Explorando a Magia Sagrada de Abramelin, o Mago

Por: Aaron Leitch e-mail: aaron@leitch.net

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Tradução e Notas: Frater Goya (Anderson Rosa)

Enviarei um anjo adiante de ti para te guardar no caminho e te fazer entrar no lugar que eu preparei. Presta-lhe atenção e ouve a sua voz. Não deves contrariá-lo. Ele não suportaria a vossa revolta, pois nele está o meu nome[1]. Se ouvires a sua voz e fizeres o que eu digo, serei o inimigo dos teus inimigos e o adversário dos teus adversários.  [Êxodo 23: 20-22]

Hoje nós conheceremos o Santo Anjo Guardião. Muitos professores de vários caminhos espirituais dão ênfase a importância deste ser misterioso, enquanto cada um deles tende a traduzir algo diferente pelo termo. Em muitos casos, os povos estão recorrendo há pouco a um tipo de guarda-costas Angelical que os mantém (especialmente as crianças) protegidos dos perigos. Em outros exemplos, é tratado como um tipo de construção metafórica construída para as verdades espirituais mais profundas – uma incorporação de todas as coisas boas numa pessoa. Estudantes do Ocultismo Ocidental moderno poderiam estar mais familiarizados com a equação do Santo Anjo Guardião e o próprio Eu Superior da pessoa. Eu espero que esta composição ajude a fazer algum sentido no esclarecimento desse assunto.

Particularmente, vamos explorar um texto de magia obscuro do final de 1600 intitulado “O Livro da Magia Sagrada de Abramelin, o Mago” (em seguida chamado “o Livro de Abramelin”). Este pequeno folheto – disponível em qualquer livraria ou on-line (Dover Publishing ISBN 0-486-2311-5.) – revela um procedimento ritual pelo qual um aspirante espiritual poderia preparar para invocar e unir-se com o seu próprio Santo Anjo Guardião. S.L. Mathers traduziu o livro de uma cópia francesa em finais do século 19, e desde então o Santo Anjo Guardião disseminou-se em muitas áreas do misticismo Ocidental moderno. Enquanto alguns aspirantes evitaram a filosofia espiritual Judaico-cristã dentro do texto, o conceito do Santo Anjo Guardião e a importância vital de obter contato com esta entidade teve uma tremenda influência no Hermetismo, no Rosicrucianismo e no Neopaganismo.

Supõe-se que o contato estabelecido com o Anjo da guarda é um empreendimento perigoso para o aspirante que está tentando invocar a mesma Voz de Deus na sua própria vida. Ainda, em cima disto, promete o livro mais adiante que – tendo obtido a cooperação do Santo Anjo Guardião – o aspirante pode continuar estabelecendo controle daí para diante, sobre todos os espíritos da natureza e infernais. É desnecessário dizer, que o Livro de Abramelin foi o material de fábulas no estilo de Lovecraft, e de lendas urbanas são fáceis de achar cercando o texto. Tentar a magia e falhar (e assim tornar-se insano) é uma das armadilhas mais famosas. Os talismãs na parte de final do livro, dizem, tendem a trabalhar por sua própria vontade. Apenas possuir uma cópia do texto, nós fomos advertidos, pode atrair desassossego espiritual ou até mesmo demônios hostis para sua casa!

É um alívio que poucas destas lendas obscuras sobre possuir, estudar, ou usar o livro se mostraram como verdades. Então, nós estamos livres para explorar o assunto de Abramelin e o Santo Anjo Guardião (ou “SAG”) de várias perspectivas diferentes. Primeiro, daremos uma olhada no Livro de Abramelin – sua história, conteúdo, e uma análise breve do próprio Rito de Abramelin. Então, nós vamos voltar atrás no tempo para explorar o conceito do Guardião – dos professores do espírito mais antigos e Deuses Protetores para os Gênios ou Daemons da filosofia Platônica. Isto nos conduzirá numa discussão sobre filosofia Gnóstica clássica e como se assenta no conceito do Santo Anjo Guardião. Finalmente, oferecerei outra análise breve do conceito de SANTO ANJO GUARDIÃO – dessa vez usando a Qabalah, que é mais familiar para meus companheiros, estudantes do misticismo Ocidental.

O Livro de Abramelin

A história do Livro de Abramelin é ao mesmo tempo fascinante e misteriosa. Em 1898, o ocultista e tradutor S.L. Mathers encontra o manuscrito na Biblioteca do Arsenal, em Paris, França. Estava em francês, mas reivindicava ter sido traduzido de um original hebreu que datava de 1458. Mathers coloca a tradução francesa no final do século XVII ou início do século XVIII.

Estudiosos modernos ainda tentam resolver os mistérios das verdadeiras origens do livro. Em primeiro lugar, o manuscrito francês citado por Mathers na sua edição desapareceu da Biblioteca do Arsenal. (Traduções inglesas, porém, permanecem.) Alguns informaram que a Biblioteca já reivindica que nenhum manuscrito tal existiu – levando muitos a rotular Mathers como uma fraude que “já traduziu” o próprio livro de uma cópia em inglês! Porém, esta teoria é altamente duvidosa. Mais recentemente, os investigadores da Biblioteca informaram que o manuscrito foi meramente perdido ou roubado. Na realidade, muitos manuscritos foram perdidos num incêndio ocorrido no início do século passado.

Ainda mais mistérios cercam os conteúdos do livro, e o que eles têm a dizer sobre quando e por quem foi criado o livro. O nome suposto do autor é “Abraham de Worms” ou “Abraham, o Judeu” (provavelmente um pseudônimo com relação simbólica ao pai do Judaísmo). Ele era médico, Qabalista, Mago, e o Conselheiro Político de homens tais como o Imperador Sigismundo da Alemanha (1368-1437 a.C.). Porém, durante o último século, duvidaram os estudantes literários que o livro possa ter sido escrito no final de 1400. Por exemplo, a pessoa poderia notar as semelhanças entre a autobiografia de Abraham (determinado na primeira parte do Livro de Abramelin) e o Fama Fraternitatis[2] publicado em 1614. Se a tradução francesa de Mathers fosse de fato a original, a mesma só foi datada do final de 1600.

Igualmente duvidosa era a reivindicação de “Abraham” de ser judeu. Há muitas inconsistências no texto que apontam para um autor Cristão. Por exemplo, a numeração da Bíblia Vulgata é usada para os Salmos, e há referências aos Apóstolos – São João, e várias orações católicas. O dia santo Cristão de Páscoa é mencionado (em lugar da Páscoa judaica), e os Talismãs cedidos no livro incluem nomes como “Lúcifer” e outros demônios do misticismo Cristão. Não só isto, mas o Livro de Abramelin não se assemelha a nenhum texto místico judaico conhecido – como o Zohar ou Sepher Yetzirah. (Nem mesmo foi encontrada uma versão hebréia do manuscrito.) Ao invés disso, se assemelha (em partes) a grimórios Cristãos e manuais de exorcismo do período medieval. A mitologia apresentada na retórica do livro (inclusive a rebelião de Lúcifer no céu, etc) também me parece mais Cristão que Judaico.

Isto tudo começa a fazer sentido. Afinal de contas, era comum os grimórios Cristãos (como as Clavículas de Salomão e a Goetia) reivindicarem autoria judaica e falsa antiguidade. Considerando que Mathers liberou a edição dele no Ocidente, Abramelin foi considerado há pouco outro exemplo do mesmo tipo de engodo. Ainda, um pouco recentemente, o enredo engrossou! Um investigador chamado Georg Dehn descobriu outra versão do texto –  este mais velho que o francês! – escrito em alemão.

A tradução do Francês/Inglês do Abramelin justifica algumas diferenças notáveis do alemão mais antigo. Em primeiro lugar, o tradutor francês reduziu o comprimento do Rito da magia sistematicamente – de um ano e meio para somente seis meses. A versão francesa também é descrita de forma menos elaborada, perdendo uma porção inteira do texto original, e uma grande parte de seus Talismãs estão incompletos. Mas, mais importante para nossa discussão aqui, pelo menos algumas das referências Cristãs mencionadas acima não são encontradas no alemão. (I.e. – a referência para “Páscoa” no francês era originalmente a “Páscoa” no alemão.) Enquanto isto não prova que aquele Abraham era judeu, lança para algumas dúvidas muito razoáveis nas teorias que cercam a versão francesa. Agora, da mesma maneira que é provável que aquele Abraham realmente era um judeu, e o preconceito Cristão do texto tenha sido dado pelo tradutor francês desconhecido. Neste momento nós não podemos ter certeza disso.

A pesquisa do Sr. Dehn o levou a acreditar que o autor do Livro de Abramelin é exatamente quem reivindica ser. Isto é provável porque ele achou um personagem histórico que ajusta a descrição de Abraham, o judeu – Rabino Jacob ben Moisés Molln (1365-1427 d.C.). Ele viveu aproximadamente no mesmo período de tempo reivindicado pelo autor do Abramelin, teve uma educação semelhante e carreira, e até mesmo um “período perdido” na vida dele que emparelharia o período descrito na autobiografia de Abraham. Se este for o nosso homem, então segue aquele “Abraham de Worms” somente é um pseudônimo simbólico para o Rabino.

Porém, o enigma não termina aqui! O Sr. Dehn também nos fala que ele descobriu – numa biblioteca na cidade de Wolfenbuttel – uma cópia do Livro de Abramelin que data de 1608. Se isto for verdade, as implicações estão cambaleando! Significaria que o Fama Fraternitatis (publicado na Alemanha em 1614) pediu emprestado sua história da autobiografia de Abraham, o Judeu, ou foram pegos emprestados ambos estes contos de alguma fonte de anterior ainda não descoberta. Na minha opinião, faz algum sentido que o conto de Cristian Rosencreutz tenha sido originalmente um conto de um “judeu errante” (simbolismo da Diáspora) – depois adaptado pelos Rosacruzes para colocar um Cristão em seu papel principal.

O trabalho do Sr. Dehn já está disponível em alemão, e uma tradução inglesa está a caminho. (Edição Araki Publishing – ISBN 3-936149-00-3) Isto ampliará grandemente a nossa compreensão de Abramelin, suas origens, e seu lugar na espiritualidade Ocidental.

Porém, durante o último século, foi a tradução de Mathers da versão francesa que foi amada, temida e mal entendida ao longo do Ocidente. Sem mais tardar, então nós exploraremos o texto como S.L. Mathers o apresenta.

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O Livro de Abramelin é dividido em três livros menores. O primeiro é a autobiografia de Abraham, o Judeu. Ele descreve os anos a procurar a Verdadeira e Sagrada Sabedoria, e as várias decepções dele no caminho. (Aqui estão sombras do conto de Cristian Rosecreutz no Fama Fraternitatis.) Ele aprende várias formas de magia, mas as acha apáticas, e os seus praticantes menos do que reivindicavam ser. Nos últimos momentos antes de deixar a questão, Abraham se encontra com um perito egípcio chamado Abramelin que concorda em ensinar a ele a Magia Sagrada.

Abraham escreveu este texto por causa do seu filho mais jovem, Lamech (outro nome inspirado Biblicamente). De acordo com a história, Abraham tinha que – na tradição de Judaísmo – conceder os mistérios da Qabalah ao filho mais velho. Porém, ele não desejou deixar Lamech sem a chave para a obtenção espiritual, e assim Abraham deixou-o o Livro de Abramelin. Este primeiro livro termina com o pai instruindo o filho em que tipo de vida ele deve conduzir se completar a Operação, e como a Verdadeira e Sagrada magia deve ser empregada corretamente.

O próximo Livro (II), então, é composto pelas instruções para a Magia Sagrado que Abraham reivindica ter copiado à mão do original de Abramelin. A primeira parte (Livro Dois da trilogia) descreve um procedimento fortemente envolvido de purificação e prece, enquanto resultando no aparecimento do próprio Anjo da Guarda do indivíduo.

Abraham também gasta algum tempo no Livro Dois em que explica sua própria filosofia sobre magia. É onde o texto adverte contra usar qualquer outro grimório, sigilos ou nomes bárbaros de prece. Num capítulo (Livro II, Cap. 6), ele relaciona uma alternativa maravilhosa para as horas Mágicas Salomônicas em detalhes.

As purificações levam o padrão grimoriano na forma de reclusão, jejum, limpeza, e uma dose forte de oração. Um quarto separado – chamado de Oratório (quarto de oração) deve ser mantido em pureza extrema durante um período de seis meses[3], que é onde o Anjo aparecerá e se unirá com o aspirante no final deste período. Posteriormente, o Anjo assume a função de Professor para o aspirante, e é deste ser (e só este ser) que a Verdadeira e Sagrada Sabedoria e Magia é descoberta.

Uma vez que a cooperação do Anjo está assegurada, a pessoa continua chamando os príncipes demoníacos como Lúcifer, Leviatã, Astarot, Belzebud, e vários outros (doze no total). Estes seres são comandados a deixar um Juramento de obediência ao magista, como também o uso de quatro espíritos familiares para tarefas práticas cotidianas.

O terço final do livro é uma coleção de Talismãs formados por quadrados-mágicos no qual os príncipes demoníacos e espíritos têm que jurar ao dar suas Obrigações. Cada talismã pode ser usado para comandar um espírito a executar uma tarefa então, em muito semelhante ao que é feito nas Clavículas de Salomão, o Rei. As funções desses Talismãs são comuns ao material dos grimórios – achando tesouros, causando visões, trazendo livros, vôo, curando o doente, etc.

Os quadrados-mágicos dados por este texto são freqüentemente confundidos como Selos no estilo da Goetia, onde a mera presença do Talismã é igual à presença dos espíritos. Isto levou a histórias de lendas-urbanas dos “perigos” existentes na posse dos Talismãs – ou pela simples posse do livro em si. Porém, não há nada de assinaturas ou Selos nestes Talismãs. Só raramente é que as letras dos quadrados de Abramelin formam nomes reconhecíveis, e então eles nunca são os nomes dos espíritos que são realmente associados com o talismã. Eles só assemelham-se ao Goetia uma vez que os espíritos são ligados aos quadrados – mas isto só acontece depois do sexto mês de operação. Em si mesmos, os Talismãs parecem bastante inertes e inofensivos.

Na realidade, poderia ser possível sugerir que os Talismãs dados no Abramelin são realmente inúteis. A primeira pista vem com o fato que Livro II provê uma lista longa dos espíritos que o Abraham, o judeu obtido pelo seu próprio desempenho da operação, contudo, o Livro III estabelece que cada aspirante deveria exigir dos Príncipes uma lista de espíritos personalizados. Os Talismãs cedidos no texto especificamente, já são associados com a lista de espíritos provida. Teoricamente, se a pessoa receber sua própria lista de espíritos, a pessoa também deveria receber o seu próprio livro de Talismãs para ordená-los.

A segunda pista é dada pelo próprio Livro III. Enquanto as primeiras duas partes do trabalho são geralmente consistentes e bem (embora obscuramente) escrito, Livro III persistentemente exibe erros, omissões, e contradições sinceras. Eu tenho visto sugestões que o Livro III era uma adição posterior ao texto – escrito num estilo obviamente diferente, e com uma intenção obviamente diferente (goetia), do resto da Operação Celestial indicada. Poderia ser até mesmo que esse Livro III fosse acrescentado ao trabalho como uma cortina (para desviar a atenção do curioso), ou até mesmo como um tipo de isca atrair aspirantes que pretendessem e pudessem ignorar o livro, para operações de estilo Goético mais populares. Talvez, nós pudéssemos considerar estes Talismãs como meros exemplos disso – que Abraham, o Judeu recebeu do seu próprio Anjo Guardião para seu uso pessoal. Conforme o Livro de Abramelin reforça novamente e depois mais uma vez reafirma, o Santo Anjo Guardião instruirá a pessoa em todas as áreas necessárias depois que o contato seja estabelecido – fazendo qualquer coisa descrita anteriormente na operação relativa a este ponto uma tentativa e um exemplo no melhor caso.

 

A Operação de Abramelin

Nesta seção, eu esboçarei a Operação de Abramelin como é apresentado n´O Livro da Magia Sagrada de Abramelin, o Mago. Enquanto ignorei alguns detalhes (como Salmos específicos, etc.), acreditando que esta é na primeira vez que a Operação foi esboçada na sua forma original um século atrás, desde a publicação de Mathers em cima dela. (Não há nenhuma inclusão da Aurora Dourada ou Thelema no que segue.)

Abramelin tem um capítulo muito detalhado na criação do Oratório, achada no Livro II, capítulo 11 (Relativo à Seleção do Lugar). Sugere primeiro que se construa isto numa locação natural, se você morar no país. Deveria ser num “pequeno bosque” ou (a pessoa poderia optar) uma clareira pequena com a habitação completamente cercada de árvores. O Altar é erguido no centro da clareira, construído de “pedras que nunca foram trabalhadas ou foram cortadas, ou até mesmo tocadas pelo martelo”. (Ver Êxodo 20:25, Deuteronômio 27:5, e em I Reis 6:7)

Abramelin continua sua instrução para o Oratório arborizado construindo um abrigo (barraca ou tabernáculo) de “galhos finos” em cima do Altar protegendo este da chuva (i.e. – para quando a Lâmpada e o incensário estão queimando). Cercando o Altar a uma distância de sete passos, a pessoa têm que plantar uma “cerca viva de flores, plantas, e arbustos verdes”. Se estes forem bastante altos, eles proveriam privacidade melhor que as árvores circunvizinhas somente. Em todo caso, eles servem para dividir o espaço em uma área exterior e uma interna,  o Santo dos Santos (o abrigo e o Altar). A idéia geral atrás deste arranjo pode ser achada nas escrituras no Êxodo 26, onde Yahweh instrui Moisés na construção do Tabernáculo nos ermos, e inclui a separação do Santo dos Santos com um véu.

Claro que, poucas pessoas terão o luxo para estabelecer tal Oratório num local natural maravilhoso. Abramelin responde por isto e oferece uma “alternativa urbana”. Este Oratório só precisa ser um quarto com uma janela de face-norte que conduz a uma sacada ou terraço. O chão e paredes deveriam ser feitos de (ou coberto com) madeira de pinho branco. Uma Lâmpada que queima óleo (preferivelmente de oliva) deverá ser pendurada no teto ou ser colocada no Altar. O terraço (usado por chamar espíritos do elemento-terra) está coberto com areia de rio pura de “pelo menos dois dedos de profundidade”.

O Altar neste caso não é feito de pedras, mas é um gabinete de madeira oco (talvez feito de madeira de pinho depois das paredes e chão) pelo armazenar das ferramentas mágicas. Sobre o Altar deve estar um Incensário de Prata ou metal, e uma bandeja de metal para receber o excesso de carvão e cinzas. APENAS a bandeja pode deixar o Oratório a qualquer hora – para dispor das cinzas em algum lugar puro, como no jardim.

O local das ferramentas mágicas será dentro do gabinete de Altar durante os seis meses de preparação. (A maioria deles só entra em uso durante os sete dias finais – que é o próprio Ritual de Abramelin). Aqui nós achamos os vestuários mágicos: um Robe feito de linho branco para se aproximar do Anjo, e um sobre-robe de seda vermelho adicional, cinta de seda branca, e um branco. Uma coroa de seda dourada (como um filete) usada para comandar os espíritos mais baixos. Ali também é incluído um jogo de artigos de vestuário funerário – consistindo em um roupão de aniagem (chamado de roupão de lamentação) e dois véus de seda (um preto e um branco).

Todos os Talismãs do Livro III (crendo que usará todos) são supostamente desenhados de antemão e armazenados dentro do Altar. De forma interessante, Abramelin não faz nenhum uso de canetas consagradas, tintas, ou papéis. No Livro II, capítulo 20, o autor insiste que desenhando os símbolos claramente com qualquer caneta e tinta – de forma que as operações pretendidas por cada um não fiquem obscuras – bastará. (Este é o único cuja saída o autor assume da literatura típica de grimórios – cuja profundidade ele percebe ser falsa e vã.)

A despeito dos Talismãs, a ferramenta primária para comandar os espíritos é uma Vara feita de madeira de amendoeira. Isto surge provavelmente de Números 17, onde uma vara de madeira de amêndoa brotou flores milagrosamente, e assim Aarão, o irmão de Moisés, estabelecido como Sumo Sacerdote de Israel, escolhido por Deus.

Também é necessário fazer um Talismã branco num quadrado de prata. Este é embrulhado em seda branca e armazenado com as outras ferramentas no Altar. O significado deste Talismã Prateado estranho é obscuro. Porém, o texto esclarece que pertence de algum modo ao Anjo Guardião, e pode servir até mesmo como um tipo de espelho de Visualização (Scrying). Nossa própria impressão é que – espelho ou não – é pretendido que facilite a conexão entre o Humano e o Anjo.

Esta conexão também é ajudada grandemente pelos dois artigos finais achados no Altar – o Óleo Santo e o Incenso. (As receitas deles são encontradas no Livro II, capítulo 11.) O Incenso é empregado para todos os propósitos da prece do Anjo Guardião e para a conjuração dos espíritos infernais. Como muitos aspectos do sistema de Abramelin, o perfume é derivado da autoridade Bíblica. No Êxodo 30 há uma receita dada por Yahweh a Moisés para a composição do Perfume para uso no Tabernáculo. A pessoa pode comparar o trecho com a receita oferecida no Livro de Abramelin:

Uma parte de Incenso em Lágrimas (Olíbano, Frankincense), uma-meia parte de Stacte (Estoraque, Benzoína), e uma quarta parte de Lignum-babosas (ou Cedro, Pétalas de Rosa, ou Cidra). Reduza todos estes para um pó fino (ou os compra como tal e os mistura completamente), e mantém o resultado em um recipiente lacrado.

Eu desaconselharia de comprar “Incenso de Abramelin” simplesmente, desde que tais perfumes raramente contêm os ingredientes atuais como listados no grimório.

Também há um Óleo Santo de Ungir prescrito por Yahweh em Êxodo 30 que  pretendia-se que consagrasse o Sacerdócio e todos os recipientes, ferramentas, instrumentos e mobílias do Tabernáculo. Como com o Perfume Santo, nós podemos comparar as semelhanças facilmente entre o original Bíblico e a versão de Abramelin:

Uma parte de Mirra (em forma de resina). Duas partes Canela boa. Uma-meia parte de Galanga. E metade do peso total destas drogas do melhor azeite de oliva. Misture junto de acordo com a Arte do Farmacêutico para fazer um bálsamo (ungüento) e detém um frasco de vidro.

A menção da “Arte do Farmacêutico” na criação do Óleo Santo é provavelmente uma referência para um aspecto das artes alquímicas – porquanto são óleos essenciais de assunto das plantas. É aceitável para comprar todos os ingredientes anteriores em forma de óleo essencial, e os misturar de acordo com as indicações. Novamente, evite o Óleo Abramelin já feito, que pode ou não incluir os ingredientes apropriados.

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Típico do ritual esboçado na literatura dos grimórios, o Livro de Abramelin emprega um regime de abstinência cumulativa e cerimônia. As exigências são poucas na primeira fase do Rito, mas eles aumentam em número e complexidade como os progressos do aspirante. Abramelin é talvez o melhor de todos os exemplos, porque seu processo estendeu-se por período de seis meses. (Outro grimórios podem requerer menos de um mês ou há com apenas nove dias.) A dedicação necessária para tal um período prolongado de purificação realmente provoca mudanças drásticas no estilo de vida da pessoa e em seus padrões habituais.

Os primeiros dois meses não impõem maiores restrições além de uma tentativa para viver pura, honesta, serena, e moderadamente. A pessoa é dito “buscar retirar-se tão longe quanto seja possível”. Como procedimento cerimonial, a pessoa precisa apenas entrar no Oratório duas vezes por dia – uma vez pela manhã e uma vez pela noite. Cada vez, é proferida uma confissão, seguida por uma oração ao Altíssimo – a estrutura de cada um é deixada completamente aos desejos do aspirante. Durante seis dias da semana, nenhum outro tipo de ritual é requerido. Só no Sabbath sagrado (sábado ou domingo) precisa acender a Lâmpada do Altar e queimar o Incenso. Isto representa a extensão dos dois primeiros meses de dificuldade. Erros de procedimento são difíceis de acontecer e parte desses meses são usados para ajustes ao novo estilo de vida.

Durante os próximos dois meses[4], o procedimento cerimonial aumenta num certo grau. A pessoa tem que jejuar todas as noites de sexta-feira (a Véspera do Sabbath sagrado), lavar-se com água purificada antes de entrar no Oratório no amanhecer e no crepúsculo, e geralmente prolongar as suas orações. O isolamento continua como antes, e o aspirante é dito: “É absolutamente necessário se afastar do mundo e buscar retirar-se”. Neste momento, a maioria dos erros cometidos pelo novato terão sido feitos e terão sido corrigidos, e a pessoa terá enfrentado e lidado com um bom número desses hábitos inconscientes. Mais que qualquer coisa, a novidade do afazeres inteiro terá se exaurido, e o aspirante estará alcançando um ponto de esgotamento mental.

Os dois meses[5] finais colocam a Operação em alta rotação – envolvendo muito formalidades ritualísticas. Uma terceira oração (ao meio-dia) é acrescentada ao regime diário – cada vez lavando-se em pura água, vestindo o Robe Branco, e acendendo a Lâmpada e o incenso. Como foi dito, uma segunda oração é acrescentada a cada sessão – daqui até Anjo Guardião. Se for de todo possível, o aspirante tem que deixar de trabalhar – ou deixar a casa por qualquer outra razão. Lhe dizem “que afaste-se de toda a sociedade a não ser de sua Esposa e de seus Criados” e “abandonará todos outros assuntos permitindo que seu tempo livre consista apenas em coisas Espirituais ou Divinas”. Ao aspirante é dito para evitar excitação sexual como foco de pestilência, sendo igualmente barrado de executar qualquer trabalho mágico (com exceção de curar).

Tudo isto dá ao aspirante muito mais concentração, resultando num foco mental elevado. Tende a ocupar totalmente o aspirante, e o isolamento aumentado poderá induzir um novo esgotamento mental. Felizmente, se a pessoa superou o esgotamento sentido pelas terceira e quarta luas – superando isto literalmente ao invés de se retirar – esta fase da Operação pode produzir um segundo alento.

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Depois destes seis meses de lenta restrição crescente e purificação, o próprio Ritual de Abramelin – pelo qual o contato permanente com o Anjo Guardião é estabelecido – acontece num período de sete dias. Estes dias são extremamente intensos – inclusive reclusão total (separando até mesmo a pessoa da família), jejum pesado, horas de oração, ferramentas de magia muito específicas e procedimentos, e o chamamento de várias classes de entidades espirituais. Todas as preparações empreendidas nos seis meses anteriores serviram para induzir um estado alterado de consciência – as tensões e o esgotamento que estabelecem a condição mental necessária para ocorrer a morte do ego.

Os sete dias são divididos em um, três e três. Isto é – um dia para a consagração de tudo necessário para executar a magia, três dias para a “convocação do bem e dos espíritos santos” (onde o SANTO ANJO GUARDIÃO é invocado), e três dias para a “convocação dos espíritos maus” (onde o elemental e os espíritos infernais são atados).

O primeiro dia é o Dia da Consagração. A pessoa deve entrar no Oratório quase como sempre – entretanto com duas exceções. Primeiro, a pessoa é orientada para entrar com os pés descalços, e nunca usar novamente sapatos no Oratório. (Isto é provavelmente devido a proibição Divina dada a Moisés em Êxodo: “Não te aproximes; tira os sapatos de teus pés; porque o lugar em que tu estás é terra santa”. Êxodo 3:5) Secundariamente, a pessoa não deve vestir o Robe Branco.

Ao invés disso, o Robe Branco é colocado no Altar – junto com o Robe Vermelho, Cinta, Coroa, e a Vara de Amêndoa. Ajoelhando-se no Altar com o Óleo Santo na mão, uma oração longa que pede para a Divindade tocar e consagrar ambos, o aspirante e as suas ferramentas mágicas, é recitada. Como antes, a composição desta oração é deixada a gosto do aspirante. Em seguida é feita a unção do aspirante, todos os artigos no Altar e o próprio Altar, com o Óleo Santo. Finalmente, as duas orações habituais são recitadas antes de deixar o Oratório, e nada que mais é requerido neste dia.

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O segundo dia é o primeiro dia da prece do Anjo. Isto é, onde o simbolismo funerário do Rito entra em jogo. A amanhecer, a pessoa não deve se lavar ou vestir o Roupão Branco, mas ao invés disso, tem que vestir o Robe de Lamentação. Uma vez vestido, são levadas cinzas do Incensário e colocadas na cabeça da pessoa (um costume funerário achado na literatura Bíblica – como o Livro de Jó), e um véu preto é colocado acima da cabeça cobrindo-lhe a face.

Agora, o Rito de Abramelin emprega uma criança pequena (entre seis e oito anos de idade) como um vidente neste momento no processo. Como isto pode soar chocante incialmente, nós devemos lembrar de que os clarividentes infantis não são estranhos às tradições dos grimórios. Como deveria estar claro na literatura Bíblica, uma criança pequena é o epítome do conceito Cristão de pureza espiritual – que os grimórios insistem que é necessário para comunicar-se com seres Angelicais. Também, as crianças ainda faltam os limites à imaginação da qual os adultos sofrem, lhes fazendo clarividentes potenciais muito melhores.

O ambiente cultural de hoje poderia fazer o serviço de um vidente infantil problemático. Porém, o raciocínio atrás da instrução é verdadeiro. O aspirante – ainda em aniagem e cinzas – não está inserido num estado de pureza ou imaginação juvenil. Assim, Abramelin emprega a criança (para esta sessão somente!) para ver e ouvir o Anjo que pode ser invisível ao aspirante.

A criança é colocada no Altar antes do Lâmen Prateado, e um véu de seda branco (semelhante para o preto um usado pelo aspirante) é colocado em cima da cabeça dele ou dela. O aspirante – trajado para seu próprio funeral – deve se deitar prostrado à porta do Oratório e recitar Salmos e orações sem olhar nem mesmo uma vez no Altar. Deve rezar para o surgimento do Anjo, e para o Anjo comunicar qualquer instrução de última hora à Criança.

O texto insinua que o Lâmen Prateado é usado para visualizar esta informação. Depois que o Anjo partiu, a Criança é traz o Lâmen ao aspirante, e – uma vez que o aspirante olhou nisto ele – o objeto retorna ao Altar. Então, ambos deixam o Oratório e o aspirante permanece em solidão completa e silêncio pelo resto do dia. (Presumivelmente porque ele é agora falecido cerimonialmente.)

Dia três (o segundo da convocação dos espíritos bons) – continua o rito funerário. Ao amanhecer, a pessoa entra no Oratório como no dia anterior, usando o mesmo Robe de Lamentação. Agora, o aspirante tem que se deitar prostrado no chão, com a cabeça ao pé do Altar, e tem que rezar silenciosamente durante três horas ou mais. Este deitar simbólico “dentro da tumba” é achada em muitos mitos da Morte Solar e do Deus Ascendente. (Como a crucificação de Jesus e os três dias dele na tumba.)

Este procedimento está novamente repetido durante uma hora ao meio-dia, e então novamente pela noite. Este também é o momento em que a pessoa implementaria qualquer instrução dada pelo Anjo no dia anterior. Enquanto à pessoa não é prometida uma visão do Anjo neste momento, é dito que o esplendor da presença do Anjo cercará o Altar ao longo do restante do dia.

O quarto dia dos sete – o terceiro dia e final da convocação dos espíritos bons – progride do simbolismo da morte dos dois dias anteriores ao renascimento na metade da equação. Aqui finalmente o Robe Branco é mais uma vez usado – símbolo da ressurreição e pureza espiritual do aspirante. (O hábito de vestir um robe branco ao término de uma iniciação é encontrado desde o Egito antigo.) A pessoa ajoelha-se diante do Altar e começa a oferecer orações de graças ao Altíssimo como também preces para o Anjo Guardião. Se tudo correu bem, aqui é onde o primeira tentativa de contato com o Anjo será alcançada.

Abramelin promete fogos de artifício literais neste grande dia – como se tivessem sido alcançados Conhecimento pleno e Conversação com o Anjo Guardião de repente. Não posso dizer que concordo. Na realidade, advertiria qualquer aspirante para não esperar muita coisa. Ambos, o Anjo e o iniciado estarão exaustos por este processo, e ainda há três dias de trabalho duro para ir completar o Ritual.

Ainda, nosso autor Abraham, o Judeu reivindica ter tido visões bem impressionantes, e nos assegura o Anjo se comunicará: todas as bênçãos da pessoa e pecados; instruções em como a pessoa deveria estar vivendo; a Verdadeira Sabedoria e Magia Sagrada; onde a pessoa errou na Operação; e uma convenção para defender o aspirante a durante toda a vida, em troca da promessa do aspirante de sempre esperar as instruções do Anjo. (Pessoalmente, eu não esperaria solucionar quaisquer destes assuntos antes de muitos anos!)

Supõe-se que o Anjo dá instrução junto com isto, (se necessário) em como evocar os espíritos nos próximos três dias, inclusive a revelação de qualquer Talismã adicional necessário para as conjurações. A pessoa também é encorajada a perguntar para o Anjo – uma vez só – por dinheiro suficiente com o qual viver o resto da vida. Como nós podemos ver de tudo disto, o trabalho do Anjo neste final de dia (e para o resto da vida do aspirante!) é revelar a Verdadeira Vontade da pessoa – a direção que a vida dele deveria estar levando.

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Isto nos leva ao quinto dia do Ritual – que é o primeiro dia da convocação dos espíritos do mal (e elementares). Agora o aspirante tem que jejuar completamente durante os próximos três dias. Ele deveria preparar-se e deveria entrar no Oratório como é habitual – neste momento não vestindo somente o Robe Branco, mas a Capa Vermelha (ou Robe Vermelho), a Cinta de Seda Branca e o Branco e o Filete de Seda Dourado também. São recitadas orações ao Altíssimo e para o Anjo Guardião para auxiliar no trabalho seguinte, e então a Vara de Amêndoa é levada em mão e os exorcismos começam.

Neste dia, os quatro Príncipes principais do Inferno – Lúcifer, Leviatã, Satanás, e Belial – são chamados na areia de rio no terraço. Deles o aspirante terá que exigir uma lista de espíritos serviçais que são mais bem comparados à psicologia pessoal da pessoa e suas necessidades práticas. (Esta lista de espíritos será governada diretamente pelos Quatro Príncipes e pelos Talismãs associados a eles. Claro que esta lista deveria ser diferente da lista oferecida por Abraham no final do Livro II.) Finalmente, um Juramento de Lealdade é exigido aos Príncipes – que é jurado na autoridade investida pela Vara de Amêndoa consagrada.

O próximo dia (o sexto dos sete, e o segundo da convocação dos espíritos maus), o mesmo procedimento é repetido para chamar os Quatro Príncipes. Então, oito Sub-Príncipes – Astarot, Magot, Asmodeu, Belzebu, Oriens, Paimon, Ariton, e Amaimon – são chamados sobre o terraço. (Este total de 12 Príncipes é uma provável referência ao Zodíaco, e os quatro finais – de Oriens até Amaimon – são os espíritos tradicionais das quatro direções cardeais.)

As mesmas demandas são feitas aos Oito como foram feitas aos primeiros Quatro – uma lista de espíritos serviçais (especificamente regidos pelos Oito Sub-Príncipes) e um Juramento de Lealdade. Mais adiante, Abramelin nos diz que exijamos dos quatro Príncipes das direções cardeais os nomes de quatro Espíritos Familiares que são destinados para a servidão do aspirante. Depois disto, são despachadas as entidades novamente e o aspirante sai do Oratório.

Agora, finalmente, o último dia do Ritual chegou – sendo o terceiro dia da convocação dos espíritos maus. Uma vez mais os procedimentos são os mesmos para o exorcismo dos doze Príncipes Infernais. Então, lhes comandam que tragam todos os espíritos serviçais que  listaram para você nos dias anteriores, inclusive os quatro Espíritos Familiares. Os espíritos são separados então em grupos baseados em quais Príncipes ou Sub-Príncipes regem sobre deles, e eles têm que realizar Juramentos de Lealdade nos Talismãs para os quais responderão depois.

Até mesmo os Familiares são ligados a um jogo de Talismãs – ache no Livro de Abramelin III, Capítulo V, “Como se pode manter os Espíritos Familiares presos ou livres, sob qualquer forma”. Isto consiste em doze Talismãs que pretendem ligar os familiares a várias formas ilusórias. Algumas das formas são um Homem Velho, um Soldado, um Pajem, ou até mesmo uma Flor. Porém, a maioria dos Talismãs serve para ligar os Familiares às formas de animais – como um Leão, Águia, Cachorro, Urso, Serpente, ou Macaco. Isto pareceria ser uma sobrevivência da prática do shamânismo de manter Familiares em forma de animais – que é mais íntimo à natureza inerente de tal espírito.

Cada Familiar tem seu próprio tempo natural de operação – dependendo do curso do Sol. Os primeiros Familiares permanecem com o “dever de guardar” com o seu mestre do amanhecer até o meio-dia; depois, a partir deste ponto o segundo Familiar do meio-dia até o crepúsculo. O terceiro Familiar então opera do crepúsculo até a meia-noite, enquanto o quarto deve vigiar da meia-noite até o amanhecer. Esta rotação solar das trocas dos Familiares reflete os quatro quadrantes do horóscopo: Leste/Aurora, Sul/meio-dia, Oeste/Entardecer e Norte/meia-noite. É indicado mais adiante que os Familiares são prováveis direções ou até mesmo de natureza Elementar. Assim, para o aspirante, os quatro Espíritos Familiares mais o Anjo Guardião constituem um domínio pentagonal das Forças Elementares (Terra, Ar, Água, Fogo, e Espírito).

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Depois que o Ritual é terminado, há poucas instruções por terminar. Se o Oratório for desmontado, a areia de rio deve ser removida do terraço e deve ser lançada em algum lugar escondido. (NÃO um rio ou o mar navegável.) Se o Oratório é mantido intacto (até mesmo se está for guardado), pode ser usado depois para comunicação adicional com o Anjo Guardião. O Sabbath sagrado é sugerido como o melhor momento para tal prece.

Também, o novo iniciado tem que continuar a jejuar depois da Operação durante outros três dias. Durante sete dias, lhe ensinam não fazer nenhum trabalho servil e usar esse tempo para orações de agradecimento e abençoando o Altíssimo por conceder tal presente. De nenhuma maneira deve a Magia Sagrada ser posta em uso durante estes sete dias restantes. Depois disso, é ordenado que o adepto auxilie os outros o máximo possível com seus novos poderes – do contrário, os mesmos se irão para sempre.

Regras adicionais para usar a magia após a Operação estão no Livro II, capítulo 20 – na forma de uma lista longa categorizada por números. Curiosamente, eu nunca ouvi um estudante perguntar ou referir-se a esta lista – e isso é uma vergonha porque responde claramente a muitas das perguntas mais freqüentes sobre o sistema de Abramelin. Talvez o que escondeu isto da visão pública por tão longo tempo é o fato que pretende ser uma lista de regras para seguir após completar a Operação. Porque o Anjo, e não o Livro de Abramelin, irá instruir a pessoa posteriormente todos os pontos necessários, estas regras são negligenciadas provavelmente como supérfluas. Ou Ainda, o segredo é que a lista também contém regras para seguir durante e até mesmo antes da Operação. Seguem alguns exemplos:

– Regra 13 instrui o aspirante para ler e reler o Livro de Abramelin muitas vezes pelo espaço de seis meses antes de tentar a Operação. Isto é feito por duas razões: Primeiro, porque Abraham espalhou pedaços obscuros de informação ao longo dos três livros, e os seis meses de estudo são necessários para descobrir todos. Segundo, assegura que o aspirante será bem versado em todas as instruções e procedimentos antes de fazer a tentativa. Ao mesmo tempo, nós podemos ver como esta regra – de seu próprio modo – faz da Operação de Abramelin um empreendimento ao longo de um ano ao invés de meras seis luas.

– Regra 15 proíbe o aspirante de dormir durante o dia – a menos que alguma condição torne isto inevitável. Enquanto isso, a regra 24 desaconselha de tentar qualquer magia durante a noite.

– Regra 17 define as restrições de idade do aspirante entre 25 e 50 anos.

– Regras 28 e 29 que ambos dão informação sobre o jejum durante a Operação.

– Regras 33-35 dizem respeito aos tabus rituais. Durante processo de seis meses inteiro, a pessoa tem que dar atenção para não perder nenhum sangue do corpo (a menos que seu corpo expila isto naturalmente), evitar qualquer contato com um corpo morto, e recusar qualquer comida que inclui a carne ou sangue de um animal morto.

– Regra 38 contém instruções para ler pelo menos duas vezes todos os 72 Salmos de David cada semana durante os seis meses.

Claro que, estes exemplos não cobrem todas as instruções escondidas nesta lista de regras. Porém, eles realçam essas que respondem algumas das perguntas mais freqüentemente feitas sobre Abramelin.

Adicionalmente, como declarei anteriormente, informações semelhantes são deste modo escondidas ao longo dos três livros. Apenas como exemplo, no final do Livro II, capítulo 10, Abraham descreve muitas atividades que são permitidas ou desaprovadas durante o período em que dura a Operação. (São permitidas meditação, oração e as artes curativas. São desaprovadas Magia e feitiçaria.) Daí vem a importância vital de devorar todas as palavras deste grimório durante pelo menos seis meses antes de começar o Ritual.

 

Os Mistérios de Abramelin

Assim, agora você viu a Operação de Abramelin na forma original. Neste ponto, nós podemos continuar adiante e podemos perguntar: o que acontece nos bastidores? Quais são suas filosofias fundamentais e como tudo funciona? Nós já vimos algumas pistas: uma troca no estilo de vida, esgotamento mental, isolamento, e rompimento de padrões habituais que em tudo contribuem ao estado de consciência alterada necessário, e à morte do ego.

Apenas destacando, nós vimos algo sugerindo o simbolismo de morte-renascimento solar que atravessa os três dias da convocação dos espíritos bons. Quando voltamos atrás e olhamos para o quadro maior da Operação, podemos ver o Sol que espia por muitas aberturas sutis no simbolismo.

Para começar, a purificação de seis meses inicia no equinócio de primavera (Páscoa) e fins no equinócio outonal (Banquete dos Tabernáculos) – Veja Livro II, Ch. 5 – os equinócios marcam duas estações muito específicas do Sol, crescendo e minguando ao longo do ano – quando o comprimento do dia e noite é igual. No equinócio de outono, é finalmente destronado o Sol impiedoso do verão – e os dias começam a se tornar mais curtos quando o inverno chega. Mas ao equinócio de primavera, o Sol colhe a escuridão uma vez mais – e os dias se tornarão mais longos e mais quentes continuamente até que o Sol começa a minguar mais uma vez. O Rito de Abramelin, então, começa no religiosamente equinócio primaveril importante, quando o Sol leva o Trono do Céu e começa a aumentar em poder. Vai até um fim quando o Sol é morto – e até tudo termina com um funeral Solar.

Note-se também, as observâncias diárias no Oratório são baseadas no curso diário do Sol do Oriente para o Ocidente – amanhecer, meio-dia, e crepúsculo. Neste mesmo caminho, poderia mencionar as permutações dos quatro Espíritos Familiares novamente – como eles são baseados nas quatro “estações diárias” do Sol ao redor do horóscopo. A Lâmpada é um símbolo solar – a incorporação do Sol Invisível do Espírito. Até mesmo são atribuídos os ingredientes para o Incenso Santo com correspondências Solares. Dormir durante o dia, e também operar magia à noite, são proibidos a menos que absolutamente necessários – como se fosse necessário ter a Luz do Sol presente para trabalhar a magia. (Na seção dele no cronômetro mágico, insiste Abraham, que um planeta só tem poder quando está acima do horizonte.)

O Santo Anjo Guardião foi tradicionalmente associado com a imagem Solar[6]. O Anjo é o representante direto de Deus na vida do aspirante, da mesma maneira que o Sol é o representante de Deus entre os Planetas. (Por exemplo, a Lâmina do Sol no Tarô [Arc. XIX] pode ser interpretada como o Anjo da guarda que assiste em cima do custo jovem dele.) Também, note como há doze Príncipes de Inferno listados neste texto, com um Anjo os governar – como se em reflexão dos doze Sinais do Zodíaco e o Sol que os governam. (Isto solar-zodiacal imagem é comum – como as 12 Tribos de Israel e Levi, os 12 Apóstolos e Jesus, etc. Esta é a base para associações modernas entre o número 13 e o oculto.)

O mito fundamental contido no livro de Abramelin é semelhante ao da Goetia e de outros grimórios medievais. É dito que os espíritos infernais são o elenco de Anjos na terra depois que a rebelião frustrada de Lúcifer. Como parte do castigo pelo assalto ao Trono de Deus, eles foram destinados viver entre e servir a vontade humana. (Há exemplos em xamanismo Oriental e Ocidental, de auxiliar espíritos que são obrigados a servir por karma negativo e erros do passado.) Por causa dessa servidão forçada, diz o Abraham, estes demônios ameaçam os humanos em todas as oportunidades. Porém, eles podem ser controlados por homens santos. Para realizar isto, a pessoa poderia ser ordenada pela Igreja como um Exorcista. Ou, com Abramelin, a pessoa poderia invocar o Santo Anjo Guardião a fim de comandar espíritos menores.

Claro que, a história da rebelião de Lúcifer no céu é principalmente Cristã. Há paralelos com isso na lenda judia e árabe, mas estes provavelmente ocorreram devido à influência da versão da história Cristã. Além disto, na versão judia, os Anjos rebeldes não se tornaram demônios quando lançados para Terra. Eles podem ter sido castigados por Deus, e decidiram fazer coisas cheios de ira, mas permaneceram Anjos firmemente a serviço de Deus. Demônios judeus, por outro lado, são criaturas elementais como qualquer outra – nem todo melhor ou pior que um tigre ou lobo. (Na maior parte, eles representam espíritos comuns da Natureza. Eles são chamados Jinn em árabe.)

Abramelin ainda descreve os espíritos como Anjos caídos e como demônios humildes a serviço do Homem. Enquanto eles são obviamente espíritos dúbios, naturais e infernais – alguns deles bons e alguns ruins – o texto os trata tudo como se eles fossem infernais. Isto é claramente influência Cristã. Como é comum em tais grimórios clássicos, uma filosofia de lógica xamânica foi vestida por cima de um dogma Cristão. Isso cria contradições básicas que simplesmente devem ser ignoradas. Neste caso, significa que Lúcifer, Satanás, Leviatã, e Belial regem todos os espíritos elementais e infernais – o amigável e o prejudicial. (Isto os faz mais neutros ao serem operados, enquanto o texto insiste que eles são maus). Alguém que tornou-se santo ganhando o Conhecimento e a Conversação do Santo Anjo Guardião desfrutará a autoridade de comando sobre todos eles.

Finalmente, enquanto nós ainda estivermos no assunto dos segredos atrás da Operação, quero aproveitar a oportunidade para estourar o mito de Abramelin mais comum:

 

A Operação de Abramelin não pode ser executada no mundo moderno de hoje!

Certamente, tal feito teria sido possível para um médico afortunado e um conselheiro político na Europa medieval. Abraham, o judeu, poderia tirar umas férias estendidas do trabalho, poderia alugar uma casa num local afastado do país, e poderia executar seu próprio retiro espiritual. Porém, uma vez que não podemos nos afastar do trabalho e podemos alugar um local para viver como um monge durante seis meses, aquelas regras de Abramelin são uma opção. Isto deixa o texto pouco mais que uma curiosidade histórica.

Poucas pessoas sabem disto, mas Abraham, o judeu se dirige a este conflito no Livro de Abramelin:

Quanto ao regime de vida e ações, deveis atentar para vosso status e condição. Se vós sois vosso próprio senhor, tanto quanto estiver em vosso poder, libertai-vos de todos os negócios… Busque retirar-se então até onde for possível… (Livro II, Ch. 7, p.67)

Muito embora o melhor conselho que posso dar é que um homem deveria se retirar para um deserto ou um lugar ermo, até que o tempo de seis Luas destinado a esta operação fosse completado… agora isso é dificilmente possível; e deveis acomodar-vos à era (em que vivemos); e não podendo fazer de um modo, devemos tentar de outro; e atêrmo-nos apenas às coisas Divinas. (Livro II, Ch. 10, p.72)

É o que está lá. Abraham, o judeu, nos assegura que está nos dando a Operação em sua “melhor versão”, mas que deve ser adotada “de acordo com seu status e condição”, isto é, deve ser adaptada. Se você não é seu próprio Mestre (i.e. – auto-suficiente), continue trabalhando, então, é claro! Mas irá simplesmente trabalhar em casa durante seis meses.

O fato é que o processo de Abramelin não é tão sem igual na espiritualidade Ocidental. Na realidade, representa um sistema de iniciação que foi conhecido em quase toda cultura ao redor do mundo – de práticas de Xamânicas antigas até as Fés de Templo mais elaboradas. Da mesma maneira que Abraham sugere relativo a Abramelin, a iniciação sempre se adaptou ao tempo e colocou em qual  momento deve ser executada. Por exemplo, para este mesmo dia, a fé afro-cubana de conservas de Santeria uma iniciação chamada”Oxá” – durante qual o iniciado é diretamente hipotecado com os Deuses Protetores (Orixás). Abramelin guarda algumas semelhanças notáveis com este Rito de Oxá, como também às muitas outras “versões” desta cerimônia unindo o humano ao celestial ao redor do mundo. Centenas de homens e mulheres sofrem Oxá todos os anos, e sua complexidade, comprimento e despesa (!) longe de exceder em valor qualquer coisa que um aspirante de Abramelin tem que dispender.

 

O Anjo Guardião, De Protetor de Deus à Gênio

Há menções de “Espíritos Guardiões” na história escrita desde a antiga Babilônia. Há selos reais Sumerianos que descrevem os reis nos braços seguros dos Deuses protetores. Na realidade, é provavelmente na Mesopotâmia que nossos conceitos modernos sobre os Sagrados Anjos Guardiões nasceram. Porém, o Espírito Guardião não é sem igual em Meio às civilizações agrícolas Orientais. Na realidade, uma exploração global de culturas xamânicas tribais revela que a idéia do Espírito Guardião pode ser uma das idéias religiosas mais antigas do planeta.

Em “Xamanismo, Técnicas Arcaicas de Êxtase”, o Professor Elíade sugere que todas as categorias de Xamãs possuem os espíritos auxiliares (familiar) e tutelares (o guardião). Os espíritos auxiliares são criaturas normalmente elementais, ao comando direto do Xamã. Por outro lado, os Guardiões tendem a ser espíritos celestiais, e muito freqüentemente os Mensageiros do Pai Celestial.

Em alguns casos, estes espíritos tutelares são vistos como femininos (ou masculinos no caso de Xamãs femininos) – e o Xamã se casa literalmente com este espírito durante a sua iniciação. Posteriormente, é pelo seu novo cônjuge celestial que o Xamã operará os milagres para o resto da tribo. Ela – e não outro Xamã – lhe ensinará os segredos de magia e cura, e Ela lhe proporcionará espíritos familiares. (Uma dinâmica que não mudou no Livro de Abramelin.)

Não é esta entidade só um companheiro e professor para o Xamã, mas também um protetor. È por causa do Guardião que o Xamã é lançado e provado, e porque os seus ofícios têm êxito. Quando o Xamã ascender os céus durante os transes extáticos, é o Guardião dele ou Esposa Espiritual que o levará no alto e mostrará a ele o redor. E mais importante, é Ela que reivindicará a alma dele na hora do seu transcurso, para levar sua casa às estrelas. Por estas razões, é imperativo para desenvolver uma real relação de funcionamento com o Guardião,  seguir as instruções de estilo de vida ditadas por ele.

Isso nos traz de volta, a título de exemplo, ao assunto da cerimônia de Oxá da Santeria – pela qual um Sacerdote de Santo aspirador é hipotecado com o Orixá dele. Oxá é uma justa representação de iniciações Xamânicas antigas. Consiste numa cerimônia de sete dias envolvendo a consagração do novo sacerdote e tendo o Orixá “colocado[7] na sua cabeça”. Este conceito posterior é muito significativo. Elíade menciona isto em relação a espíritos auxiliares – onde o Xamã recebe um “espírito de cabeça” cuja função é protege-lo durante viagens de êxtase. (Nisto nós podemos ver uma relação entre o “espírito de cabeça” e a inteligência humana – especialmente as faculdades relacionadas à sonhos, visão, e criatividade).

Acredita-se que o Orixá entra no crânio do aspirante literalmente durante o Oxá, – um matrimônio físico que faz o celestial e o ser humano unos. (O aspirante tem que raspar até mesmo a cabeça para sofrer o processo – de forma que o cabelo não impeça a entrada do Orixá.) Posteriormente, exausto do Rito, o Orixá entra numa fase de hibernação. Durante um ano inteiro, o aspirante tem que usar branco e nunca deverá se aventurar fora na escuridão. Ele tem que viver uma vida monástica, de pureza até, depois que este ano se complete, são feitos sacrifícios completos, adicionais e cerimônias para despertar o Orixá e estabelecer o novo Santo.

Compare isto ao Rito de Abramelin descrito acima – que simplesmente coloca o período de purificação antes da cerimônia de sete dias. Na versão de Mathers, o aspirante tem somente que suportar seis meses de tal isolamento e trabalho ritual. Ainda, no original alemão parece se preservar um ano pleno e um meio ano – fazendo isto até mais próximo em espírito com o processo de Oxá de um ano. Nem sequer o aspecto de pôr o Guardião à cabeça não está perdido no Abramelin – porque o aspirante, durante a “convocação dos espíritos bons”, deve se deitar com a cabeça ao pé do Altar durante um período muito longo de tempo. Este Altar é onde a Presença do Anjo foi extraída nos meses anteriores, e a postura de morte-ritual levada neste momento, sugere que o Anjo está passando à cabeça/intelecto do aspirante.

Voltando à Era Agrícola e o Oriente-Médio, nós vemos uma evolução adicional da idéia de Espírito Guardião. Enquanto o Xamã tribal era exclusivo na sua habilidade para casar com Anjos Celestiais, o Sumerianos antigos (e possivelmente os egípcios) desenvolveram a idéia que todo o mundo tem um Protetor pessoal que pode ser atraído em tempos de necessidade. (Isto é provavelmente devido ao avanço da astrologia – que dá a cada um seu mapa natal, e suas próprias Divindades regentes.)

Chris Bennet tem uma boa argumentação do Deus Pessoal na composição intitulada “Quando Fumaça Entrar no Meu eu” (e várias outras composições próximas relacionadas). Ele descreve o Protetor como um tipo de personificação do intelecto de uma pessoa – ou a capacidade de pensar e agir. Especificamente, ele supõe aquele contato primordial do gênero humano com a Divindade veio por drogas psicoativas que enlaçaram nossas faculdades de pensamento mais elevadas. (Consciência, intelecto, imaginação). Realmente é muito comum para os visionários e os psiconautas – usando substâncias químicas criadas em laboratório modernos – para estabelecer contatos com entidades aparentemente objetivas durante suas viagens. Freqüentemente estas entidades se introduzem como os protetores e auxiliares, ou pelo menos os seres com algum interesse no bem-estar da humanidade.

É duvidoso que os Xamãs tribais ou os Sumerianos antigos tenham visto as Deidades Protetoras como “personificações” de qualquer coisa excluídas as forças cruas da natureza. E mais. A idéia começou a formular nas mentes de filósofos gregos posteriores como Platão. Em “A República”, Platão relaciona de forma bastante detalhada da função servida pela Deidade:

 

Ao se preparar para a reencarnação, cada alma deve aproximar-se da Rosa Giratória da Deusa do Destino (Lachesis, Clotho e Atropos). Na visão de Platão, a Roda de Destino é composta do Zodíaco como sua roda exterior, e as Esferas Planetárias como seus raios internos. Então, os Destinos que giram, médem, e corte as linhas da vida nesta Roda estão diretamente preocupadas com as influências das estrelas em cada indivíduo. Em primeiro lugar, a alma tem que chegar a Lachesis que dará a ele uma Deidade Pessoal escolhida para ser seu guia e protetor durante a próxima vida. Esta Deidade, então, conduzirá a alma a Clotho (Zodíaco) e Atropos (Planetas) – que estabelecerão cada um o destino do indivíduo. Durante a encarnação física da alma, a Deidade está calada e invisível na maioria dos humanos. Porém, um seleto grupo de poucos (como Sócrates) possuiu a habilidade para comungar e conversar com sua própria Deidade pessoal.

Claro que, Platão quis dizer tudo isto alegoricamente. Ele recorre à Deidade Pessoal como o “Daemon” que também poderia ser traduzido por “Inteligência” ou “Gênio”. Todos estes são condições que indicam a consciência humana – algo que preocupou homens como Platão e Plotinus. Como nós vimos acima, estes homens viram o Gênio como diretor e manifestador das forças astrológicas do horóscopo natal da pessoa. O horóscopo, em troca, foi visto como um indicador do destino e da personalidade do indivíduo. Assim, o Gênio era a incorporação deste destino e personalidade – o Destino da pessoa.

Pelo tempo nós alcançamos o Neoplatonismo da era medieval, e textos Herméticos como os Três Livros de Filosofia Oculta de Agrippa, nós começamos a ver um conceito altamente refinado do Gênio Guardião. Agrippa entra em detalhes no conceito no Livro III, capítulos 20-22. Ele descreve o Gênio como nós vimos na República de Platão, e recorre a isto como o “Espírito da Natividade”. Ele “desce” da disposição do mundo, e dos circuitos das estrelas que eram poderosos na natividade da pessoa. Agrippa discute a seguir a necessidade de procurar o Gênio da pessoa pela astrologia, e fazendo todo o possível para fazer a vida da pessoa consoante com sua natureza. Ele dá instruções detalhadas até mesmo para achar o nome deste Anjo usando o próprio mapa natal da pessoa.

Porém, Agrippa também escolheu apresentar uma entidade mais elaborada que a descrita por Platão. Mantendo o simbolismo tríplice usado ao longo dos Três Livros, ele postula que há Guardião Tríplice do Homem”. O Gênio da Natividade é somente um dos três Anjos nomeados para guiar e regular a vida de todos os humanos. O Anjo da Natividade é o guardião secundário, seguido pelo “Anjo da Profissão”. Este Anjo posterior muda cada vez que você muda de profissão. A carreira da pessoa avançará se o Anjo da Profissão está em concordância com o Gênio, e tropeçará se o Anjo da Profissão estiver em conflito com o Gênio.

Porém, Agrippa leva uma vantagem em tudo isso ao descrever o primeiro (e presumivelmente mais elevado), o Guardião da Alma:

O Santo Daemon é único, de acordo com a doutrina dos egípcios, nomeado à alma racional, não das estrelas ou planetas, mas de uma causa sobrenatural, do próprio Deus, o presidente dos Daemons, sendo universal, acima da natureza.

O restante da descrição do Santo Daemon ajusta bem o bastante com as idéias de Platão. Dirige e guia a vida da alma, e freqüentemente segue inadvertido pelo humano que protege. Pode ser contatado por purificação e vida monástica (me lembra aqui os seis meses descritos no Abramelin). Sócrates é mencionado até mesmo como um exemplo de alguém que realizou tal feito.

O ponto principal de Agrippa vem da sugestão que o Santo Daemon não é definido pelas estrelas e planetas, mas é realmente acima da natureza (significando sobre a esfera zodiacal) – diretamente com Deus. Também é interessante salientar que Agrippa reivindica uma origem egípcia para o seu conceito de Santo Daemon, enquanto o Gênio baseado-em-horóscopo habitualmente se localiza entre Grécia antiga e a Babilônia. Seria uma indicação de que a idéia inteira é forjada?

A reivindicação de Agrippa de uma origem egípcia para o Santo Daemon se mostra verdadeira. Porém, nossa exploração não nos leva de volta aos Pais de Osíris e os construtores de Pirâmides dos Faraós. Ao invés disso, nos puxa para o Egito em sua Helenização pelo Império grego, sob a administração de Ptolomeu e seus descendentes. E é aqui que encontramos aquele idioma curioso conhecido como “cóptico” – que simplesmente é uma mesclagem da língua egípcia falada com os caracteres escritos do alfabeto grego. É aqui que nós encontramos o famoso “Papiro Mágico Grego” – que formou a base do que seria chamado de Magia Gnóstica depois.

 

Influência Gnóstica No Santo Anjo Guardião

Os ensinamentos de misticismo Gnósticos eram resultado do encontro de culturas no Egito helenístico. Os mistérios egípcios antigos conheceram as filosofias (Pitagóricas, Platônicas) e mitologias Pagãs dos gregos, junto com a religião mística dos judeus Essênios acampados naquela parte do mundo. Ao mesmo tempo, um espectro inteiro de filosofias e religiões estava emergindo em lugares como a Alexandria – como Zoroastrianismo, Estoicismo, Neoplatonismo e Hermetismo. Uma vez a administração do Egito trocou eventualmente dos gregos para os romanos, nós tivemos a matriz cultural que conduziram finalmente às primeiras formas de Cristianismo (como Cristianismo cóptico e Gnosticismo).

Os Gnósticos, entretanto Biblicamente orientados, desenvolveram uma visão muito sem igual do universo e interpretação das escrituras Bíblicas. E isto provavelmente foi muito para sua visão separatista sobre a cultura mística sem igual que os cercaram. Para eles, o Deus adorado pelos judeus era um ser cego e ignorante – um Deus menor que posa como o mais Alto. Os Anjos, como também os Deuses adorados em fés Pagãs, eram nada além de Arcontes (isso é – os Governadores) encarregado pelo pretenso-deus a manter a Terra como uma prisão.

Fascina-me como as filosofias Gnósticas são semelhantes aos ensinamentos Orientais. Por exemplo, os Gnósticos acreditaram em reencarnação. Almas humanas – apanhadas pelos Arcontes – são forçadas a reencarnar em um ciclo infinito. Ainda, o ciclo não é mantido pelos Arcontes! Eles são apenas semeadores oportunistas de sofrimento da humanidade. O que de fato mantém a Roda girando é a paixão humana. É a alegria humana e o sofrimento que nos mantém atados aqui, e é somente pelo repouso que a liberdade é obtida. Repouso é um conceito Neoplatônico – e o que isso significava para os Gnósticos era que apenas uma mente livre dos tormentos das paixões pode ganhar liberdade da Roda e pode alcançar o Céu. (Compare isto às idéias Orientais de Samsara, Nirvana, e a clareza meditativa da mente que leva de um a outro.)

Antes deste ponto na história, a maioria das religiões aceitavam uma divisão trina do universo: o reino celestial acima (onde as estrelas, planetas e Deuses viviam), o reino infernal abaixo  (onde o falecido, Deuses do falecido, e várias classes de demônios viviam), e o reino natural intermediário (onde os humanos, animais, e espíritos da natureza viviam). Porém, os Gnósticos tinha classificado o reino celestial inteiro como a casa dos Arcontes e o pretenso-deus. A razão para isto será descoberta quando nós dermos uma olhada nas suas visões da astrologia.

Os Gnósticos eram firmemente anti-astrologia. Lembre-se que todas as religiões ao redor deles eram profundamente envolvidas em preocupações astrológicas. Na realidade, a maioria deles havia desenvolvido algum tipo de cultos religiosos que adoravam vários Planetas nas formas de Deidades. (O Deus judeu não se ajustava a essa conta, mas Ele reivindicava ser o líder e diretor das Deidades Planetárias.) Claro que, ao Gnósticos, estes eram todos Arcontes que só desejavam prolongar o sofrimento humano e aumentar o seu próprio poder em cima da humanidade. Pior de tudo era o horóscopo natal – aquela representação visual da relação dos Arcontes e a alma na hora de nascimento. Representava – de acordo com Platão – a mesma cadeia de Karma que liga uma alma à Roda do Destino. Era a meta singular dos Gnósticos para se livrar desta cadeia Kármica, e assim da Roda do Destino.

Por fim, esta filosofia aparece para deixar alguns buracos filosóficos para serem preenchidos. Se Deus realmente não for o mais Alto, então Quem é? Se a pessoa contornar o reino celestial rumo a “outro lugar”, então onde é este lugar? Os Gnósticos respondem de forma aparentemente simples na superfície: além dos planetas e as estrelas fixas são a Abundância (pleroma) – a Mente do Deus Altíssimo. A Abundância está sobre natureza porque é a fonte de natureza. É a casa das Eternidades – que são um tipo de Super-Arcanjo – junto com todas as matrizes azuis arquetípicas para as coisas que manifestariam nos reinos celestiais e físicos. Ao contrário, nos reinos mais baixos, entretanto, a Abundância descansa em Repouso perfeito. Nenhuma paixão pode existir lá. Por causa disto, os seres da Abundância têm pouco a nada a ver com o que acontece aqui na Terra.

Ainda, os Gnósticos acreditam, como um aspecto fundamental da sua fé, que ele mesmo era a Abundância. Os Gnósticos consideravam a maioria dos humanos como além da salvação da Roda do Destino, mas eles acreditavam que eram essencialmente diferentes. Os Gnósticos representavam uma minoria de elite humana em que cada um possuía uma faísca de Luz da Abundância. (A mitologia relativa à descida desta Luz do Pleroma para Terra é longa e complicada, é tratada a fundo em minha composição “Gnosticismo, História e Mitologia”.)

De acordo com alguns ensinamentos, toda alma Gnóstica (Faísca) aqui na Terra tem um duplo Angelical na Abundância. Este duplo é um tipo de Eternidade[8] menor, a quem pertence àquela faísca de Luz Divina. Usando o idioma da filosofia clássica, os Gnósticos consideravam a alma como um ser feminino. Era a Noiva prometida ao Anjo masculino acima, cada um esperando ansiosamente pela (re-)união. (Em termos modernos, nós reconheceríamos a alma como “o Ego” e o Duplo Angelical como o “Eu Superior”.)

Todos estes elementos vêm formar um tipo de drama místico. Os amantes separados, os capturadores hostis, e a indagação para achar um caminho para casa novamente. Ainda, há um jogador final neste drama – um jogador que relaciona-se diretamente a nossa própria exploração do Santo Anjo Guardião. Uma vez que Ele espera é a esperança dos amantes, o redentor dos captores, e a Luz Guia para casa. Ele é chamado Cristo.

O Cristo é uma figura fascinante. É a incorporação da consciência – ou Inteligência – do Deus Altíssimo. Enquanto sua casa estiver dentro da Abundância, não manifesta naturalmente  quaisquer das Eternidades. Ao invés disso, o Cristo surge (por nascer) da própria Fonte mais Elevada. Rege durante as Eternidades, e é creditado na realidade como ensinando-lhes a necessidade de Repouso. Até mesmo os “Egos Angelicais” mais Elevados no Pleroma são crianças do Cristo e a Eternidade chamada Sabedoria (Sophia).

Porém, mais importante, o Cristo é o Redentor. É seu trabalho viajar nos reinos criados imperfeitos, despertando a alma e fazendo-a lembrar de sua casa, e finalmente conduzir a alma à sua reunião no Céu. Então, o Cristo só desfruta a habilidade especial para cruzar a Grande Barreira à vontade entre a Abundância e o mundo criado dos Arcontes.

Esta idéia não era certamente nada nova – especialmente para os egípcios. Até mesmo as religiões xamânicas mais primevas reconheceram os ciclos dos Planetas e Estrelas como se eles passassem acima e abaixo do horizonte. Para a mente antiga, estes eram os Deuses que movem entre o reino celestial e o mundo dos criminosos. Nenhuma coisa viva na Terra – com a exceção notável do Xamã – possuidor o poder para vir e ir à vontade entre vida e morte. Especialmente, o Sol era notável por suas viagens diárias no mundo dos criminosos – onde se supunha que Ele arbitrava entre os mortos durante a noite tanto quanto Ele arbitrava entre os vivos enquanto estava no céu. Nós achamos padrões semelhantes na Suméria, Babilônia, e Egito.

Vindo do Egito, não é nenhuma surpresa que algum simbolismo de Osíris achou seu caminho na concepção Gnóstica do Cristo. Osíris, Faraó dos Deuses, foi adorado como morrendo e erguendo-se como uma Deidade Solar. Sua mitologia sagrada reflete o crescimento e o decréscimo do Sol ao longo do ano. Então, era a sua habilidade de mover-se entre, e reinar sobre, ambos os reinos celestiais e infernais que fizeram dele alguém interessante para os Gnósticos. O seu nome é invocado freqüentemente no Papiro Mágico Grego, e Ele é relacionado fortemente ao Cristo.

Ainda que se tenha adotado o simbolismo Solar, é importante lembrar que o Cristo Gnóstico não seja comparado com o Sol. Totalmente o contrário, é o Sol – em todo sua majestade e brilho – que é considerado como uma mera cópia imperfeita da Glória do Cristo. A Abundância é a verdadeira casa do Cristo, bem anterior a esfera divina do Sol e, na realidade, a toda natureza criada.

Bem! Tudo isso foi dito apenas pela simples referência que Agrippa faz para “os egípcios” no seu trabalho. Enquanto as escolas Gnósticas atuais tenham sido extintas na era medieval, muitos de seus conceitos fundamentais se mantiveram vivos no Cristianismo e em textos místicos judeus deste período. Assim, a influência de pensamento dos Gnósticos é aparente na descrição que Agrippa dá para o Duplo-Eterno “Santo Daemon”. É uma criatura santa de natureza superior (ao invés do Gênio), que fala conosco quando nos achamos em Repouso, e nos conduz mais próximo à perfeição espiritual.

O simbolismo de Cristo/CRISTO permanece aparente e forte como bem no Santo Anjo Guardião de Abramelin. Como Agrippa, Abraham, o judeu, insiste que o Repouso é de importância suprema se a pessoa deseja ouvir e falar com o Anjo Guardião. A função do Anjo também é a mesma – conduzir a pessoa à perfeição sagrada. Mais, Abramelin utiliza a imagem Solar que nós sabemos desce dos  mistérios Osirianos e Cristãos.

Porém, a posição dos Gnósticos contra a astrologia é preservada no Livro de Abramelin. Enquanto as conexões históricas diretas entre literatura dos Gnósticos e este manuscrito é desconhecida, as atitudes relacionadas à astrologia dadas na primeira parte de Livro II, Cap. 6 (Relativo às Horas Planetárias e Outros Erros dos Astrólogos) são um retrato escandalosamente preciso dos conceitos Gnósticos:

É fato que os Doutos em Astrologia escrevem dos astros e seus movimentos e que realmente produzem efeitos diversos em coisas inferiores e elementais; e são, como já dissemos, operações naturais dos Elementos; mas que tenham poder sobre os Espíritos, ou força em tudo o que é sobrenatural, não pode ser, nem nunca será.

Mas ao invés, achar-se-á que pela permissão do Grande Deus, são os Espíritos que regem o firmamento. Que insanidade é essa então de implorar o favor do Sol, da Lua e das estrelas, quando o objetivo deveria ser conversar com os Anjos e Espíritos?

Isto indica que – como o Cristo – é duvidoso pretender que o Anjo Guardião se compare com o Sol, nem resida dentro da Esfera Solar.

Há mais influências Gnósticas ao longo do Abramelin. Por exemplo, o texto fala de ganhar “Conhecimento” (gnosis) do Anjo como também a Conversação – insinuando um matrimônio espiritual entre o aspirante e o Anjo Guardião em lugar de uma cerimônia de simples evocação. Podem até mesmo serem encontrados aspectos do procedimento de magia usados durante os sete dias no Papiro Mágico grego – embora este é sem dúvidas um grimório. Infelizmente, o curto espaço me proíbe de explorar este assunto mais extensamente.

Antes de irmos além neste assunto, eu gostaria de chamar sua atenção à uma pedra preciosa filosófica escondida na descrição de Agrippa do Anjo Guardião. O capítulo sobre o tema em seu livro Filosofia Oculta (Livro III, Ch. 22) é intitulado “Que há Guardião Tríplice do Homem…” O texto procede, como vimos nós, a descrever o três Daemons Angelicais como entidades separadas. Ainda, eu acho isto interessante que o título do capítulo não faz nenhuma referência para os “… Três Guardiões do Homem.” Ao invés disso, nós temos o que parece ser uma referência para um único – contudo tríplice – entidade. A fidelidade de Agrippa dada ao simbolismo da Santíssima Trindade ao longo dos Três Livros, parece ser uma interpretação provável da intenção de Agrippa. De repente, nosso Três Daemons se tornam três faces diferentes de um único Santo Anjo Guardião.

 

O Santo Anjo Guardião Hermético

Como nos aproximamos do fim desta composição, quero apresentar uma análise Qabalística breve do Santo Anjo Guardião. Se você previamente leu sobre o SANTO ANJO GUARDIÃO, provavelmente leu algo influenciado pela Aurora Dourada ou pelas filosofias Thelêmicas – ambas fazem uso pesado do idioma da Qabalah Hermética para explicar a natureza e a função do Anjo. Farei o mesmo aqui, entretanto estará à luz das filosofias sobre as quais discutimos.

A Qabalah é uma forma Judaica de misticismo que adotou muito das várias escolas de Gnosticismo. Por exemplo, a Abundância foi adotada e chamada Olam haAtziluth (o Mundo dos Arquétipos); as Eternidades se tornaram o Sephiroth (do livro Sepher Yetzirah); e o Deus Altíssimo eles chamaram Ain (Nada) ou Ain Soph (Luz Ilimitada). Porém, os Arcontes permanecem ausentes da Qabalah. Ao invés disso, o Deus Criador do Gênese é o Deus Altíssimo que age como Criador. Os anfitriões Angelicais, enquanto são acusados certamente de manter a realidade física, geralmente não são considerados diretores da prisão que alimentam-se do sofrimento humano.

Na época da Qabalah da Hermética da Aurora Dourada e de Thelema, tudo isto foi traçado no padrão (“Kircher”) da Árvore de Vida. As Esferas Supernas da Árvore representaram a Abundância de Atziluth, seguida pelas Esferas Planetárias regidas pelos coros Angelicais, e terminando finalmente no Reino físico de Malkuth.

A alma humana também foi aplicada ao padrão Árvore da Vida (onde aquilo que está abaixo reflete o que está acima). As Esferas Supernas representam o Eu Superior (ou Neschamah) de um indivíduo, enquanto as Esferas Planetárias representam a alma racional coletiva – O Inconsciente Coletivo – (ou Ruach).

O Hermetismo moderno normalmente interpreta o Santo Anjo Guardião como o Eu Superior. Muitas cerimônias tentam estabelecer a conversação com o Anjo Guardião sendo preparadas como invocações Qabalísticas às Supernas. Pela abertura das Esferas Supernas dentro da própria aura, lança abre-se uma linha de comunicação entre a Neschamah e Ruach – permitindo ao Eu Superior comunicar-se com o Ego. Porque realmente é a função do Santo Anjo Guardião transmitir a Verdadeira Vontade do Altíssimo à alma racional, este fórmula do “Santo Anjo Guardião como Supernas” opera num sentido prático.

Porém, baseado no que nós aprendemos previamente, sabemos que o Eu Superior – ou Duplo Angelical – sempre reside na Abundância e em Repouso perfeito. Até mesmo a Qabalah preserva isto – porque as Supernas (Neschemah) não cruza a Grande Barreira para entrar nas Esferas mais baixas da Árvore. Enquanto isso, o aspirante espiritual possui uma Fagulha Divina que pertence ao Eu Superior, e os dois anseiam a reunificação de um com o outro.

Enquanto isso é da mesma maneira que comum ver o Santo Anjo Guardião associado com a Esfera Solar da Árvore – chamada Tiphareth (a Majestade). Aqui uma vez mais vemos a relação comum assumida entre o Anjo Guardião e o Sol. Até mesmo o Ritual de Abramelin, especialmente com seu drama ritual de morte e renascimento, poderia ser classificado como uma cerimônia de iniciação de Tiphareth. Rituais herméticos para o Santo Anjo Guardião focalizam-se freqüentemente em Tiphareth, porque este é o coração da Ruach e a observação específica onde contato é feito entre o Eu Superior e a alma racional. Desta perspectiva, o Santo Anjo Guardião pode parecer “viver” em Tiphareth. Sendo mais específico, porém, a Esfera Solar é somente onde há um primeiro encontro com o Santo Anjo Guardião. Tiphareth representa dentro da Qabalah o meio do caminho entre o vulgar e o espiritual, onde o Homem e a Divindade se encontram como um. É somente uma estação numa viagem mais longa.

Como podemos ver, o conceito do Santo Anjo Guardião tende a ser um pouco escorregadio na filosofia Hermética. Nossos antecessores como Crowley e Mathers tenderam a saltar de um extremo para o outro ao discutir o assunto. Num lugar, o Guardião é descrito como uma metáfora para o Eu Superior[9], e em outro o autor insiste que o Santo Anjo Guardião seja uma Inteligência objetiva. Às vezes não há nenhuma distinção feita entre o Gênio e o Santo Anjo Guardião. Outras vezes o conceito de Anjo Guardião inteiro é deixado na esfera de Tiphareth e esquecido quase completamente.

Nada disto é auxiliado pelo fato que nenhuma literatura já tenha definitivamente estabelecido a associação do Guardião em qualquer Ordem Angelical. A referência mais próxima que nós temos aos “Anjos Guardiões” (como no Abramelin) ou outras conclusões que o Santo Anjo Guardião formam uma Ordem própria. Também parece que Platão e Agrippa indicam a mesma coisa – como se os Anjos Guardiões são mantidos em espera aguardando serem atribuídos às almas humanas. Adicione a isto a relação especial do Guardião com a força do Cristo, e nós somos deixados com uma entidade que verdadeiramente está fora das hierarquias da natureza. Ele não está sob a autoridade de nenhum Arcanjo – respondendo única e presumivelmente a Deus. Na realidade, ele é uma manifestação direta da Divina Fagulha dentro de cada um de nós – a Shekinah (Presença de Deus).

O Santo Anjo Guardião é uma criatura dinâmica. Ele é o Redentor que viaja livremente entre Céu e a Terra para guiar a alma para o lugar “que esteve preparado”. Ele é o Mensageiro que agüenta as notícias da Verdadeira Vontade da Neschamah para a Ruach, e nossas orações do coração para a Abundância das Supernas.



[1]Quer dizer: Ele possui toda a minha autoridade. – (N. Frater Goya)

[2]O Fama Fraternitatis é o primeiro dos manuscritos rosacruzes surgidos no início do século XVII na França. – (N. Frater Goya)

[3]Na verdade, um período de seis luas, ou seja, 6 vezes 28 dias. – (N. Frater Goya)

[4]Na verdade, terceiro e quarto mês. – (Nota de Frater Goya).

[5]Isto é, o quinto e o sexto mês. – (Nota de Frater Goya)

[6]Segundo a estrutura da A:.A:. (Astrum Argentum) a visão do SAG pode ocorrer ainda em Malkuth, a última das Sefiroth, associada à Terra, mas a conversação com o SAG só ocorrerá em Tiphareth, a sexta Sefira, associada ao Sol. Sobre isso ver meu pequeno ensaio sobre Dúvidas sobre o Sagrado Anjo Guardião. – (Nota de Frater Goya).

[7]Na umbanda brasileira, o termo mais adequado seria “fazer cabeça pro santo” ou “ter cabeça feita”. – (Nota de Frater Goya).

[8]Aeon, ou Era, no original . – (Nota de Frater Goya).

[9]Com relação a Eu Superior e SAG, ver meu texto intitulado Em busca do Sagrado Anjo Guardião. – (Nota de Frater Goya).

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