por Nei Ricardo de Souza
Eis um sentimento polêmico, sobre o qual muito se tem falado, inclusive com as maiores contradições. Posso mencionar o hedonismo, filosofia que faz da obtenção do prazer o objetivo final da vida e que procura rejeitar a angústia como um estado de sofrimento. Em outro extremo há o existencialismo, que retira a angústia de sua posição eminentemente doentia para elevá-la a um sentimento tipicamente humano, que somente o homem pode sentir ao tomar contato com sua condição de ser no mundo. Sob outro enfoque, a angústia tem sido responsável por levar inúmeras pessoas para a terapia, na busca pelo alívio, ou mesmo pela sua finalização. Examinemos algumas considerações sobre o tema.
É sabido que do confronto entre duas forças sempre predomina a mais intensa, tal ocorre também com a angústia. A própria palavra nos indica isso, pois angústia é a qualidade de uma passagem estreita e apertada. O sentimento de angústia parece exatamente assim, ou seja, uma opressão, como se as paredes de nosso mundo nos esmagassem e impedissem nossa passagem pela vida, transformando-a em uma existência desgastante que visaria unicamente evitar o aniquilamento.
As pressões que o mundo exerce sobre o ser humano estão presentes de diversas maneiras, por exemplo, na situação econômica, política, na busca pela sobrevivência, na concorrência, no consumismo, no poder das instituições e em todas as exigências que a vida nos impõe no dia a dia. Existem, portanto, muitas forças incidindo sobre o indivíduo que representam esta forte tensão que experienciamos sob o nome de angústia. Tal ação conduzirá, inevitavelmente, ao aniquilamento se não houver uma reação capaz de lhe fazer frente.
O homem, contudo, diante de agressão tão extraordinária reage passivamente. Chora, adoece, cede a esta angústia ou tenta compensar-se buscando elementos externos para mascará-la, usando-os, em verdade , como se fossem analgésicos.
Pelo o que exponho gostaria de levá-los a concluir que só conseguiremos vencer o sentimento de angústia produzindo uma força que neutralize , ao menos em parte, aquele conjunto de forças que é responsável pela produção desse sentimento. Creio, também, que todos concordamos ser necessário vencer a angústia, pois quem a sente sabe o quão desagradável é.
Um dos métodos para criar esta força é o desenvolvimento integral do ser, que se estende aos três aspectos humanos denominados pensar, sentir e agir. Eles seriam constantemente examinados e refinados até o ponto que resultasse na consci6encia de si de cada indivíduo. Pois é a consciência de si um dos elementos que permitem ao homem livrar-se da angústia, porque ao se conhecer não precisa mais buscar fora dele a solução para seus problemas. Não obstante, suas experiências no mundo passam a ter, por assim dizer, um colorido novo, pois fornecem elementos que passam a auxiliá-lo na sua evolução e não mais a oprimí-lo. É como se fôssemos indivíduos derrotados em uma briga que decidimos treinar e nos tornar lutadores. Os mesmos elementos que nos foram prejudiciais derrotando-nos no passado, são os que permitem nossa evolução dentro da nova postura de vida, mas isso só é possível mediante uma mudança inicial.
O outro elemento que nos livra da angústia é a busca de um sentido para a vida, pois para evitar que as diversas correntes e circustâncias do mundo nos esmaguem, nada melhor que adotar uma direção única de progresso e expansão, escolhida dentro das possibilidades de cada um.
Estes dois fatores, consciência de si e um sentido para a vida, permitem que os transformemos de sujeitos ao mundo em indivíduos, dotados de nossas particularidades e de nossa contribuição ao mesmo. Criamos assim uma fonte de energia inesgotável, capaz de evitar o aniquilamento existencial e preencher nossa vida com significados maiores do que a angústia, cuja função é denunciar a falta deles.