a dizer também está presente na história bíblica de Jó, quando em Jó 3, 11 sentaram seus amigos com ele em silêncio por sete dias e sete noites, quando Jó estava em uma bad desgraçada.
Diversas são as vezes em que Jesus se retira e se recolhe para o silêncio, segundo o Novo Testamento. Entendo que esse é o significado da passagem quando em Marcos 4:35-5:43 Jesus aquieta a tempestade. Essa tempestade é a tempestade de nosso interior, de nossa mente, que precisa ser aquietada para que possamos navegar em segurança.
Penso que valorizar o silêncio como forma de contemplação é uma das lições possíveis de serem aprendidas no Shemá, oração judaica rezada todos os dias, pela manhã e à noite, que repete as palavras de Devarim (Deuteronômio) 6:4-9. Escutai, Israel. Escutai. Para isso, há que se fazer silêncio, em primeiro lugar.
Ficar em silêncio pode expressar tantas emoções e servir a tantos propósitos que não seria possível explorar a todos em um único texto.
Gostaria, contudo, de encerrar esse texto explorando o silêncio em uma das facetas que o próprio Livro da Lei apresenta: que o teu sucesso seja tua prova (III, 42).
Não gaste seu tempo se justificando e nem tentando provar para outra pessoa o seu valor. Utilize a faceta de Binah que cala sobre isso e dê formato a sua vida através da manifestação de sua essência, de seus valores e de sua Verdadeira Vontade. Lembre-se de que Binah também é a restrição de tudo aquilo que não cabe no seu projeto, e esforce-se para espelhar em sua vida aquilo que você realmente acredita e quer ser. Fake it till you make it. Cada dia e cada passo são cruciais para te colocar mais próxima de se tornar senhora de si.
Lembre-te que o Arcano do Aeon, Atu XX, Estela da Revelação, apresenta a criança coroada em gesto de Harpócrates, o senhor do Silêncio. Faze o que tu queres há de ser o todo da Lei. Tu não tens direito a não ser fazer a tua vontade. Que o resto seja silêncio e a busca pela Cidade das Pirâmides (III,62).
REFERÊNCIAS
Blyth, Catherine. The Art of Conversation. 1st ed., New York, Gotham Books, 2009.
Ciberdúvidas da Língua Portugues. “’A etimologia de diálogo e diabo .’” https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/, 22 12 2015, https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/consultorio/perguntas/a-etimologia-de-dialogo-e-diabo/33694. Accessed 04 10 2020.
Crowley, Aleister. The Book of The Law – Liber Al vel Legis. 5th ed., San Francisco, Red Wheel / Weiser, 2004.
Crowley, Aleister. The Book of Thoth. Nova York, Red Wheel / Weiser, 2015.
Crowley, Aleister. “A Mulher em Thelema segundo Liber Al Vel Legis III,55.” http://cih.org.br, http://cih.org.br/cih_new/?p=128. Accessed 04 10 2020.
Equipe Editorial. “Etimologia de Diálogo.” Etimologia – Origem do Conceito, 2019, https://etimologia.com.br/dialogo/. Accessed 04 10 2020.
“Esvazie a sua Xícara.” Alta Performance Carla Ribeiro, 20 12 2016, https://blogaltaperformance.carlaribeiro.com.br/. Accessed 04 10 2010.
James, William. “William James.” Escritas.org, https://www.escritas.org/pt/t/15118/o-exercicio-do-silencio-e. Accessed 04 10 2020.
Jung, Carl G. Sobre Sonhos e Transformações. Translated by Lorena Richter, 3ª Reimpressão ed., Petrópolis, Editora Vozes, 2017.
Tsé, Lao. Tao Teh King. Translated by Maria Lucia Acaccio, Editora Isis, 2003.
URosarioX. “URosarioX URX06 Debate y argumentación – Tus ideas necesitan del debate.” EdX, https://learning.edx.org/course/course-v1:URosarioX+URX06+1T2020/block-v1:URosarioX+URX06+1T2020+type@sequential+block@afa1735ab71e4679979502fc9065303a/block-v1:URosarioX+URX06+1T2020+type@vertical+block@c6bda02005104698b2bcd1eda4ba223a. Accessed 04 10 2020.