Da Relação Hebraico/Enochiano

Por: Frater Goya

Embora a Golden Dawn (GD) como fonte do nosso material, utilize o enochiano em paralelo, com astrologia, Qabalah, e outras conversões às vezes forçadas, é preciso levar em conta que a GD foi fundada por maçons que estudavam a Qabalah e a magia clássica buscando uma melhoria no sistema mágico convencional da época, definido por nomes como Levi, Papus, e Francis Barret, que eram excessivamente supersticiosos ao extremo. Toda a magia destes últimos era baseada nos grimórios, como as Clavículas de Salomão, o Armadel e outros, sendo baseada em olho de gato preto arrancado sob o corpo dependurado de um enforcado, ou a mão de um parricida para adivinhações, ou entranhas de pombo para ver o futuro. E a GD foi o ponto de virada para essa situação, pois em toda sua estrutura, embora ainda fortemente influenciada pelos autores da época, foi a primeira organização que baniu as práticas de sacrifício e as supersticiosas da prática mágica, e tentou trazer uma prática pagã para a magia, sem o uso de expressões típicas do cristianismo, limitando sua influência à Qabalah.

Isso teve um revés, no entanto, quando a ordem se desfez em 1902, no julgamento da Madame Hórus, e a ordem posteriormente renasceu como Stella Matutina pelas mãos do Artur Eduard Waite, que era um cristão convicto, e que jurou banir da GD todo o paganismo pela glória de Nosso Senhor Jesus Cristo. O livro clássico conhecido de todos, o Golden Dawn System of Magic, publicado na década de 30 por Israel Regardie, traz no seu interior as práticas desenvolvidas na época do Waite. Quando anos mais tarde, foi contatado por uma loja independente da GD ainda existente na Austrália, Regardie tomou conhecimento que seu livro não continha o material original, mas sim a releitura de Waite. Então, através desse contato com Pat Zalewskii ele obteve cópias dos originais conforme eram distribuídos na época anterior a 1902. Regardie compila esses documentos e então lança no mercado o livro The Complete Golden Dawn System of Magic (hoje publicado pela Falcon Press), onde na introdução pede desculpas por ter publicado o livro anterior como se fosse o material original da GD, pois segundo ele, os obteve como sendo os originais na época de sua filiação.

É importante essa contextualização histórica para se compreender as influências que a GD teve para produzir e trabalhar com o enochiano da forma como conhecemos no CIH. A GD nas suas pesquisas, obteve acesso no Museu Britânico e no Ashmolian Museum ao material produzido por John Dee, o revelador do sistema original. O sistema enochiano é constituído de várias partes, a saber:

  • Liber Loagaeth. As Quatro Tábuas Elementais. Estes compreendem as quatro Torres de Vigia, ou Torres de Vigia, de Fogo, Ar, Água e Terra. Os nomes dos Governadores dos 30 Éteres são encontrados nas Tabelas.
  • Sigillum Dei Aemeth. O Selo Sagrado. – O Selo do Deus Verdadeiro.
  • Claves Angelicae, Quarenta e oito “Chaves” ou “Chamadas”, que são invocações em uma linguagem “Angélica”. Trintas destas são idênticas, exceto por uma única palavra.

O Livro da Sabedoria e Vitória Terrestre, contendo os nomes dos trinta “Éteres” – contrapartes espirituais de várias regiões terrestres – junto com os nomes e sigilos dos senhores de cada um dos Éteres e certa informação adicional relacionada a eles. Os nomes e os sigilos dos senhores são também derivados da Grande Tabela, mas de forma que dois deles não ocupem uma área da mesma figura, e na mesma sequência.

  • A Tabela de Nalvage. Esta é uma tabela circular com letras dispostas em linhas e colunas.
Tabela de Nalvage

A Heptarchia Mística, um complexo sistema de magia planetária que não parece estar diretamente relacionado às partes precedentes.ii

A GD rejeitou parte do sistema, talvez por falta de conhecimento pleno sobre o sistema, ou por falta de tempo, ou ainda porque o restante não era compatível com o sistema desenvolvido pela GD. De fato, não sabemos exatamente os motivos que os levaram a ignorar parte do sistema, como o Livro dos Espíritos e a Heptarchia Mística, mas o fato é que a GD adapta grande parte do sistema para incluir a qabalah, o tarot e a astrologia, como partes integrantes do sistema. Para maiores detalhes a esse respeito, sugiro o estudo do Godzilla Meets ET, de Benjamin Rowe, que explica em detalhes essas alterações.

Voltando ao tema da língua hebraica e de haver dentro do enochiano palavras que aparecem em várias outras línguas, como o egípcio, o grego, o hebraico ou nas línguas bárbaras, convém citar algumas observações feitas por Frater Ad Majorem Adonai Gloriam, na sua Introdução ao Sistema Enochianoiii da GD:

Permitam-me nesse ponto acrescentar um ou dois dados acerca da linguagem angélica na qual as invocações estão escritas. Os rituais da Ordem Externa dizem, quando se apresentam ao Candidato as Tábuas no Templo, que estão escritas “no que nossa tradição chama a Linguagem Angélica Secreta”. As Tábuas que são utilizadas nos Templos, assim como as que aqui se reproduzem, estão transliteradas em caracteres arábicos. Isto, sem dúvida, é somente uma transliteração dos caracteres correspondentes da linguagem Enochiana. Suas letras se encontrarão reproduzidas numa página posterior. Se diz que ditas letras não são apenas um caractere simples, senão que participam da natureza dos Sigilos. Na seção sobre Talismãs deve ter se notado que certos emblemas geomânticos e símbolos Astrológicos possuem referências a essas letras.

Qualquer que seja a origem desta Linguagem Angélica Secreta, o certo é que se trata de uma linguagem verdadeira. Tem, isto é bastante claro, uma sintaxe e uma gramática próprias, e as invocações na dita língua não meras sucessões de palavras, senão verdadeiras frases que podem ser traduzidas e não apenas transliteradas em línguas modernas. Por exemplo, considere-se a Invocação dos três Arcanjos que regem sobre a Tábua do Espírito e que se usa na abertura do Grau do Portal. Diz-se assim: “Ol Sonuf Vaorsagi Goho Iada Balata. Lexarph, Comanan, Tabitom. Zodakara, eka; Zodakare od Zodamran. Odo Kikle qaa, piape píaomoel od vaoan”. Que traduzido significa: “Eu reino sobre vós, diz o Deus da Justiça, Lexarph, Comanan, Tabitom, movei-os pois. Mostra-os e aparece. Declara-nos o mistério de vossa criação, no balanço da retidão e da verdade”.

S.L. MacGregor Mathers (um dos fundadores da Golden Dawn), escreve a respeito da pronúncia das palavras em enochiano: “Resumidamente, com relação à pronúncia da Linguagem Angélica, deve-se pronunciar as consoantes com a vogal seguinte na nomenclatura da mesma letra no alfabeto hebraico. Por exemplo, na letra hebraica Beth, a vogal subsequente de ‘B’ é ‘E’ pronunciando-se AY. Portanto, se o ‘B’ aparece em um nome angélico precede outra letra, como em ‘Sobha’ [cujo ou quem], pode-se pronunciá-lo como ‘Sobeh-hah’. O ‘G’ pode ser pronunciado tanto Gimel (Guimel no hebraico), como Jimel (como os árabes o fazem), resultando que seja forte ou fraca. Esse é o uso do egípcio antigo, sendo o hebraico apenas uma cópia, e muitas vezes uma cópia defeituosa, exceto nos Nomes Divinos e Místicos, e algumas outras coisas. Também o ‘Y’ e o ‘I’ são similares, e também o ‘V’ e o ‘U’ , dependendo se o uso pretende ser vogal ou consoante. ‘X’ tem o antigo poder do egípcio antigo da letra Samekh; mas existem alguns nomes hebraicos vulgares em que ‘X’ torna-se Tzaddi.”

William Wynn Westcott, outro dos fundadores da ordem, faz a seguinte nota em um dos seus rituais: “Ao pronunciar os nomes, tome cada letra separadamente. ‘M’ é pronunciado ‘Em’; ‘N’ é pronunciado ‘En’ (também ‘NU’, visto que em hebraico a vogal seguindo a letra equivalente Nun é ‘u’); ‘A’ é ‘Ah’; ‘P’ é ‘Peh’; ‘S’ é ‘Ess’; ‘D’ é ‘Deh’.

‘NRFM’ é pronunciado ‘En-Ra-Ef-Em ou Em-Ar-Ef-Em’. ‘ZIZA’ é pronunciado ‘Zod-ee-zod-ah’. ‘ADRE’ é ‘Ah-Deh-reh’ ou ‘Ah-deh-er-reh’. ‘TAASD’ é ‘Teh-ah-ah-ess-deh’. ‘AIAOAI’ é ‘Ah-ee-ah-oh-ah-ee’, ‘BDOPA’ é ‘Beh-deh-oh-peh-ah’. ‘BANAA’ é ‘Beh-ee-teh-oo-em’. ‘NANTA’ é ‘En-ah-en-tah’. ‘HCOMA’ é ‘Heh-co-em-ah’. ‘EXARP’ é ‘Eh-ex-ar-peh’.

Em uma lição marginal da Primeira Ordem, passada pelo M.H. Frater Sub Spe aos Zelatores recém iniciados, há uma nota sobre a linguagem e o sistema Enochiano que vale a pena citar:

Uma coisa mais nos é mostrada nesta primeira parte do Grau 1=10, e isso é a Grande Atalaia da Terra ou Tábua do Norte. De momento, o mais provável é que a todos aqui presentes, com exceção dos que tenham passado a Segunda Ordem, constituía um absoluto mar de mistério. Da aparência de uma curiosa disposição de quadrados e letras em diferentes cores, e quiçá alguém se pergunte por que há nela caracteres arábicos e não letras hebraicas, se é que se trata de algum dos símbolos mais antigos do mundo. Posso dizer-lhes, sem trair a nenhum conhecimento que esteja além de vós, que ditas letras estão convenientemente transliteradas. Não creio que haja ninguém presente, exceto eu mesmo, que possa ler na linguagem original na qual estão escritas. Mas posso dizer-lhes que isso constitui uma grande curiosidade desde o ponto de vista linguístico, porque a linguagem e os caracteres nos quais está escrita é uma linguagem perfeita que pode ser traduzida, e sem dúvida não há nenhuma testemunha, até onde eu sei, de que dita linguagem foi alguma vez falada, ou ditos caracteres utilizados por algum mortal. Posto que Müller e outros grandes filólogos afirmam que é impossível a um ser humano inventar uma linguagem, há aqui alguém que existiu desde um tempo tão remoto como somos capazes de registrar. Encontramos seus traços os mistérios sagrados e segredos de algumas das mais antigas religiões do mundo, mas não achamos traço algum de que tenha sido usada alguma vez como língua viva, e temos a tradição de que se trata de uma linguagem Angélica Secreta. Quiçá somente me permitam dar um exemplo disso. O sumo sacerdote de Júpiter nos mais remotos dias de Roma era chamado Flamen Dialis, já aqui os mais eruditos se declaram completamente ignorantes sobre de onde surgiu a palavra Dialis. Dirão que se trata de Etrusco antigo, mas nada mais. Não se trata do genitivo de nenhum nominativo conhecido. Mas na Tábua (da Terra) vereis que o segundo dos Três Santos Nomes Secretos de Deus é Dial”.

Ainda que não sou filólogo, nem tenho o menor conhecimento científico sobre línguas comparadas, encontrei que o estudo desta linguagem Angélica ou Enochiana é de um interesse absorvente. Após haver estudado as invocações com a intenção de compilar um dicionário das palavras existentes, me vi convencido pessoalmente de que temos as peças fragmentárias de uma língua muito antiga, uma língua que é muito mais velha inclusive que o Sânscrito. Em algum momento deve ter sido uma língua viva, ainda que isto tenho ocorrido há muitos milhares de anos, e pode então assumir-se que os fragmentos que temos estão escritos na linguagem mais antiga que conhecemos. De fato, ainda que como pura especulação, se pensa que a linguagem na qual estas invocações estão escritas é remanescente da língua dos antigos Atlantes. Em verdade é que, no momento, não há modo de provar essa especulação, ou de propor o menor ponto de corroboração que não seja uma convicção instintiva ou intuitiva. Na citação incluída anteriormente, Frater Sub Spe dá um exemplo de uma palavra Enochiana que aparece na antiguidade, e isto, para alguns, será sugestivo. Provavelmente há quantidades de palavras similares às do caso citado, e estas saltarão à luz quando se dê ao tema a atenção requerida.

Após haver escrito trecho acima, me ocorreu outro exemplo de uma palavra Enochiana. Lendo a tradução de Charles Johnson e o comentário teosófico dos grandes Upanishads da Índia, encontrei uma referência a certa personagem lendária, Uma Haimavati. O Kena Upanishad fala dela como a filha da Montanha Nevada, e é, segundo a interpretação do Sr. Johnson, um símbolo da Sabedoria Oculta personificada como a filha do Himalaia que revela o Eterno. E Charles Johnson continua assim, “o curioso do caso é que, enquanto o significado interno do nome desta radiante e imensa mulher se perdeu em Sânscrito, deve ter sido evidente na língua mais antiga que subjaz ao Sânscrito; porque permanece naquele grupo de línguas Árias mais jovens chamadas Eslavas. Nelas, a raiz UM é a palavra comum para designar a inteligência”.

As cursivas no comentário de Johnson são minhas. Este ponto deve ser enfatizado o bastante, porque o significado da dita palavra Um, não somente é mantido nas línguas Eslavas como indica o Sr. Johnson, senão também em Enochiano ou Linguagem Angélica. Por exemplo, na segunda Chave Enochiana, usada para invocar aos Anjos da Tábua do Espírito, assim como na Décima Sexta Chave, encontramos a palavra “OM” traduzida por “Entender”. (Permitam-me notar aqui novamente que a tradução das palavras das invocações Enochianas provém da mesma fonte oculta ou Angélica que as próprias invocações, e não foi feita nem por Dee nem por Kelly). Assim mesmo, na Décima Quinta Chave vemos que o que a versão em nossa língua traduz como “Ó tu… que sabes” se diz em Enochiano “Ils… ds omax”. E na Chamada dos Trinta e Três a palavra “Oma” é traduzida como “entendimento”. Há, assim, uma série de indicações que nos levam a crer que se houve uma linguagem “que subjaz ao Sânscrito”, tal como supõe o Sr. Johnson e por suposto muitos outros, o qual, segundo a filosofia da Sabedoria Antiga é a Língua dos Atlantes; então o Enochiano, ou língua Angélica, apresenta com ele diversos pontos de semelhança.”

É importante notar que não há um registro confiável de como Joh Dee e Edward Kelley pronunciavam a linguagem Enochian ou mesmo se o faziam em voz alta ou se apenas escaneavam as letras enochianas (o que também é uma possibilidade). O que se pode deduzir, se aceitamos que houve um contato real de Kelley com os ‘Anjos’ é que ele ouviu a pronúncia correta e tentou transmitir uma versão exata a Dee. No entanto, essas anotações acabam sendo de caráter provisório e casual, tornando-se pouco útil. mas podemos dizer com certeza que a pronúncia da GD era bastante falha.
Dada a época em que as anotações foram realizadas, estava em vigência o inglês elizabetano, e talvez algum estudioso atual especializado nesse período, conseguisse algum resultado mais próximo ao que era falado naquele período. A nós, restam aproximações menos exatas. Além disso, devemos sempre considerar que a proposta da língua enochiana era ser a língua falada pelos anjos e não pelos homens, então devemos sempre ter em conta, que mesmo Kelley talvez tenha ouvido apenas uma aproximação, pois a pergunta que importa é: temos condições de ouvir todas as frequências usadas nas vocalizações que por ventura os anjos tenham? Nosso ouvido será sensível o suficiente? Ou eles ofereceram a Kelley uma versão já adaptada ao ouvido humano? Logo, qualquer pessoa que busque oferecer a versão definitiva, a versão mais próxima, mais acertada, estará falando uma inverdade.
Nesse aspecto, enquanto estudioso e autor que fala sobre o sistema, fiz uma aposta justamente no entendimento de que não há hoje uma versão mais ou menos correta, e simplificando a pronúncia para o português do Brasil, adotamos os seguintes critérios gerais (para mais detalhes, veja o meu livro “Magia Enochiana”, disponível no Clube de Autores.) ‘DS’ será sempre pronunciado ‘Dies’. O ‘Z’, sempre será ‘Zod’, portanto em ‘Ziza’ será ‘Zodi-Zoda’. Nos demais casos, entendemos que não existe uma consoante muda em enochiano, portanto, quando não há uma vogal acompanhando a consoante, usamos o som natural da letra, isto é, para ‘M’, ‘Me’; para ‘P’ usamos ‘Pe’, e assim por diante (em português quase todas as consoantes tem o fonema ‘E’ quando soletradas. E quando existe vogal, lemos naturalmente como o fazemos em português, por exemplo:
Cla = CeLa; Bdopa=Bedopa; Bitom=Bitoem ou Bitomê, e assim por diante.

Explicado isso, continuaremos nossas observações acerca da GD, Rowe e em como trabalhamos o sistema de magia enochiana no CIH.

O que é importante dentro da proposta do CIH, é que o sistema enochiano conforme foi revelado pelos anjos a John Dee, simplesmente ignora as relações entre qabalah (e, portanto qualquer paralelo com o hebraico), tarot e astrologia, assim como ignora por completo qualquer influência cristã. No nosso material interno de Enochiano, pode-se encontrar referência a este fato, e nos diários de John Dee todas as vezes que ele tenta começar a conversa com o anjo citando Nossa Senhora, Jesus Cristo e outros personagens típicos do cristianismo, o anjo simplesmente ignora e corta o assunto.

Embora as tabelas tenham as Linhas do Deus Pai, Deus Filho e a Linha do Espírito Santo, necessariamente não estabelece talvez um paralelo com o Cristianismo em si, mas com um princípio trino, onde poderiam ser Linhas do Deus Pai, da Grande Mãe e do Filho, por exemplo, ou quaisquer outras relações trinas, conforme a conveniência. Mesmo John Dee teve dificuldade em acatar todas as instruções dadas pelos Anjos e fez adaptações conforme as entendia, e conforme pode ser lido no texto de Rowe.

Alterações na prática enochiana dentro do CIH e outras mudanças

A partir desse ponto, podemos estabelecer uma direção mais pertinente na prática enochiana atual e futura do CIH. De que forma? Em nossa Ordem, como somos filhos tardios do sistema da GD, inicialmente absorvemos integralmente o método. Mas depois, com a prática efetiva, percebemos que o sistema estava incompleto e até certo ponto incoerente e em 2005, preparamos nosso próprio material de magia enochiana, que mantém do sistema da GD, a técnica de Abertura das Torres Enochianas, que segue a estrutura ritual prevista no documento Z2, e contém nas suas falas, parte do texto dos Oráculos Caldeus de Zoroastroiv, confirmando a influência pagã da GD.

Além disso, à medida que os anos passam, novos materiais e novos diários de John Dee vão surgindo, o que auxilia na pesquisa da Magia Enochiana e não se pode esquecer também a contribuição obtida em rituais, como por exemplo a Mesa Enochiana que recebemos do Anjo Algr e o Banimento, entre outros que serão divulgados no tempo correto.

Podemos alterar esse Ritual da Golden Dawn? Sim. Em que momento? A partir do momento em que TODOS no Supremo Conselho tenham habilidades específicas do enochiano por sua própria experiência. Em minhas pesquisas e práticas sobre este tema, acredito que a melhor forma de trabalhar esse ritual de forma a substituí-lo é praticá-lo. E temos opções para fazer isso, pois todo o sistema enquanto consagração de armas, talismãs e práticas relativas ao Z2 usam a Abertura das Torres como ritual de base.

Quando pensamos em modificar um ritual devemos ter em mente alguns pontos como:

  • É um ritual individual ou de grupo? Se for individual, tenho uma linha específica de pesquisa, que pode resolver isso facilmente? Se for em grupo, quantas pessoas serão necessárias? Seguiremos o modelo egípcio ou o modelo GD? Nesse ponto, vale lembrar o compromisso assumido em 19-ago-2003 ante as instruções recebidas do Conselho convocado por Thoth.
  • Se o modelo for egípcio, existe também a necessidade de compreender melhor a ritualística egípcia, através do material já passado anteriormente, como os capítulos 125, 96, 144-147, etc. Esse material explica como deve ser a estrutura da viagem da alma pela 4 iniciações do CIH, e conforme descrito nos Codex 06 e 07, é um modelo de iniciação tradicional, que ocasionou toda a mudança de saída do padrão GD.
  • Serão mantidas as 4 armas no formato tradicional vitoriano, desenvolveremos armas egípcias, enochianas, ou um misto de ambas?
  • Dentro de toda a modificação, devemos manter um padrão como por exemplo, manter a estrutura conforme as tabelas ditadas por Rafael e corrigidas, e os atributos de suas regiões. Isso demanda tempo e prática para que se compreenda não apenas intelectualmente, mas também na prática sua utilização, para que o material futuro não apresente ‘furos’ como os encontrados na GD. Pelo menos não os mesmos furos, nem tão básicos.
  • No novo Manifesto que publicamos quando nos comprometemos com a fonte egípcia e sua egrégora, conforme o compromisso assumido de 19-ago-2003, trocamos de 10 para 4 graus, adotamos a guia do tarot, enochiano, etc, quebrando o vínculo específico com o sistema da GD, e criando a partir desse momento a nossa própria linhagem. Portanto, dentro desse compromisso, devemos nos afastar do modelo GD, Crowley e outros métodos vitorianos e nos aproximar mais da tradição.
  • Dentro dessa retomada da tradição, o material egípcio, enochiano e taoísta, são fontes mais que seguras para as quais podemos apelar. No momento, para preservar a consistência do presente documento, não falaremos das práticas taoístas que substituem os tattwas e a yoga no padrão GD, pois as mesmas serão tratadas em outro momento e em outro documento específico. Mas manteremos aqui a consistência entre o egípcio e o enochiano. Deixamos de fora o Tarot no caso, pois embora ele seja mantido como ferramenta de controle, ele está sofrendo alterações de acordo com as minhas experiências em relação ao mesmo, e portanto, também se remeterá às duas diretivas primeiras (egípcio/enochiano).

Para que não se fique apenas no modelo GD, uma grande sugestão é a prática do Livro Enochiano dos Espíritos, seguido do Comselha, e da Construção dos Templos Enochianos ou o Ritual do Apocalipse. No entanto, é meu dever informar que esses 3 últimos, são práticas para o Grau de Philosofus, pois em sua essência podem ser usados em substituição ao ritual de Abramelin. Portanto, não aconselho a prática durante o Grau de Artifex, pois sua prática sem estar devidamente preparado, apenas os levaria à confusão e à desilusão, pelo nível de dificuldade e exigência dos mesmos, que não deve em nada à prática de Abramelin. Já o Livro Enochiano dos Espíritos condiz com o grau de habilidade pessoal exigida em Artifex.

Atenciosamente,
Em L.L.L.L.,


Frater Goya

AUS

i Para saber mais sobre Pat Zalewski, veja http://en.wikipedia.org/wiki/Pat_Zalewski .

ii Rowe, Benjamin, em Godzilla encontra E.T., tradução de Frater Goya e Frater Amduscias, CIH, 2004.

iii Frater Ad Majorem Adonai Gloriam, Introdução ao Sistema Enochiano, The Golden Dawn System of Magic, Vol.4, tradução de Frater Goya, CIH, 2000.

iv Westcott, William Wynn, Coletânea Hermética, Madras Editora, São Paulo, 2003.

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