Os Princípios do Ritual

Por: Frater Perdurabo , in Magick in Theory and Practice
Tradução: Frater Goya

Existe apenas uma definição do porquê de todo Ritual Mágico. É unir o Microcosmos com o Macrocosmos. O Ritual Completo e Supremo é então a Invocação do Sagrado Anjo Guardião, ou, em linguagem Mística, a União com Deus.
Todos os demais Rituais Mágicos são casos particulares deste princípio geral, e a única desculpa para executá-los é que algumas vezes ocorre que alguma porção particular do Microcosmos é tão débil que sua imperfeição da impureza contaminará o Macrocosmos do qual ele é uma imagem Eidolon, ou reflexo. Por exemplo, Deus está acima do sexo, e por este motivo nem o homem nem a mulher podem-se dizer que compreendam, e menos ainda representem a Deus. Portanto, é de suma importância que o Mago masculino cultive aquelas virtudes femininas nas quais seja deficiente, e isto deve conseguir sem atrofiar sua virilidade de forma alguma. Então o Mago estará em seu pleno direito de Invocar a Ísis e identificarse com ela. Se ele não conseguisse, sua apreensão do Universo quando conseguisse o estado de Samadhi se veria debilitado por não conhecer o conceito de maternidade. O resultado seria uma limitação metafísica e por corolário, ética, na Religião que ele fundara. O Judaísmo e o Islã são casos claros deste fracasso.
Para tomar outro exemplo, a vida ascética que a devoção à magia invólucra argumenta uma pobre natureza, apenas uma busca, uma falta de generosidade. A Natureza é infinitamente prodigiosa – nem uma de cada mil sementes germinam. O que não a conheça, que invoque a Júpiter.
O perigo da Magia Cerimonial – o perigo mais sutil e profundo – está no seguinte: que o Mago terá a tendência de invocar aquele ser parcial que mais atrai, e desta maneira seu excesso natural, naquela direção, aumentará. Que o Mago antes de iniciar seu trabalho se esforce em aplainar seu próprio ser, que converta suas invocações de tal forma que volte a conseguir o equilíbrio. Isto, por suposto, deveria ser feito durante a preparação dos utensílios e mobiliário do Templo.
Considerando de uma maneira mais particular esta questão da natureza do Ritual, nós podemos supor que ele ainda não tem em seu poder os valores da Vida e da Morte, de indivíduos e de raças, que é característico da Natureza. Ele pode ter a tendência de perceber a “primeira nobre verdade de Buda” que tudo é aflição. A Natureza – pelo menos assim parece – é uma tragédia. Ele pode no melhor caso, haver experimentado o grande transe chamado aflição. Ele deve então considerar se não existe uma Deidade que expresse esse ciclo, e que ainda assim sua natureza é a alegria. Ele encontrará o que necessita em Dionísio.
Existem três métodos principais de invocar uma Deidade.
O Primeiro Método consiste na devoção àquela Deidade, e por sua natureza e caráter místico, não é necessário ampliá-lo mais aqui, já que existe uma instrução perfeita nesta direção no Liber 175.
O Segundo Método é a invocação cerimonial. É o método que normalmente se empregava na Idade Média. Sua vantagem é que é direto, sua desvantagem é sua simplicidade. A “GOETIA” ensina seus métodos e também muitos outros Ritos, brancos e negros. Agora dedicaremos um breve espaço a esta Arte.
No caso de Baco, podemos indicar brevemente o procedimento. Como podemos observar, o simbolismo de Tiphareth expressa a natureza de Baco. É necessário então construir um Ritual para Tiphareth. Abrindo o Liber 777, encontraremos na sexta linha de cada coluna as partes requeridas para construir o nosso
ritual. Havendo organizado tudo corretamente, nós exaltaremos nossas mentes repetindo invocações no conceito mais elevado de Deus, até que, num sentido ou outro da palavra, Ele apareça-nos e nos inunde nossas consciências com a Luz de Sua Divindade.
O Terceiro Método é o dramático, e pode ser o mais atraente de todos;
pelo menos ao temperamento do artista, porque é agradável à sua imaginação através dos sentidos.
Sua desvantagem reside principalmente no grau de dificuldade de sua execução por apenas uma pessoa. Mas tem o voto da mais alta antiguidade, e provavelmente é o mais útil para a fundação de uma Religião. É o método do Cristianismo Católico, e consiste na dramatização da vida do Deus. “As Bacantes” de Eurípedes é um magnífico exemplo deste Ritual; e também, mas num grau menor, é a Missa. Também podemos mencionar muitos dos graus da Franco-Maçonaria, e em particular, o terceiro. O Ritual do 5=6 publicado no NºIII do Equinox é outro bom exemplo.
No caso de Baco, se comemora primeiro seu nascimento de uma mãe mortal que entregou sua casa do tesouro ao Pai de Tudo, dos ciúmes e da raiva, excitados por essa encarnação, e da proteção celeste prestada a este infante. Depois deve-se comemorar sua viagem até o Oeste sobre um jumento. Agora vem uma grande cena do drama: o gentil e querido jovem com seus seguidores (principalmente mulheres) parecem por em perigo a ordem estabelecida das coisas, e aquela Ordem Estabelecida toma medidas para por fim ao perigo. No encontro de Dionísio com o Rei louco, sem que seja sobre si, mas com humildade; e ainda assim com uma confiança sutil. Ele está coroado com folhas de parreira. Ele é uma figura afeminada com essas folhas sobre sua fronte? Mas aquelas folhas ocultam chifres.
O Rei Pentheus, representante da respeitabilidade, é destruído por seu orgulho. Ele caminha até as montanhas para atacar as seguidoras de Baco, o jovem do qual havia ludibriado, flagelado e colocado a ferros (preso), e que apenas havia sorrido. E que pelas mãos dessas mulheres, em suas loucuras divinas, havia sido destroçado. Parece mais uma impertinência ter ido tão longe quando Walter Pater já contou o conto com tanta simpatia e profundidade. Não continuaremos pecando ao falar da identidade desta lenda com o curso da natureza, sua loucura, sua prodigalidade, sua intoxicação, sua alegria e, sobre tudo, sua persistência sublime nos ciclos de Vida e Morte. O leitor pagão deve esforçar-se em compreender isto
no estudo de Pater intitulado Greek Studies, e o leitor Cristão reconhecerá, incidente após incidente, como o conto do Cristo. Esta lenda é simplesmente uma dramatização da Primavera.
O Mago que deseja invocar Baco através desse método, deve elaborar uma cerimônia na qual ele interpreta o papel de Baco, passando todas as etapas de sua vida, e emerge ao final triunfante da morte. Ainda que deva-se advertir para que ele não confunda o simbolismo. Neste caso, por exemplo, a doutrina da imortalidade individual foi retirada do conto para a destruição da verdade. Não é sua parte ausente de valor, sua consciência individual como José Garcia a que enfrenta a Morte – aquela consciência que morre e renasce a cada pensamento. O que persiste (se qualquer coisa realmente persiste) é seu verdadeiro José Garcia, uma qualidade que seguramente ele nunca foi consciente durante toda sua vida.
Inclusive aquele não persiste sem mudança. Sempre está crescendo. A Cruz é simplesmente um talo, e as pétalas da Rosa caem e apodrecem; mas na união da Cruz e a Rosa há uma sucessão constantes de novas vidas.
Sem esta União, e sem esta morte do indivíduo, o ciclo se romperia. Um capítulo será consagrado a eliminar as dificuldades práticas desse método de Invocação. Sem dúvida alguma, a maioria dos leitores terão notado que as essências dos 3 métodos são simplesmente uma. Em cada caso o Mago se identifica com a Divindade Invocada. Invocar é chamar para dentro, e Evocar é chamar para fora. Esta é a diferença essencial entre os ramos da Magia. Na Invocação, o macrocosmos chega à consciência. Na evocação, o Mago se converteu no macrocosmos e cria um microcosmos. Invoca-se um Deus no Círculo. E se Evoca a um espírito no Triângulo. No primeiro método a identidade com o Deus se consegue com Amor e Entrega, descartando toda a ilusão de si mesmo. É a limpeza de um jardim.
O segundo método a identidade se consegue dedicando especial atenção na parte desejada de si mesmo: positivo como o primeiro método é negativo. É o semear de uma planta determinada do jardim, regando-a e colocando-a ao sol.
No terceiro, a identidade se consegue por simpatia. É muito difícil para o homem comum entregar-se por completo ao objeto de uma obra ou romance, mas para os que o podem conseguir, este método é sem dúvida, o melhor.
Deve-se observar: que cada elemento neste ciclo tem igual valor. É ruim dizer “Mors janua vitae” se não acrescentas com igual triunfo, “Vita janua mortis”.
Aquele que compreende essa cadeia dos Aeons desde o ponto de vista da Ísis aflita e também do Osíris triunfante, sem esquecer sua união com o destruidor Apóphis, não existe para ele nenhum segredo da natureza. Ele exclama aquele nome de Deus que durante toda a história foi eco de todas as Religiões, o infinito I.A.O..

1 Ver O Livro da Sagrada Magia de Abramelin, o Mago, e o Líber 418, oitavo Aethyr, Líber Samekh.
2 A diferença destas operações é mais uma importância teórica que prática.
Há também considerações mais profundas, no que parece que “Tudo o que é, ou existe, é bom”. Menciona-se noutra parte. Apenas podemos expressar a ideia principal dizendo que a sobrevivência do melhor da espécie é seu seguro de
perpetuação.
3 O método ideal para faze-lo pode-se aprender no Líber 913. Ver também o Líber CXI Aleph.
4 Liber Astarte vel Liber Berylli – Líber CLXXV.
5 Esta é uma representação muito mais profunda na qual Pantheus interpreta o papel do “Deus Moribundo”. Ver minha obra intitulada “Boa Caça” e “O Ramo Dourado” de J.G. Frazer.
6 Ver (The Book of Lies, O Livro das Mentiras) Liber 333, para vários ensaios a esse respeito. Capítulos A, Delta, H IE, IF, IH, KA, KH, em particular.
A reencarnação do Khu ou Eu mágico é outra coisa por completo, demasiado abstrata para discutir nesse manual elementar.
7 Ver O Livro das Mentiras, Líber 333, para vários textos a esse respeito. Toda a teoria sobre a morte pode ser encontrada em Líber CXI Aleph.
8 “A morte é a porta da vida”.
9 “A vida é a porta da morte”.
10 Este nome, I.A.O., é qabalisticamente idêntico ao da Besta e seu número 666, e assim o que invoca o primeiro, invoca necessariamente o segundo. Também com AIWAZ e o Número 93.

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