Fratris et Sorores, demais companheiros de ordem:
Faze o que tu queres, há de ser o todo da Lei.
Depois de muito meditar, na verdade meditar até os pensamentos não terem mais sentido e a alma não ter mais anseios, pude perguntar. Àquele a quem nada a não ser o silêncio pode expressar, o que realmente poderia ser feito por meio de nossas mãos e de nosso trabalho. “Mãos que fazem alguma coisa de útil mergulham nas profundidades do ser e dali extraem uma fonte de bondade e paz. A traição dos clérigos principiou no dia em que representaram um anjo com asas: pois é com as mãos que se sobe aos céus” .
A voz vibrante do espírito, qual Athena respondendo a Ulisses, ressoa dentro do ser e então responde sem deixar dúvidas quanto ao que dever ser feito: “Os deuses não farão pelos homens aquilo que os homens devem fazer por si mesmos…” . Meu espírito até então perturbado e inquieto se acalma, pois encontro material suficiente para trazer aos presentes sobre nossa posição diante de uma sustentação da vida no planeta.
Representantes que somos daqueles que a nós pedem orientação e saída para não serem vítimas de uma realidade frustrante, não devemos em momento algum nos omitir ou nos esquivar de tomar uma posição sólida, arrojada e efetiva perante o mundo que nos rodeia. Olhando ao redor, vemos pessoas que se dizem preocupadas com o meio ambiente, com causas sociais, protetores de minorias. Muitos portam o importante título de Utilidade Pública, porém sem ter utilidade alguma. Sei que este quadro
não representa todos, mas posso seguramente dizer que representa uma maioria.
Não é apenas a baleia azul ou o mico leão dourado os ameaçados de extinção. Mas para onde caminha a humanidade enquanto caminhamos com passo de ganso sem direção ou objetivo? Quando nos preocuparemos efetivamente com um todo, ao invés de nos preocuparmos apenas com uma parte? O verdadeiro objetivo dos primeiros rosacruzes era a busca de um conhecimento unificado, do todo, uma Pansofia, ou como alguns mais modernos preferem, um conhecimento holístico. Nos antigos manifestos parisienses podemos ler: “Como um prelúdio ao que sucederá mais adiante, haverá agora uma reforma geral, tanto de coisas divinas como humanas, conforme desejamos, e outros esperam. Pois, é natural que, antes do nascer do Sol, surja a AURORA, ou alguma claridade, ou divina luz, no Céu; e, entretanto, alguns, que darão seus nomes, se reunirão para aumentar o número e o respeito de nossa FRATERNIDADE, dando feliz e tão desejado começo aos nossos Cânones Filosóficos, para nós prescritos pelo nosso irmão R.C., participando então dos nossos tesouros (que nunca se esgotam ou corrompem), com toda humildade, e amor que os alivie do labor e das misérias deste mundo, de modo que não caminhem tão cegamente no conhecimento das maravilhosas obras de Deus.” – FAMA FRATERNITATIS (1614).
Naqueles tempos, poucos eram os grupos e menos ainda numerosas as pessoas que ousavam se agremiar em tais instituições. Hoje, em tempos de economia global, internet, derrubada de fronteiras políticas, resta-nos ainda uma última fronteira: a fronteira humana, do preconceito, da ignorância e da jactância de alguns. De que adianta derrubar barreiras políticas e não se derrubar as barreiras espirituais?
Nunca esteve tão próximo de grupos como estes que estamos hoje aqui representando, o sonho de uma unidade. Unidade na pluralidade de crenças, objetivos e métodos. Porém, aquilo que vemos é a discórdia e a desunião entre aqueles que deviam estar irmanados num objetivo maior.
Fala-se em paz, amor, união e outros termos sugestivos e filosóficos, porém apunhalam-se uns aos outros renegando tudo aquilo que pregam. Fala-se da cura da alma através de uma boca doente.
Plantar uma árvore? Fazer um discurso de palavras vazias, perdidas no vento? Fazer campanha do agasalho? Será que apenas isso é o suficiente para o mundo em que estamos vivendo? Alguma coisa destas práticas tem sido efetiva para melhorar nosso meio ambiente? É esse tipo de harmonia que buscamos, ou isso é apenas um meio de dizer tal qual um rezador de esquina que estamos fazendo a nossa parte?
Nesta altura da minha leitura, muitos devem estar se perguntando o que faço aqui, qual é afinal minha pretensão se apenas atiro pedras?
Irmãos perdoem-me, mas é no mínimo omissão e hipocrisia acreditar que ao juntar meia dúzia de blusas e latas de leite estamos melhorando o mundo. Nossos membros, nosso mundo pedem urgentemente que façamos algo muito mais profundo e eficaz do que apenas tentar. É preciso fazer de uma vez por todas. Se alguém aqui presente tem realmente algum nível ou poder real em suas mãos, é urgente que utilizemos esse potencial para atingir o âmago da questão.
Precisamos sair da casca, deixar de nos esconder sob bandeiras, títulos e máscaras de bonzinhos. O mundo não precisa mais de ídolos, precisa de ação. Pessoas doentes, famintas, desamparadas de todas as formas possíveis e imagináveis exigem mais de nós do que uma parte de nossa meditação diária. Mas o que fazer? Como agir então diante de tão catastrófica situação?
É preciso irmãos meus, que mergulhemos na humanidade como um todo, correndo pelas veias da vida comum. Devemos nos apresentar na sociedade sem medo, deixar de ser apenas um meio marginal de vida, para que todos, sem exceção possam se beneficiar daquilo que temos a oferecer. É preciso levar essa consciência não apenas àqueles que nos procuram esporadicamente, mas a todos ao nosso redor.
É preciso agir na educação, saúde, finanças. Não basta ter apenas uma visão espiritual. É preciso ter uma ação espiritual também. Devemos incentivar as práticas espirituais em todos os momentos, palavras e ações. É aí que chegaremos a um reto caminhar.
Isso é mais fácil do que parece à primeira vista. Se Hércules com seus ombros uniu o Mar Mediterrâneo ao Atlântico, o que faremos nós usando nosso corpo inteiro? Devemos nos voltar para a comunidade que nos cerca e abriga e devolver a ela aquilo que nos oferece graciosamente.
Devemos começar a desenvolver trabalhos ligados à educação, como nossos irmãos da Antroposofia vem fazendo há tempos, e precisam de nossa ajuda para continuar e prosperar. É preciso melhorar a saúde geral, criando talvez postos ou pelo menos espaços dedicados à cura dos enfermos que se apresentam diante de nós, usando todas as técnicas que possuímos, como Shiatsu, Reiki, Medicina Ayurvédica, Medicina Tradicional Chinesa, etc. Fomentar a criação de espaços ecumênicos voltados ao cultivo da natureza, que estejam amparados por vários grupos simultaneamente. É preciso acabar com as nossas fronteiras também, irmãos.
Devemos ainda não apenas cobrar dos políticos medidas efetivas em relação a essas áreas, mas participarmos ativamente, politicamente se preciso for, para trazer algum benefício à humanidade em geral e a todos os seres que de nós dependem. Não há hoje um ser sequer sobre a face da Terra que não dependa pelo menos indiretamente do futuro da Humanidade. Portanto, devemos cuidar dela para que o restante possa se beneficiar. Foi a Humanidade que criou o desequilíbrio na natureza e é ela que deve restabelecer esse equilíbrio.
Particularmente acredito que a missão do espírito é auxiliar na evolução da matéria. E para que isso possa realmente acontecer, devemos deixar nossos casulos, nossos guetos espirituais, nos dedicando não a nós mesmos, mas ao mundo que está ao nosso redor.
Criando projetos sociais reais, que possam agregar nossa comunidade próxima, civil, religiosa e espiritualmente falando.
Não peço que acreditem em mim ou aceitem plenamente minhas palavras. Mas peço em nome do espírito que buscamos cultivar e desenvolver, auxílio para um mundo sofredor e moribundo, que se tornou assim justamente porque nós, enquanto seres humanos viramos as costas para ele. O mundo não precisa agora de palavras espirituosas. Precisa que nosso espírito se manifeste na carne e arranque a ganga daquilo que virá a ser nosso ouro puro.
“Eis uma das maiores asneiras do mundo! Quando nossa sorte adoece (frequentemente pelos excessos do nosso comportamento), culpamos o sol, a lua, e as estrelas dos nossos desastres: Como se fôssemos vilões por necessidade; loucos por compulsão celeste; velhacos, ladrões e traidores por conjunção das esferas; bêbados, mentirosos e adúlteros por obediência forçada a influências planetárias, e tudo que fazemos de mal, por imposição divina. Que admirável escapatória do homem devasso, responsabilizar, por sua lascívia, uma estrela. Não está em nossas estrelas, mas em nós mesmos a culpa de sermos inferiores.”
• Shakespeare, Júlio César
Em desejos de Luz, Vida, Amor e Liberdade,
Frater Goya (Anderson Rosa)
Amor é a lei, amor sob Vontade
Ank, Usa, Semb (Vida, Prosperidade e Saúde)
Anno IVxiii Sol 28° Pisces, Luna 15° Scorpio Dies Solis
Domingo, 19 de março de 2006 e.v. 01:13